“Sentimento de estar congelado no tempo ou de viver em um óasis inverso”, assim descreve um dos líderes do Movimento PR-090, Silvio Bertolini, sobre como é viver na região da Estrada do Cerne, classif
“Sentimento de estar congelado no tempo ou de viver em um óasis inverso”, assim descreve um dos líderes do Movimento PR-090, Silvio Bertolini, sobre como é viver na região da Estrada do Cerne, classificada como “abandonada” pelos moradores.
Conforme explica Silvio, essa é uma área com grande potencial de desenvolvimento em várias frentes, mas hoje tudo torna-se praticamente impossível, pois não há meios de como fazê-lo. “Nós temos aqui cerca de 12 mil alqueires entre Bateias e Abapan que poderiam ser trabalhados na criação de animais ou na indústria de madeireira beneficiada, não somente na venda de cascas como acontece hoje. Poderíamos trabalhar com a ampliação da bacia de leiteira de Castro, mas não temos potencial energético para adquirir resfriadores e equipamentos necessários. Estamos parados no tempo com uma energia bifásica que sempre cai”, relata, explicando que reivindicam também a instalação de energia trifásica, para conseguirem fazer a instalação de equipamentos e maquinários industriais.
Outro setor que poderia se beneficiar com o asfaltamento da PR-090 é o turismo. “Muitas pessoas do Norte e Nordeste do Paraná e mesmo do interior de São Paulo utilizariam essa estrada para chegar até o litoral paranaense, especialmente o porto de Paranaguá. Fazendo esse percurso, há uma economia de 56 Km no trajeto, se comparado ao feito por Ponta Grossa. Essa hoje é uma região ‘morta’, esquecida e que muita gente, inclusive de Campo Largo, não conhece a região. Com uma maior movimentação, poderíamos ter estabelecimentos como pesque-pagues e parques na região, incentivar o artesanato e elevar o turismo”, reforça.
Problemas conhecidos e documentados
Os problemas da PR-090 são conhecidos e documentados pela equipe do movimento. De acordo com Silvio, os 61 buracos eternos, 72 bueiros fantasmas e 19 pedras fura-carter estão documentadas, fotografadas e relatadas quilômetro a quilômetro no Relatório Socorro, entregue ao Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná e Secretaria de Infraestrutura do Estado.
Os buracos eternos consistem em passagens de água, que por causa do nivelamento da rua, acabam transformando-se em corredores de água e atravessando a via. Ainda que passem máquinas para nivelamento ou aconteça o ensaibramento, não resolve o problema. Já os bueiros fantasmas foram construídos no início da estrada, entre 1940 a 1945, quando era usado para transporte de café entre o Norte do Paraná e o porto de Paranaguá. Com o tempo, os bueiros foram soterrados, inclusive com pedras e hoje acabam atrapalhando veículos.
As pedras fura-carter são pedras muito grandes, que se encontram no meio da estrada e que não são arrancadas pelas máquinas por serem muito grandes. Elas causam grandes problemas para veículos de passeio e mesmo para caminhões de grande porte.
A segurança também é um assunto que preocupa o grupo. “Nós sabemos que há grupos que usam a rodovia como rota para tráfico de drogas e roubo de veículos, pois aqui é possível sair em vários municípios da região metropolitana, na capital e no litoral. É um local que não percebemos rondas constantes. Com uma parceria recente feita com a Polícia Militar e a Guarda Municipal conseguimos resolver situações de roubo de cabeças de gado em fazendas, mas são situações mais pontuais”, diz.
Muitas pessoas se perdem na região, inclusive caminhões que querem desviar o pedágio ou pegar uma rota mais rápida e não conseguem transitar pela rodovia – acabam bloqueando passagem, estourando pneus ou com problemas mecânicos – e geram transtornos. Os acidentes acabam sendo frequentes, inclusive com vítimas, podendo ser fatais. Em dias de chuva, a rodovia fica intransitável.
Como funciona o movimento
Há mais de 30 anos lutando por melhorias, a pandemia da Covid-19 ajudou a prejudicar a luta do grupo, que já não consegue se reunir para discutir pautas pertinentes à região e buscar saídas diante das secretarias responsáveis. “Nós contamos com uma comissão permanente, formada por 10 pessoas, em sua maioria empresários da região, que precisam dessa melhoria para crescer e investir. A nossa primeira reunião aconteceu em outubro de 2019.
Somos um movimento organizado e investimos dinheiro do próprio bolso para conseguir dar voz às nossas reivindicações, tudo o que fazemos é documentado”, diz.
Desde então o grupo já realizou um grande trabalho de divulgação com materiais como faixas, banners, adesivos, além das reuniões presenciais e on-line. Em uma região formada por pouco mais de cinco mil habitantes, o Movimento PR-090 já possui um abaixo-assinado registrado em cartório com 3.730 assinaturas presenciais e 670 assinaturas feitas pelo site.
O trabalho de divulgação mais intenso durante a pandemia tem sido feito pelas redes sociais, com o Facebook, Instagram e dois grupos do WhatsApp. “Nós não descansaremos até ter uma solução para essa rodovia. Não aceitaremos ser esquecidos em uma região tão rica quanto essa”, persiste Silvio.
Nota da Cocel
Sobre a instalação de rede de distribuição de energia trifásica no interior do município reivindicada pelo Movimento PR 090, a Companhia Campolarguense de Energia – Cocel informa que até o momento não recebeu qualquer projeto de consumidores da região que solicitem o aumento da carga instalada para atender aumento da demanda. Esclarecemos que o dimensionamento da rede é baseado em critérios técnicos, como o número de consumidores e a demanda por energia, entre outros.
Os projetos apresentados à Companhia são analisados pelos profissionais competentes, conforme procedimento estabelecido e fiscalizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel. Cabe ainda ressaltar que a Cocel realiza constantemente manutenções corretivas e preventivas na rede de distribuição em toda a área de concessão, tendo ainda investido intensivamente nos últimos anos em equipamentos de proteção, religadores automatizados e outros mecanismos que têm como objetivo principal minimizar o risco de interrupções de energia.