A modalidade visa sempre respeitar os processos naturais e pode ser aplicada tanto ao plantio como à criação de animais
No último dia 05 de junho, foi comemorado o Dia da Ecologia e também o Dia do Meio Ambiente, um momento dedicado para a reflexão sobre os rumos que a natureza tem tomado em todo o planeta e visando sempre a conscientização.
Atualmente, uma parcela da população tem se mostrado consciente no consumo de alguns alimentos, buscando opções orgânicas, produzidas por pequenos produtores. Pensando nisso, a Folha de Campo Largo conversou com o Leandro Schepiura, que trabalha como agroecólogo em uma agrofloresta no bairro Guabiroba e também defende a expansão da prática para setores de criação de animais e abertura de novas agroflorestas.
“A agroecologia é um campo gigantesco, que abrange desde a produção, maneiras de agir no dia a dia e hábitos sustentáveis. Dentro da agroecologia existe uma ramificação chamada agrofloresta, que seria o seu suprassumo. É uma prática que visa unir a floresta à agricultura, onde o produtor estará observando o comportamento natural para gerar bens e ganhos para os seres humanos, sempre a favor da natureza, preservando o solo, água e a saúde dos seres humanos que irão consumir estes alimentos. O principal fator é a biodiversidade, sempre respeitando as espécies e todos os componentes daquele ecossistema. A agricultura convencional visa produzir um só tipo de alimento, afastando por meio dos agroquímicos animais, contaminando o solo e a água, isso diferencia a nossa abordagem também.”
Leandro explica que os benefícios para o ser humano e para a natureza são incalculáveis com a prática. “Nunca existiu tantos seres humanos e poder de consumo na Terra. O poder de consumo leva a consumir o próprio planeta, sufocando a capacidade da regeneração, se continuar nesse mesmo ritmo, vai ter um momento que o planeta dará pane, irão esgotar os recursos naturais e podem gerar mortes em massa – de humanos –, desaparecimentos de espécies, esgotamento da água. A agroecologia deveria ser adotada como um princípio humano para a preservação da sua própria espécie. A Educação é peça chave para essa mudança”, ressalta.
No Brasil, segundo o agroecólogo, o Movimento Sem Terra (MST) é um dos grandes precursores e defensores desta modalidade de plantio. Foi a partir do movimento inclusive que o curso de Agroecologia passou a existir dentro dos Institutos Federais em todo o país. Schepiura explica que muitas vezes participantes do movimento invadiam as terras e não sabiam como atuar na produção, já que não tinham o conhecimento técnico. Com esse conhecimento foi possível realizar grandes produções de alimentos orgânicos, na qual ele destaca da produção realizada no ano passado, quando foi registrada uma safra recorde, com 16 toneladas de arroz orgânico, a maior já registrada no país.
Com o conhecimento e estudos sendo realizados, já estão começando a serem expandidas grandes produções de alimentos orgânicos, em escalas cada vez maiores e dentro das agroflorestas. O uso de ferramentas e aparatos tecnológicos também têm sido utilizados dentro de plantações maiores.
Na agroecologia, existe a saída de uma agricultura de insumos, para dar início a uma agricultura de processos, sempre observando o passo a passo da natureza, de regeneração do solo, que se alimenta da própria matéria orgânica que ele gera. Leandro explica que o papel do ser humano neste tipo de plantio é acelerar o processo natural, de forma positiva, aumentando o ganho de nutrientes para o solo sem utilização de produtos artificiais.
“Quando uma planta está crescendo, ela está aglutinando nutrientes em seu organismo. Esses nutrientes são provenientes do solo, que precisa estar bem nutrido e preparado para que as plantas possam se alimentar. Então, devolver esses nutrientes para o solo é um dos grandes segredos deste ciclo constante de retirada e reposição, este pode ser feito por meio da matéria orgânica, sempre variando para que se tenha o maior número de substâncias possíveis”, explica.
Zero insumos e sementes crioulas
Todo o alimento que é produzido sem a utilização de agrotóxicos é orgânico, mas nem sempre ele é não-transgênico. “Você pode cultivar uma semente transgênica sem a utilização de um agroquímico, ela será orgânica, porém continuará sendo transgênica. Esta agrofloresta no Guabiroba trabalha somente com sementes crioulas, então é uma produção orgânica e não-transgênica”, diz.
Ele explica ainda que essa modalidade permite o plantio de mudinhas, que podem ser originárias do sistema convencional de plantio, porém durante o cultivo não são adicionados quaisquer insumos químicos. Alguns produtores realizam a utilização de insumos orgânicos para potencializar a produção, mas no caso esta agrofloresta em específico não são utilizados quaisquer tipos de insumos.
“Nós fazemos algumas armadilhas para pegar grilos, lesmas para dar uma diminuída nesses insetos, que são considerados por muitos produtores ‘pragas’, nós vemos como um desequilíbrio. Uma das diretrizes da agrofloresta é fazer justamente esse controle de populações, evitando que esses animais acabem comendo toda a produção. Um pouco da produção da agrofloresta sempre será consumida pelos animais, mas isso é encarado de forma positiva também. Todos os seres têm seu valor, tem algum sentido e um trabalho dentro do ecossistema”, defende.
Apesar das planta ficarem todas juntas, em várias espécies, cada uma irá se beneficiar à sua maneira, em uma técnica chamada de consórcio de plantas, que leva em consideração os extratos – tamanho que ela irá atingir e a necessidade de luz solar daquela espécie – para ter um maior aproveitamento de espaço. Para que o produto possa ser considerado orgânico, é preciso que ele possua certificação.
A agroecologia pode ser aplicada também no cultivo de animais, sempre priorizando o bem-estar animal. Na pecuária tradicional, segundo Schepiura, a produção de leite, ovos e da própria carne é feita de forma mais incisiva, em grandes criadouros, ocupados por centenas de animais da mesma espécie. Na agroecologia a criação é feita respeitando o crescimento natural do animal, promovendo a liberdade dele dentro de um espaço adequado, em meio à natureza.
Pensar verde
Pequenos hábitos, ir de bicicleta para o trabalho já será um passo bem importante para um mundo mais ecologicamente correto. “Outra atitude seria consumir menos carne, já que ela é responsável por grande parte do desmatamento em todo o mundo. Hoje em dia, a área de pasto é 40% de toda a extensão terrestre, enquanto nós, a população, ocupamos apenas 2%. Meu pedido é que as pessoas fiquem mais atentas para a sua forma de viver, como estão vivendo e qual o impacto que estão causando no mundo. Se existir uma forma de fazer com que esse impacto seja positivo, não resista em mudar. O planeta agradece”, finaliza.