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Tatuagem estimula casamento entre mulheres

31/01/2012

Um casamento realizado no Cartório Ferraria, no sábado, 28, ficou para a história do Paraná, pois foi registrado o primeiro casamento homoafetivo entre mulheres.

Tatuagem estimula casamento entre mulheres

03/02/2012

A noiva nem conseguiu dormir de ansiedade. Desde às 5 horas estava se arrumando para o grande dia. Vestido de noiva, sapato branco, penteado e maquiagem. Tudo como manda o figurino, para a realização de um sonho. À sua espera, o “noivo”, trajado com roupa social preta, camisa branca e gel no cabelo.
Mas este casamento, realizado no Cartório Ferraria, em Campo Largo, no sábado, 28, pela manhã, não foi apenas mais um casamento. Este ficou para a história do Paraná, pois foi registrado o primeiro casamento homoafetivo entre mulheres. A relação de Rafaele Franco Ribeiro (26) e Denise Maria da Silva (47) começou com uma brincadeira e acabou na concretização de um sonho superando os preconceitos.
As duas, nascidas em Almiranda Tamandaré mas moradoras de Campo Largo, eram funcionárias da Fiat quando se conheceram. Denise já era homossexual assumida e sempre se relacionou com mulheres. Já Rafaele teve a experiência de morar com um homem por dois anos, com quem teve um filho, André Eduardo, hoje com cinco anos. Rafaele revela que sempre teve atração por mulher, mas, devido ao preconceito da sociedade, nunca teve coragem de assumir e ao conhecer Denise resolveu se entregar. “Os homens me ensinaram a gostar de mulher, só tinha vergonha de assumir”, revela.
Denise tem uma tatuagem de aranha no pescoço e então a companheira tomou a atitude inicial, chamando-a para mostrar a tatuagem de aranha que tinha na virilha. “Ela adorou”, diverte-se Rafaele. Foi então que a história começou. Elas namoraram por dois meses e logo foram morar juntas. Completaram 11 meses de relação e resolveram oficializar a união. Atualmente Denise trabalha como auxiliar de limpeza geral na empresa MM Rocha em Curitiba e faz questão que sua esposa fique em casa.
Quanto à relação com o filho, Rafaele diz que ele ainda é muito pequeno e não entende direito. Para André, Denise é um homem e chora quando dizem ao contrário. A chama de tio e têm um ótimo relacionamento. “Com a mãe ele fica mais quieto, mas comigo ele sabe que tem mais liberdade, aí faz mais bagunça”, conta.
Rafaele conta que na relação delas ela seria mais a mulher e Denise o homem, de acordo com as atitudes e responsabilidades delas. Ela diz que o relacionamento homossexual é muito diferente. “A gente se dá muito bem. Nos entendemos melhor, conversamos melhor. É difícil a gente discutir”, detalha. A família aprendeu a aceitar esta união e elas dizem que a diferença de idade não atrapalha, mas ainda sofrem preconceito em alguns lugares que vão e as pessoas ficam olhando e cochichando. Para um futuro próximo, elas planejam fazer uma inseminação artificial em Rafaele.

Casamento civil
O casamento civil, celebrado pelo juiz de Paz Rogério Aleixo, teve presença de alguns familiares e amigos íntimos. Logo após a cerimônia Denise disse: “Estou tremendo. Ela está maravilhosa de noiva”.
O tabelião do Cartório Ferraria, Luis Flávio Fidelis Gonçalves, diz que no Paraná já tiveram vários casos de registro de união estável entre mulheres, mas que, casamento, este realmente é o primeiro. Ele explica a diferença entre estas duas uniões.
Segundo ele, o casamento civil é feito de acordo com a lei, dá mais segurança aos dois envolvidos, como no caso de heranças, previdência, entre outras garantias. “O casamento não abre brecha pra discussão, é um direito, realizado sob as normas jurídicas”, diz ele, completando que não há diferenças legais para casamentos hetero ou homossexuais. Neste caso de casamento entre pessoas do mesmo sexo, ele diz não usar o termo casal e, sim, consortes.
“Alguns cartórios não estão aceitando fazer o casamento homoafetivo porque ainda não existe uma lei específica, por isso está aumentando a procura aqui. Mas costumo dizer que o que nãotem vedação legal é permitido, então não há problema algum. São mudanças de paradigmas, hoje esta união é uma realidade”, explica.