Campo-larguense, comunicativa e sem deixar o lado feminino, Rosi gosta de trabalhar na área de produção
Trabalhador campo-larguense é reconhecido por arregaçar a manga e trabalhar com fibra, também por esses motivos a cidade desperta interesse de grandes empresas. Na última quarta-feira (01) foi celebrado o Dia do Trabalhador e também por isso a Folha conheceu a história da trabalhadora Rosi Cunico (39), que tem um gosto peculiar: ela gosta de trabalhar no famoso “chão de fábrica”.
Muito comunicativa e alegre, ela dividiu um pouco da sua história. “Comecei a trabalhar aos 18 anos na antiga Lorenzetti, como soldadora. Eu não conhecia nada sobre solda, não tinha experiência ou curso técnico, só tenho o Ensino Médio, mas tinha muita vontade e necessidade de trabalhar, isso me ajudou a conseguir uma vaga, embora esse seja um ambiente mais masculino. Quando eu entrei para trabalhar era o oposto do que sou hoje, muito tímida, quietinha. O trabalho me transformou, descobri que eu gostava desse contato com o público, de conversar com as pessoas, e aflorou em mim ainda mais a generosidade e a solidariedade. Trabalhei por 11 anos naquela empresa.”
Rosi conta que já teve a experiência de trabalhar com produção, liderança e também na área de sindicalismo, na Sindimovec (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Montadoras de Veículos Chassis e Motores de Campo Largo), mas ainda assim sua paixão pela parte de produção prevalece. “Eu gosto do ‘chão de fábrica’ porque ele me mudou totalmente, para melhor. Eu até vim parar no sindicalismo por indicação, porque eu conheço as realidades e porque eu gosto de ajudar as pessoas”, diz. “Eu descobri que na liderança eu tenho que agir com a razão e não com o coração, mas eu sou muito emotiva”, completa.
Além da jornada na fábrica que trabalha atualmente e no sindicato, Rosi também faz crochê para vender, realiza trabalhos voluntários em prol de comunidades carentes, dá aula em cursos e no Conselho da Mulher, na Prefeitura de Campo Largo. “Também tenho uma página difícil que hoje uso para incentivar as mulheres a lutarem ainda mais, que foi a violência doméstica. Uso esse meu jeito comunicativo para falar para elas que precisam vencer a vergonha e o medo e buscar ajuda, denunciar o agressor, seja ele quem for e ter forças para erguer a cabeça e dar a volta por cima. É muito difícil, mas é possível também”, relata.
Mulher de fibra
“Como eu falo, eu trabalho. Cumpro tudo o que cabe à minha área e ajudo quem mais estiver precisando. Hoje, 14% da empresa que eu trabalho são mulheres, mudou muito em 20 anos. Ainda tem uma certa desigualdade, pois sempre que há queda em uma empresa, os empregados homens irão prevalecer porque eles têm mais flexibilidade para trabalhar em outros postos de trabalho. Não que elas não consigam trabalhar nesses lugares, mas por uma questão de salubridade mesmo”, comenta.
Rosi conta ainda que as mulheres estão conquistando espaço nas empresas, mesmo nas linhas de produção que ainda são masculinas, pela atenção ao detalhe, o que acaba acarretando ao diferencial de toda uma linha de produção.
Ainda trabalhando em produção, Rosi consegue ser feminina, usa maquiagem e comemora a mudança do uniforme para um modelo mais bonito. Ela só não usa joias por questões de segurança e porque o setor não permite.
Bagaceira
Segundo ela foi no seu primeiro emprego que ela recebeu o apelido que a tornou famosa, “Bagaceira”. “Depois que eu saí da Lorenzetti fiquei três anos trabalhando em comércio e achei que tinha perdido o apelido. Quando entrei para trabalhar em outra indústria lá estavam meus colegas de Lorenzetti trabalhando e me chamando de Bagaceira, apelido que está até no meu capacete. Ele surgiu depois que a Lorenzetti vendeu a fábrica para a Legrand e vieram alguns gestores de fora, que tinham um jeito diferente de falar e como eu era assistente de líder, a minha líder falava ‘bagaceira venha aqui, bagaceira pega lá’ e eu também peguei o costume de chamar de bagaceira. O apelido pegou em mim e ficou, mas eu gosto que me chamem assim, não levo para o pessoal e acho até divertido”, revela.
Sindicato
Com as mudanças na Lei 13.467/2017, como por exemplo o desconto da contribuição sindical tornar-se uma opção do empregado e não mais uma obrigação, os sindicatos têm perdido a força, porém ainda é válido o destaque para a sua importância entre as classes de trabalhadores.
“Nós estamos disponíveis para que o trabalhador tire dúvidas sobre seus direitos e seus deveres e também para que ele registre denúncias, inclusive anônimas. Nós também podemos estar presentes durante a homologação da rescisão do contrato entre o trabalhador e a empresa, algo que não é mais obrigatório. Isso pode acontecer independente se a pessoa é sindicalizada ou não, basta procurar o sindicato da sua categoria. Podemos fazer também a revisão de cálculo de rescisão, se for desejo dela”, explica Sidnei Iarek, diretor financeiro da Sindimovec.
“O importante é você conhecer seus direitos, seus deveres e cumprir o seu trabalho de forma íntegra e justa. Também é preciso que você adquira os conhecimentos por vias seguras e não se informe por terceiros, faça da visão do outro a sua também. Ninguém sabe melhor da sua condição do que você mesmo”, reafirma Rosi.
Ambos afirmam ainda que a partir do conhecimento, os trabalhadores adquirem consciência e evitam se submeter a cumprimento de funções extras. “É muito comum que aceitem funções ou tarefas que não diz respeito a eles por medo de ficar sem emprego, visto a grande crise de desempregados que assola o país. É importante não ser injusto consigo mesmo. Os trabalhadores que nós representamos não têm problemas dessa proporção, mas é comum virem outras pessoas, de outras categorias aqui para contar essa situação. Nossa orientação é que busque ajuda com o sindicato da sua categoria, para que ele investigue ou averigue o que está acontecendo naquela empresa”, finaliza Sidnei.