Se o seu “nome é trabalho e sobrenome é hora extra”, está na hora de rever seus conceitos. Isso porque o número de afastamentos causados pelo trabalho em excesso vem aumentando gradativamente.
Se o seu “nome é trabalho e sobrenome é hora extra”, está na hora de rever seus conceitos. Isso porque o número de afastamentos causados pelo trabalho em excesso vem aumentando gradativamente. Segundo levantamento do Empregos.com.br, um dos maiores portais de recrutamento e seleção do Brasil, com divulgação do Jornal Tribuna, um quarto das empresas afastaram de 1 a 5 funcionários por adoecimento mental nos últimos 12 meses. A ansiedade é apontada como o fator que mais impacta a força de trabalho (41%), seguida pelo estresse (31,9%), depressão ou síndrome do pânico (26,7%) e burnout (9,2%).
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também realizou um levantamento, que mostrou que em cinco anos o número de trabalhadores afastados por ansiedade, depressão e outros transtornos metais aumentou mais de 50%, passando de 170.830, em 2015, para 289.677 em 2020.
A psicóloga Éllen Martins explica que embora seja uma parte extremamente importante da vida de uma pessoa, o trabalho não pode assumir o controle, deixando de vivenciar outras experiências e dar atenção a outras áreas, como vida pessoal, social e espiritual. “O trabalho que vem sendo desempenhado de conscientização tem sido cada vez mais importante. Tanto que houve um aumento na busca de terapia também durante a pandemia, visto que nossas relações sociais acabaram se resumindo à tecnologia. A questão que ainda precisa ser entendida é relacionada ao trabalho, visto que muitas pessoas vivenciam isso de maneira quase integral e precisam reorganizar seus horários e suas prioridades. O ser humano precisa desenvolver outras áreas também.”
Ela comenta que com o home office o trabalho em excesso se tornou ainda mais evidente, pois muitas vezes o colaborador emenda uma demanda na outra, trabalhando sem pausas e sem horários determinados. “Obviamente, o trabalho em home office é ótimo, pois dá uma maior flexibilidade ao trabalhador. Porém, é importante que ele defina um tempo para desempenhá-lo, respeitando seus limites e os horários pré-estabelecidos. O home office não pode ser confundido com ‘prontidão’. O celular é um grande vilão nesse aspecto, pois faz com que tenhamos uma visão imediatista, que precisa ser respondido o quanto antes.
Tudo isso faz parte de um autocontrole, de uma disciplina que vem da própria pessoa e a terapia pode contribuir para essa reorganização”, orienta.
Por isso, a psicóloga aconselha da abster-se do uso de aparelhos celulares, por exemplo, em momentos como alimentação, horários de sono e socialização, para que possam ser bem aproveitados e a mente não seja tomada por assuntos ou informações alheias.
Home office como opção
Grande parte dos trabalhos já não são desempenhados da mesma forma como eram em 2019. Algumas pessoas têm a oportunidade de ficar em casa, o que inclusive vem sendo considerado na hora de aceitar uma proposta. Segundo a consultoria Robert Half, de 1.161 profissionais perguntados, em levantamento feito em 2022, cerca de 39% buscariam um novo emprego se a empresa onde trabalham não oferecesse uma opção pelo menos parcialmente remota.
A psicóloga explica que o comportamento é bastante interessante, mas que deve ser acompanhado de uma autoavaliação, para verificar se envolvem questões de concentração, melhor desempenho na função ou também está atrelada à uma resistência em conseguir se socializar novamente com outras pessoas.
Cuidados pessoais
“Nós costumamos conversar com as pessoas sobre os seus cuidados pessoais. Eles incluem o contato com a natureza, que é essencial ao ser humano, uma alimentação equilibrada, rotina de exercícios físicos, banhos de sol, o estabelecimento de uma rotina, higiene do sono – meios de conseguir descansar melhor - e também uma vida espiritual. A vida espiritual não quer dizer seguir uma religião, mas ter um momento de reflexão, meditação e conexão. São tarefas relativamente fáceis e que estão disponíveis a todas as pessoas”, recomenda.
Manter planos e projetos para o futuro também são extremamente importantes, diz Éllen. Programar alguma viagem ou aquisição de bens a longo prazo, pode ajudar a reorganizar a vida da pessoa, conforme diz.
Em caso de cansaço excessivo, físico e mental, dores de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso, insegurança, derrota e desesperança, além de negatividade e ansiedade constante, deve-se procurar ajuda, seja com o profissional da Psicologia ou um médico de confiança. Deixar casos como estes se agravarem, podem causar consequências graves à saúde.
Cadê o sol?
A região de Campo Largo está há muitas semanas sem dias de sol contínuo e isso pode interferir na qualidade de vida, embora esteja fora do alcance de qualquer um mudar essa realidade. “Falando-se em saúde mental, o tempo chuvoso interfere na falta de sol (vitamina D), na dificuldade para sair de casa por conta da chuva, não poder ter contato com outras pessoas, não poder ter contato com a natureza, é um clima que te obriga ficar em casa e por isso traz desânimo. Por isso, em dias chuvosos temos mais necessidade de comer e dormir, para nos sentirmos mais atendidos nas nossas necessidades físicas, já que o clima traz essa prisão no ambiente. O instinto é de preservar energia, já que vamos estar sem nossas necessidades atendidas, usar o menos de energia possível”, conclui.