Nesta semana repercutiram várias falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas entre elas está a sugestão para que os políticos das esferas municipais utilizem os serviços públicos - como de escolas e atendimento médico, por exemplo, ao invés de utilizar a rede particular. O discurso foi proferido durante a entrega do Prêmio Selo Nacional de Compromisso com a Alfabetização. Na visão do presidente, o Brasil teria serviços melhores quando a classe média passasse a utilizar estes serviços, deixando assim de pagar por algo que já se paga por meio de impostos.
A fala foi recebida com "perplexidade" por parte da Federação Nacional de Escolas Particulares, que criticou o posicionamento do presidente e ressaltou que essas instituições exercem um papel fundamental no complemento da Educação oferecida pelo Estado, atendendo estudantes e famílias de várias realidades socioeconômicas. Também ressaltou os resultados obtidos em notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024. Acrescentou que a Educação não deve ser utilizada como instrumento de polarização política, mas sim para ser construída em conjunto, oferecendo um melhor cenário às crianças e jovens que a receberão.
Quando analisamos as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023, a nível nacional, vemos que o serviço público em todo o país preocupa.
A nota do Ensino Médio, por exemplo, foi de 4,1 segundo o último indicador, que ainda foi maior que o de 2019, que havia atingido 3,9. Importante salientar que essa nota é de 0 a 10 pontos. Ainda neste cenário, de estudantes mais velhos, temos o resultado do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa) de 2024, que apontou que o Brasil ocupa as últimas posições no teste de criatividade - apenas 23 pontos, dez pontos abaixo da média da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico. Singapura, que é a primeira colocada no ranking, teve nota de 41 pontos. A própria Pisa define que esta competência se dá principalmente para a busca de resultados originais e eficazes, por exemplo.
Fica difícil concordar que o problema dos serviços públicos estejam somente em quem está utilizando ele, uma vez que até mesmo o próprio presidente busca tratamento em hospitais particulares e - segundo informações de 2019 - seus netos estudam em escolas particulares também. O brasileiro é um dos maiores pagadores de impostos do mundo, mas não é um dos mais desenvolvidos ou com os melhores serviços públicos. Pode até ser que, quando autoridades passarem a utilizar os serviços públicos, eles de fato melhorem, porém, seria muito mais eficaz uma reforma tributária mais justa e compatível com os ganhos da população e uma gestão fiscal mais eficiente, com gerenciamento de recursos realizado de maneira adequada, além de um programa de combate à corrupção e controle de gastos do governo, sem direito a mega-salários, seria muito mais efetivo e com resultados mais expressivos.