Não é uma novidade trazermos o tema de apostas on-line para o nosso jornal, seja em formato de editorial ou de matéria. Esse assunto está em alta há muito tempo e, nos últimos dias, tornou-se de importância maior, devido à CPI das Bets, que acontece no Senado Federal, em Brasília. O país, que vive uma verdadeira epidemia de apostas em plataformas diversas, como jogos esportivos e cassinos virtuais, vê a movimentação de R$ 240 bilhões, somente em 2024, conforme divulgação da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Esse dinheiro todo ganha novos contornos quando pensamos que ele é parte significativa da renda das famílias brasileiras, que muitas vezes desviam recursos que poderiam ser destinados a compras essenciais, para alimentar uma falsa esperança de “quebrar a banca”.
Mais do que o prejuízo financeiro, essas apostas também causam graves problemas sociais. O Procon de São Paulo mostrou que 39% dos apostadores possuem dívidas por conta deste tipo de jogo e 71% afirmaram ter mais perdas do que ganhos. O mais grave é saber que quase metade dos entrevistados comprometeram parte significativa de sua renda, recorrendo a retiradas de aplicações financeiras e empréstimos para continuar jogando. Cerca de cinco milhões de brasileiros que recebem benefícios sociais, como o Bolsa Família, apostaram em agosto de 2024, gastando milhões de dólares, o que agrava a situação de pobreza e vulnerabilidade social.
Com isso vem as notícias tristes de altos endividamentos, que levam pessoas a tomarem atitudes drásticas, e, em algumas situações, atentando contra a sua própria vida diante do desespero.
Mas qual é o “fator causal” principal desta onda que tem devastado os brasileiros de uma maneira jamais vista? Seria somente a influência de pessoas na internet, com a promessa de ganhos rápidos, fáceis, dizendo inclusive que essa é uma maneira de fazer “renda extra”? O deslumbre e a ostentação que salta aos olhos quando se vê vidas perfeitas na internet e um aparente “dinheiro fácil”? Isso influencia, mas há muitas camadas a mais por baixo disso. Uma delas é a falta de educação financeira, onde muitos apostadores não compreendem os riscos envolvidos e acreditam em promessas de ganhos fáceis. Outra camada é a ausência de uma regulamentação eficaz e a publicidade agressiva das casas de apostas, que fazem com que essa percepção equivocada torne o jogo mais atraente e perigoso.
É necessário um esforço conjunto entre governo, sociedade civil e setor privado para enfrentar os desafios impostos pelas apostas online, algo em tão pouco tempo parece ter criado raízes tão profundas. É preciso agir para proteger os cidadãos e promover um ambiente mais seguro e saudável no mundo digital, para evitar que cada vez mais isso se torne uma armadilha financeira e social para milhões de brasileiros.