Ao longo de um século de história, o Colégio Sagrada Família se consolidou como uma das instituições mais queridas e tradicionais de Campo Largo. Mais do que um espaço de ensino, tornou-se parte da identidade da cidade, formando gerações que carregam consigo os valores da fé, da convivência e da excelência educacional.
De acordo com a Irmã Lúcia Staron, mais de 20 mil pessoas completaram a sua vida escolar no Colégio Estadual Sagrada Família ao longo das décadas. “Temos registros de milhares de alunos que concluíram aqui, mas muita gente também passou apenas por um período aqui no colégio, especialmente famílias vindas de outros estados para tratamentos de saúde, por exemplo”, explica.
Atualmente, o colégio conta com 1.568 estudantes no ensino regular, somando 2.100 alunos quando incluídos os projetos de contraturno e ensino profissionalizante. “Estamos no limite da capacidade física. O prédio tem 5 mil metros quadrados de área construída e cerca de 9 mil metros considerando os espaços externos, mas já não há mais como expandir. Nossa expansão agora é com foco no crescimento intelectual e na qualidade de ensino, que foram valores que sempre nos nortearam como instituição”, afirma a diretora.
A Escola Municipal Anchieta, que compartilha a mesma estrutura, também integra essa centenária história. Desde a separação administrativa na década de 1990, o Estado passou a ser responsável pelo ensino a partir do 6º ano, e o município, pela Educação Infantil e Ensino Fundamental - Séries Iniciais, mas a Irmã Lúcia reforça que as instituições seguem trabalhando juntas, com a mesma filosofia e missão.
Para que toda essa estrutura funcione e todos estes estudantes sejam atendidos, o Sagrada Família conta com cerca de 140 professores e entre 35 e 40 colaboradores terceirizados na limpeza, cozinha e administração.
Questionada sobre o que faz com que o Sagrada Família ocupe um lugar tão especial na vida dos campo-larguenses, tanto de ex-alunos, como população em geral, a Irmã Lúcia destaca a convivência fraterna que define filosofia da instituição. “Ser família é conviver com problemas, mas também saber perdoar e seguir em frente. Esse espírito familiar é o que mantém o colégio vivo e querido por tantas pessoas”, diz.
Ela recorda com emoção um recente encontro esportivo entre ex-atletas da década de 1990 e os atuais alunos, que puderam jogar uma partida de handebol na quadra da escola. “Foi emocionante ver gerações se reencontrando. Eles pediram para repetir todo mês. A comunidade de Campo Largo sempre apoiou as irmãs e o colégio. Desde as celebrações espirituais até os eventos sociais, sentimos o carinho das pessoas. Isso mostra que o Sagrada Família vai muito além da sala de aula, é uma história de fé, de amor e de educação que é viva e continuará assim por muito mais que cem anos.”
Tradição de excelência
A diretora destaca que a escola mantém viva a tradição na participação em olimpíadas e competições escolares. “Temos professores muito proativos e estudantes engajados. Sexta-feira dia 24, por exemplo, teremos equipes na final da Olimpíada de Filosofia, na Universidade Federal do Paraná”, comenta.
No esporte, comenta que o Sagrada Família segue se mantendo como uma referência. “Completamos 20 anos como campeões gerais nos Jogos Escolares de Campo Largo. Isso é resultado do esforço dos professores e de projetos voluntários”, diz Irmã Lúcia. O colégio mantém parcerias como o projeto Vôlei em Rede, e atividades de futsal, basquete e handebol conduzidas por professores e ex-alunos voluntários.
A Irmã Lúcia comenta que essas práticas refletem uma característica marcante da instituição ao longo das décadas, que foi de fazer prevalecer e incentivar ao protagonismo juvenil. Porém, ao mesmo tempo ela também observa mudanças no perfil dos estudantes ao longo de todos estes anos, o que ficou ainda mais evidente após a pandemia. “Percebo que muitas famílias continuam superprotetoras, o que limita o protagonismo dos adolescentes. Eles precisam de proteção, sim, mas também de espaço para agir e decidir. Sempre há aqueles estudantes que são muito participativos e gostam de se envolver em projetos, mas também existem aqueles que estão mais inertes”, analisa.
Mesmo com os desafios da era digital, a escola oferece recursos tecnológicos e oportunidades únicas. Os alunos têm acesso a plataformas digitais, Chromebooks, tablets e cursos gratuitos, como o Inglês Paraná. Programas como o Ganhando o Mundo também têm contemplado estudantes da instituição, com intercâmbios para países como Canadá e Irlanda. “Em todas as edições tivemos alunos selecionados. Isso mostra o comprometimento deles, porque para participar deste projeto, promovido pelo Governo do Estado, é necessário passar por muitas etapas e um filtro bastante rigoroso”, destaca.
