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Alunas participam da maior Feira de Ciências do mundo e voltam com a bagagem repleta de experiências

No final de março deste ano, a Folha de Campo Largo contou um pouco sobre o projeto das alu­nas Amanda Maloste e Jéssica Burda, do Colé­gio Sesi de Campo Largo, que participaram do Prêmio Intel International Scienc

Alunas participam da maior Feira de Ciências do mundo e voltam com a bagagem repleta de experiências

No final de março deste ano, a Folha de Campo Largo contou um pouco sobre o projeto das alu­nas Amanda Maloste e Jéssica Burda, do Colé­gio Sesi de Campo Largo, que participaram do Prêmio Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), re­alizado na primeira quinzena do mês de maio, em Phoenix, no Arizona, Estados Unidos.

O trabalho apresentado por elas surgiu a partir da par­ticipação de uma olimpíada de Matemática e Ciências, pro­movida pelo colégio, quando elas tiveram a ideia de usar o sabugo de milho para criar um tipo de isopor biodegradável e de alta resistência. Inicialmente, as alunas, sob orientação da professora Juliana Vidal, trituraram o sabugo do milho e misturaram com água e trigo, porém ainda não era o resulta­do que desejavam, já que o material ficou muito próximo de um compensado de madeira. Foi então que elas pensaram em misturar com poliuretano, que é uma espuma rígida mui­to usada na construção civil. A mistura do sabugo triturado com a substância formam uma grande espuma, que quando cortada e talhada consegue ser encaixada e recortada, es­pecialmente para proteger equipamentos eletroeletrônicos.

Nesta feira as alunas precisaram realizar apresenta­ções de dois e dez minutos, com o grande desafio do idio­ma. Como falar inglês durante a apresentação não era um critério, elas optaram por uma ter o auxílio de uma intérpre­te, principalmente para as perguntas, porém, conseguiram apresentar bem e se comunicar com as pessoas que esta­vam participando do evento em inglês.

“Era um sonho, quase utópico, participar desta Feira e nós conseguimos com muito esforço. Só nós, que estáva­mos envolvidos diretamente no projeto, e Deus sabemos tudo o que passamos, as horas a fio estudando, as frus­trações que aconteceram ao longo do trabalho, tudo isso foi muito bem recompensado com essa participação. Nos­sa alegria e realização também está em ver que outros alu­nos do colégio estão se esforçando porque também querem participar, também querem ir para os Estados Unidos”, rela­ta a aluna Amanda Maloste.

Quem acompanhou as alunas foi a professora douto­ra Juliana Kloss, do curso de Química da Universidade Tec­nológica do Paraná, do campus de Curitiba, e pesquisadora da área de Polímeros. Essa foi a primeira vez que ela par­ticipou desta feira. “Eu quis voltar no tempo e estar lá como aluna, junto com elas, porque é algo muito impressionan­te. Os estudantes que participam são muito jovens, têm ida­des entre 15 e 18 anos, pesquisam e apresentam como se já fossem doutores naquele assunto. Tive a oportunidade de visitar alguns stands e fiquei impressionada com tama­nho conhecimento. As meninas têm um projeto muito bem feito, estruturado, mas que ainda está em desenvolvimen­to, possui um grande potencial. Foi visível o crescimento de­las também, que nesses dez dias adquiriram experiência que pessoas, que já estão na graduação, ainda não tiveram oportunidade”, diz.

A professora Juliana Kloss conta que própria organiza­ção da feira visava muito a independência dos alunos dos seus professores orientadores. Durante as apresentações realizadas para os avaliadores (várias aconteciam simulta­neamente), era proibida a entrada dos professores. O even­to era equipado com material de apoio necessário, sanando possíveis emergências, que vão de grampeadores e im­pressões até caixas de ferramentas e tudo devia ser pedi­do pelos alunos.

