Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 07:45:17
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Mais de 190 mulheres em vulnerabilidade encontram segunda chance em instituição

O Projeto Juntas Somos mais, que desde agosto do ano passa­do já atendeu 192 mulheres campo-larguenses em situação de vulnerabilidade social. 

Mais de 190 mulheres em vulnerabilidade encontram segunda chance em instituição

"Um projeto que pode mudar a vida, trazer novas pers­pectivas e sonhos para as mulheres”, esta é a definição mais básica dada por Karla Knauber, coordenadora do Projeto Juntas Somos mais, que desde agosto do ano passa­do já atendeu 192 mulheres campo-larguenses em situação de vulnerabilidade social. O público é bem variado, com idades entre 15 e 70 anos, sempre mulheres.

Atualmente, o projeto conta com o trabalho voluntário de uma psicopedagoga, uma pedagoga, uma terapeuta familiar, três psicólogas que possuem especializações em atendimen­to de vulnerabilidade e violência, traumas decorrentes de per­das íntimas e familiares e atendimento infanto-juvenil, além dos profissionais que ministram os cursos. Eles também con­tam com uma parceria com a Faculdade CNEC Campo Largo.

Foi em agosto de 2018 que a ONG começou efetivamen­te com os atendimentos, porém há dois anos a vontade e o planejamento começaram a ser traçados e colocados no pa­pel. Karla conta que o desenho do projeto começou como a tese do Trabalho de Conclusão de Curso, quando ela cursa­va Direito. “Do TCC eu transformei em pré-projeto, vieram no­vas ideais, novas colegas, que foram agregando experiências, até alcançarmos essa formulação. Quando começamos, não tínhamos o Instituto Árvore da Vida, que regula toda a parte de pessoa jurídica, com CNPJ. Hoje contamos com essa estrutu­ração, que nos permite ser uma ONG.”

O primeiro espaço em que o projeto funcionou foi em uma sala pequena, em frente à Delegacia de Campo Largo, que oferecia apenas os cursos de crochê, massoterapia e design de sobrancelhas, realizados na Associação de Moradores da Popular Nova, que sedia o espaço três vezes na semana. Po­rém, como o espaço era muito pequeno e acabava limitando o trabalho, que tinha como sonho aumentar o número de cursos oferecidos às mulheres. No início, as voluntárias lembram que a ONG sobrevivia apenas com o dinheiro proveniente de pes­soas que conheciam o trabalho realizado por elas e também do empenho de dinheiro do próprio bolso.

A habilitação junto ao Poder Judiciário aconteceu no final de 2018, quando a ONG conseguiu que parte da destinação de verba fosse repassada para elas. Com o recebimento desta verba, elas conseguiram alugar um espaço maior e poder re­alizar mais atendimentos a essas mulheres. “Nós recebemos uma verba por seis meses, agora estamos em processo de requisição para renovação desta destinação, que hoje é par­te importante para manter o projeto em funcionamento. Não é possível sacar esse dinheiro, retirar da conta para ser gas­to, mas conseguimos empenhá-lo por meio de notas fiscais que apresentamos, em geral para pagamento das despesas mensais, aluguel e compra de material para as oficinas”, ex­plica Karla.

Para gastos extras que possam acontecer, elas utilizam o dinheiro arrecadado com o bazar, que vende grande maio­ria de peças – doadas por voluntários – a R$ 2 e também pelo trabalho exercido pelas alunas durante o curso, um dia de be­leza, quando a população tem acesso ao serviço de manicure e pedicure, massagem, design de sobrancelha por R$ 5 (cada serviço). Elas também realizam a venda dos artesanatos fei­tos na instituição.

A instituição é aberta para que a comunidade conheça o trabalho realizado, para recebimento de doações de roupas e materiais para o desenvolvimento das oficinas e de escritório, ajuda financeira, brindes para a realização de festivais de prê­mios e também para doação do “tempo”, atuando como volun­tário na área que trabalha e beneficiando essas mulheres com a aprendizagem de uma nova atividade, que pode se tornar fonte de renda também.

Cursos oferecidos

Cada mulher que frequenta o local tem direito a fazer três cursos, que acontecem semanalmente e têm duração entre um e três meses. Para que a certificação possa ser emitida, elas pre­cisam ser assíduas e realizar prova de conhecimento técnico. A ONG oferece cursos de biscuit, designer sobrancelha, manicu­re, crochê, massoterapia, técnicas de vendas, Espanhol, cuida­dor de idosos, noções de secretariado, artesanato e manicure.

Estão previstos alguns novos cursos e atividades, tais como yoga, seminário de desenvolvimento pessoal e auto­estima, oratória, grupos de constelações, maquiagem profis­sional, roda de conversa de empoderamento para mulheres, workshop de reaproveitamento de alimentos e orçamento fi­nanceiro.

As mulheres que estiverem interessadas em participar do projeto, seja nos cursos ou para receber atendimento psicoló­gico, precisa realizar o cadastro na sede do projeto, levando consigo documentos pessoais, comprovante de residência e de renda familiar. É cobrada a taxa de inscrição no valor de R$ 35, esta que pode ser diminuída ou extinta com a análise da renda da família. “Todos os atendimentos e cursos são gratui­tos, sem mensalidade e para o desenvolvimento dos cursos o projeto fornece todos os materiais de uso coletivo, sendo soli­citado às alunas apenas os de uso individuais”, ressalta Karla.

O Projeto Juntas Somos Mais está localizada na Rua Su­bestação de Enologia, 484, Vila Bancária, duas quadras atrás Colégio Estadual Sagrada Família, com horário de atendimen­to de segunda a sexta-feira, das 13h às 20h.

Atendimento às crianças

As crianças e os adolescentes são atendidos pela Psi­copedagogia, com público variado. Algumas têm dificuldades com a aprendizagem ou problemas psicológicos. “A criança começa a trazer vários relatos sobre o ambiente que ela vive em casa e com isso nós vamos fazendo o trabalho de Psico­pedagogia para ajudar na escola – mantendo um vínculo com eles. A mãe também é bem importante neste processo, e ela acaba trazendo os irmãos também. Não é fácil, mas é uma forma de mudar a realidade dos que estão inseridos, abrir as mentes deles e proporcionar uma melhor perspectiva de vida”, explica a psicanalista Charlize Portella.

Mudança de vida

Apesar de ser um projeto relativamente novo, não são poucos os relatos de mulheres que mudaram suas vidas ao participarem dele. “Temos muitos relatos de mulheres que real­mente mudaram suas vidas participando do projeto. Elas são o nosso marketing, são elas que fazem propaganda e mostram o quão importante e algumas vezes decisivo ter participado. Já recuperamos mulheres que estavam em depressão profunda, não acreditavam mais nelas mesmas e hoje são pessoas to­talmente diferentes. Isso também fortalece ainda mais o nosso trabalho, faz com que nós fiquemos cada vez mais animadas e motivadas a continuar”, finaliza Charlize Portella.