O colégio é também trabalha na inclusão, atendendo estudantes com deficiência, tanto com intérpretes de Libras, professores de apoio e auxiliares pedagógicos.
Celebrações dos 100 anos
As comemorações do centenário iniciaram ainda em janeiro de 2025 e se estendem até dezembro, com uma série de eventos religiosos, culturais e sociais. “Começamos com missas mensais no Santuário do Senhor Bom Jesus e culto em ação de graças, incluindo uma celebração na Igreja Presbiteriana Independente, simbolizando a unidade entre as religiões, pois aqui atendemos estudantes de todas as fés. Mantemos nossa tradição de iniciar as aulas com mensagem e oração, e pretendemos continuar assim, porque é parte da nossa missão”, afirma.
Além disso, foi lançado um livro de poesias elaborado pelos alunos dos 9º anos, e todo o desfile de 07 de setembro deste ano também fez parte das celebrações.
Entre os destaques do calendário está o tão aguardado jantar dançante, realizado neste sábado 25 de outubro, no Ginásio Polentão, na Rondinha. Porém, as comemorações continuam com a homenagem na Câmara Municipal, marcada para acontecer no dia 10 de novembro, Romaria a Aparecida do Norte, no dia 19 de novembro, com missa celebrada pelo bispo campo-larguense Dom Celso Antônio Marchiori.
A Corrida CESF 100 anos está programada para acontecer no dia 14 de dezembro.
Um século de presença e 68 anos de ensino estadual
Segundo informações já publicadas pela Folha de Campo Largo em matérias mais antigas, a Congregação das Irmãs da Sagrada Família de Maria chegou a Campo Largo em 15 de janeiro de 1925, com o propósito de trabalhar com crianças na área da Educação e realizar a catequese na igreja local. As primeiras irmãs a desembarcarem na cidade foram Ir. Ursula Przydrozna, Ir. Wadislava Bodnar, Ir. Alexandra Zielinski e Ir. Anastácia Pawlowski.
O principal objetivo da congregação era atender os filhos de imigrantes poloneses, mas o colégio rapidamente se tornou diverso. Na primeira lista de alunos, já apareciam sobrenomes de origem italiana e portuguesa. Inicialmente, o colégio funcionava como instituição particular. Mesmo assim, as dificuldades financeiras marcaram o início da trajetória. As famílias que não podiam pagar mensalidade realizavam trocas, levando itens como arroz, feijão e outros alimentos eram entregues como forma de pagamento pela educação dos filhos.
Com o tempo, manter a estrutura tornou-se inviável diante dos custos com professores e colaboradores. Em 1957, o Estado do Paraná estabeleceu um convênio com a congregação, criando oficialmente o Colégio Estadual Sagrada Família, que hoje completa 68 anos de ensino estadual.
Irmã Dolores: parte da história e memória do CESF
Cada estudante, professor e colaborador marcou a trajetória do Colégio Sagrada Família à sua maneira. Porém, um nome vem à memória quando falamos na instituição: Irmã Dolores. Seja pelo saudosismo ou até por um certo temor pela sua autoridade ao caminhar pelos corredores, ela sempre será lembrada por todos que passaram pelas salas do Sagrada Família.
Nascida no dia 06 de janeiro de 1935, Irmã Dolores decidiu pela vida religiosa ainda bem nova, com apenas 12 anos de idade, quando ainda morava em São Paulo. Em entrevista à Folha de Campo Largo, ainda em 2018, ela contou que a admiração e a convivência com irmãs da igreja onde frequentava a influenciara na escolha. Entre os seis irmãos, ela foi a única que optou pela vida religiosa.
Veio morar no Paraná com sua família e aos 14 anos chegou em Campo Largo, para estudar e morar na Escola Sagrada Família, local onde concluiu o Magistério e pode começar a lecionar Matemática, uma das suas paixões, em alguns colégios católicos de Curitiba, e também no Colégio Sagrada Família. Pouco tempo depois se tornou diretora. Ela foi diretora do Colégio Estadual Sagrada Família por 40 anos e também esteve à frente da Escola Municipal Anchieta por muitos anos.
A Irmã Dolores faleceu em 05 de julho de 2024, aos 89 anos e está sepultada no Cemitério Municipal de Campo Largo.