O Projeto Juntas Somos mais, que desde agosto do ano passado já atendeu 192 mulheres campo-larguenses em situação de vulnerabilidade social.
"Um projeto que pode mudar a vida, trazer novas perspectivas e sonhos para as mulheres”, esta é a definição mais básica dada por Karla Knauber, coordenadora do Projeto Juntas Somos mais, que desde agosto do ano passado já atendeu 192 mulheres campo-larguenses em situação de vulnerabilidade social. O público é bem variado, com idades entre 15 e 70 anos, sempre mulheres.
Atualmente, o projeto conta com o trabalho voluntário de uma psicopedagoga, uma pedagoga, uma terapeuta familiar, três psicólogas que possuem especializações em atendimento de vulnerabilidade e violência, traumas decorrentes de perdas íntimas e familiares e atendimento infanto-juvenil, além dos profissionais que ministram os cursos. Eles também contam com uma parceria com a Faculdade CNEC Campo Largo.
Foi em agosto de 2018 que a ONG começou efetivamente com os atendimentos, porém há dois anos a vontade e o planejamento começaram a ser traçados e colocados no papel. Karla conta que o desenho do projeto começou como a tese do Trabalho de Conclusão de Curso, quando ela cursava Direito. “Do TCC eu transformei em pré-projeto, vieram novas ideais, novas colegas, que foram agregando experiências, até alcançarmos essa formulação. Quando começamos, não tínhamos o Instituto Árvore da Vida, que regula toda a parte de pessoa jurídica, com CNPJ. Hoje contamos com essa estruturação, que nos permite ser uma ONG.”
O primeiro espaço em que o projeto funcionou foi em uma sala pequena, em frente à Delegacia de Campo Largo, que oferecia apenas os cursos de crochê, massoterapia e design de sobrancelhas, realizados na Associação de Moradores da Popular Nova, que sedia o espaço três vezes na semana. Porém, como o espaço era muito pequeno e acabava limitando o trabalho, que tinha como sonho aumentar o número de cursos oferecidos às mulheres. No início, as voluntárias lembram que a ONG sobrevivia apenas com o dinheiro proveniente de pessoas que conheciam o trabalho realizado por elas e também do empenho de dinheiro do próprio bolso.
A habilitação junto ao Poder Judiciário aconteceu no final de 2018, quando a ONG conseguiu que parte da destinação de verba fosse repassada para elas. Com o recebimento desta verba, elas conseguiram alugar um espaço maior e poder realizar mais atendimentos a essas mulheres. “Nós recebemos uma verba por seis meses, agora estamos em processo de requisição para renovação desta destinação, que hoje é parte importante para manter o projeto em funcionamento. Não é possível sacar esse dinheiro, retirar da conta para ser gasto, mas conseguimos empenhá-lo por meio de notas fiscais que apresentamos, em geral para pagamento das despesas mensais, aluguel e compra de material para as oficinas”, explica Karla.
Para gastos extras que possam acontecer, elas utilizam o dinheiro arrecadado com o bazar, que vende grande maioria de peças – doadas por voluntários – a R$ 2 e também pelo trabalho exercido pelas alunas durante o curso, um dia de beleza, quando a população tem acesso ao serviço de manicure e pedicure, massagem, design de sobrancelha por R$ 5 (cada serviço). Elas também realizam a venda dos artesanatos feitos na instituição.
A instituição é aberta para que a comunidade conheça o trabalho realizado, para recebimento de doações de roupas e materiais para o desenvolvimento das oficinas e de escritório, ajuda financeira, brindes para a realização de festivais de prêmios e também para doação do “tempo”, atuando como voluntário na área que trabalha e beneficiando essas mulheres com a aprendizagem de uma nova atividade, que pode se tornar fonte de renda também.
Cursos oferecidos
Cada mulher que frequenta o local tem direito a fazer três cursos, que acontecem semanalmente e têm duração entre um e três meses. Para que a certificação possa ser emitida, elas precisam ser assíduas e realizar prova de conhecimento técnico. A ONG oferece cursos de biscuit, designer sobrancelha, manicure, crochê, massoterapia, técnicas de vendas, Espanhol, cuidador de idosos, noções de secretariado, artesanato e manicure.
Estão previstos alguns novos cursos e atividades, tais como yoga, seminário de desenvolvimento pessoal e autoestima, oratória, grupos de constelações, maquiagem profissional, roda de conversa de empoderamento para mulheres, workshop de reaproveitamento de alimentos e orçamento financeiro.
As mulheres que estiverem interessadas em participar do projeto, seja nos cursos ou para receber atendimento psicológico, precisa realizar o cadastro na sede do projeto, levando consigo documentos pessoais, comprovante de residência e de renda familiar. É cobrada a taxa de inscrição no valor de R$ 35, esta que pode ser diminuída ou extinta com a análise da renda da família. “Todos os atendimentos e cursos são gratuitos, sem mensalidade e para o desenvolvimento dos cursos o projeto fornece todos os materiais de uso coletivo, sendo solicitado às alunas apenas os de uso individuais”, ressalta Karla.
O Projeto Juntas Somos Mais está localizada na Rua Subestação de Enologia, 484, Vila Bancária, duas quadras atrás Colégio Estadual Sagrada Família, com horário de atendimento de segunda a sexta-feira, das 13h às 20h.
Atendimento às crianças
As crianças e os adolescentes são atendidos pela Psicopedagogia, com público variado. Algumas têm dificuldades com a aprendizagem ou problemas psicológicos. “A criança começa a trazer vários relatos sobre o ambiente que ela vive em casa e com isso nós vamos fazendo o trabalho de Psicopedagogia para ajudar na escola – mantendo um vínculo com eles. A mãe também é bem importante neste processo, e ela acaba trazendo os irmãos também. Não é fácil, mas é uma forma de mudar a realidade dos que estão inseridos, abrir as mentes deles e proporcionar uma melhor perspectiva de vida”, explica a psicanalista Charlize Portella.
Mudança de vida
Apesar de ser um projeto relativamente novo, não são poucos os relatos de mulheres que mudaram suas vidas ao participarem dele. “Temos muitos relatos de mulheres que realmente mudaram suas vidas participando do projeto. Elas são o nosso marketing, são elas que fazem propaganda e mostram o quão importante e algumas vezes decisivo ter participado. Já recuperamos mulheres que estavam em depressão profunda, não acreditavam mais nelas mesmas e hoje são pessoas totalmente diferentes. Isso também fortalece ainda mais o nosso trabalho, faz com que nós fiquemos cada vez mais animadas e motivadas a continuar”, finaliza Charlize Portella.