A delegação brasileira era composta por 25 participan­tes, que competiram com três mil pessoas, de 80 países. Fo­ram conquistados oito prêmios pelos alunos brasileiros. As campo-larguenses não chegaram a vencer a categoria que estavam concorrendo, mas acreditam que a participação já é um dos maiores prêmios. Elas pretendem continuar com a pesquisa, absorver os pontos abordados pelos avaliadores e concorrerem novamente à vaga para a Intel ISEF 2020, que será realizada em Los Angeles, Califórnia, Estados Uni­dos. A oportunidade permitiu a elas conhecerem também um pouco da cultura local, bem como do Museu da Ciên­cia, Universidade do Arizona e Jardim Botânico do Deserto. Além disso, elas puderam conhecer o professor Ivo Leite Fi­lho, coordenador-geral de Popularização da Ciência, do Mi­nistério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Márcia Lou­reiro, e personalidades da Ciência Mundial.

Colégio e universidade: uma parceria que dá certo

A professora Juliana Vidal, orientadora das meninas desde o início, ressaltou a importância da parceria entre co­légio e universidade, bem como a participação do profes­sor no incentivo do estudo científico. “Nós estabelecemos uma bela parceira entre o colégio e a universidade, nossas alunas tiveram oportunidade de ocupar esses espaços tam­bém, o que acrescentou muito em todo o processo porque elas tiveram contato com especialistas. Eu sou formada em Biologia e não conheço o processo químico do projeto de­las. É algo que deveria ter em todas as escolas, para que os alunos cada vez mais sejam incentivados ao estudo da Ci­ência”, diz.

“Foi também um choque de realidade participar desta feira, porque vimos que há países, mais desenvolvidos do que o Brasil, que possuem equipamentos em suas escolas durante o Ensino Médio que não existem nem nas univer­sidades. O brasileiro é um povo criativo, ousado e dedica­do, por isso consegue muitos prêmios, inclusive nesta feira foram oito conquistas nacionais, mas ainda carece porque não tem a oportunidade de ofertar para todos boas condi­ções de desenvolvimento de pesquisas ainda nas escolas”, completa a professora Juliana Kloss.

“Eu penso em ser professora no futuro justamente para fomentar entre os alunos da escola pública a participação em estudos científicos. Eu tive a minha base em escola pú­blica, foi o Ensino Médio que eu vim para um colégio parti­cular, e vejo que há talentos em todos os lugares. Além de pesquisadora na área, planejo também trabalhar para que mais alunos alcancem uma vaga nesta feira”, diz Amanda.

As estrelas brasileiras

O povo brasileiro é conhecido mundialmente pela ale­gria e por saber fazer festa como ninguém. Na feira não foi diferente. Eles tinham grito de torcida e a empolgação leva­va outros alunos até a quererem gravar vídeos com eles. “Nós nos sentimos estrelas (risos). Vinha gente de todos os lugares falar conosco, nós trocamos pins (bottons e pulsei­ras) com outros países, conversamos com muitas pessoas e todos falavam da nossa alegria”, diz Amanda.

“Mesmo na rua, quando viam escrito em nossas cami­setas ‘Brasil’, já falavam ‘Rio de Janeiro, futebol, samba’ e era muito engraçado. Alguns perguntavam se éramos um time de futebol e quando dizíamos que era para uma fei­ra de Ciências, eles já falavam ‘como assim?’ e queriam sa­ber mais sobre o nosso projeto. Foi muito legal”, completa Jéssica.

Jéssica ainda teve o privilégio de representar o Brasil frente ao congresso inteiro no primeiro dia. “Foram esco­lhidos três alunos para representar o país, para a entrada e para subir ao palco. Eles pediram para que fossem feitos desenhos em cartazes que representasse o país de origem. Foi uma entrada parecida com a das Olimpíadas, todo mun­do gritando”, relembra a professora.

Além de tudo, fizeram o bem

Quando começaram a participar das feiras, as meninas já tinham em vista o sonho de participar da Intel ISEF. “Eu falei pra Jéssica: vamos combinar, se nós um dia participar­mos dessa feira, vamos cortar o cabelo? Ela topou. Quando vi que nosso trabalho havia sido escolhido para representar o Brasil na feira, pensei ‘vou ter que cortar o cabelo!’. Nós cortamos e doamos eles”, relata Amanda. Não foi difícil cor­tar, e até estamos acostumando com os cabelos mais cur­tos. Eu quase não tive tempo, porque da classificação até a data da viagem foi tudo muito corrido, mas consegui”, fina­liza Jéssica.