Nas últimas semanas, a catarinense Bettina Ru­dolph, de 22 anos, viralizou na internet após ter afirmado em um vídeo – propaganda de uma pla­taforma de investimentos – que já possuía um “patrimônio acumulado de R$ 1,042 milhão”, conquistado a partir de um investimento de pouco mais de R$ 1.500, em um perío­do de quatro anos.

A Folha de Campo Largo conversou com o consultor fi­nanceiro Antônio Carlos Gomes Junior, que ainda não ti­nha visto o vídeo da Bettina, mas fez uma avaliação com os dados passados. “Avaliando um investimento único de R$ 1.500 para em quatro anos chegar a R$ 1.042, o retor­no anual necessário seria de 413,39%. Caso fossem inves­timentos mensais de R$ 1.500, o retorno necessário anual seria de 182,38%, ou 9,94% ao mês. No mesmo período, a variação média anual do Ibovespa foi de 17,16%, da Pou­pança 6,73%, da Inflação 5,34%, do CDI 10,53% (fonte site XP).”

Ou seja, o retorno seria muito acima da variação mé­dia anual. Ele explica que os investimentos em ativos finan­ceiros têm uma grande variedade de oportunidades, que vão desde as mais conservadoras até as mais arriscadas, das que precisam de atuação constante e das que exigem apenas acompanhamento. “Enfim, o ‘veículo’ ideal depen­de muito da familiaridade do investidor, sua tolerância a ris­co (altos ganhos e altas perdas), do capital investido e do momento do mercado. Por isso, nem sempre o que é ótimo para alguém será para o outro. Tomar decisão somente com base em histórico é dirigir um carro olhando pelo retrovisor. É importante esse campo de visão, mas não garante segu­rança no caminho. Investimentos no patamar apresentado no vídeo são praticamente fora da realidade”, alerta.

Por isso, Antônio orienta que pessoas interessadas em realizar investimentos, procurem fontes confiáveis de infor­mação, realize cursos, literaturas e profissionais. “Não é ne­cessário tornar-se um expert, mas é importante entender parte do que se fala e ter alguém de confiança ao lado. Um bom planejador financeiro é o profissional ideal para auxiliar nesse momento”, orienta.

Correr riscos pode ser positivo

Não são poucos os riscos, mas eles são essenciais no processo de investimentos, conforme explica o especialis­ta. Há risco de liquidez, quando o dinheiro está ou não dis­ponível no momento que deseja, risco de mercado, que é a oscilação dos preços com a passagem de tempo, valorizan­do ou desvalorizando, risco da inflação, que é a capacidade de compra de um valor ao longo do tempo, risco jurídico/ci­vil, por questões contratuais ou legislação ou ainda penali­zações o valor ser bloqueado ou perdido. Segundo ele, até “guardar dinheiro no colchão” apresenta riscos, pois “vai que a casa incendeia”.

“Cada momento ou tipo de investimento deve ser ava­liado. Não há nada 100% seguro. Diz-se no mercado que os títulos mais seguros são os do Governo Federal (Tesou­ro Direto), falando em Brasil. No mundo seriam os títulos do Governo Americano (Treasuries Bonds), mas mesmo assim todos têm riscos”, orienta.

Para iniciar em um mercado de investimentos, é impor­tante que tenha conhecimento do seu perfil de investidor, para que então amadureça suas percepções, definir obje­tivos, finalidades. Antônio também adverte para a impor­tância de ter uma reserva de emergência, de fácil acesso. Antônio ressalta ainda que o investidor deve ter consciência que não existe dinheiro fácil e rápido e sempre desconfiar de soluções milagrosas.

É importante destacar que essa matéria não tem o obje­tivo de orientar, sugerir, avaliar qualquer investimento. É ape­nas uma informação de caráter ilustrativo. Não há garantia em qualquer investimento e há grandes riscos envolvidos.

“Nove milhões em multa acumulada”

No último dia 03 de abril, o Procon-SP publicou uma nota sobre a multa que será aplicada na empresa Empiri­cus, responsável pela propaganda da Bettina. A nota diz que será aplicada uma multa, com valor variável entre R$ 650 a R$ 9 milhões, por propaganda enganosa. Confira um trecho da nota oficial:

“(...) A afirmação da empresa de garantias de resultados de investimentos sob sua orientação, via movimentações fi­nanceiras no mercado variável de ações, demonstra-se en­ganosa e capaz de induzir o consumidor a erro, infringindo o artigo 37, §1º do Código de Defesa do Consumidor.

A multa será aplicada mediante procedimento adminis­trativo e, de acordo com a lei, é fixada entre um mínimo de 650 reais e o máximo de 9 milhões de reais, variando de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor. Havendo reincidência poderão ser aplicadas outras sanções, tal como suspensão temporária de atividade.

No dia 25 de março, a Fundação enviou uma represen­tação criminal contra a empresa ao Departamento de Po­lícia e Proteção à Cidadania da Polícia Civil de São Paulo - DPPC, tendo em vista a prática, em tese, de infração penal aos artigos 67 e 69 do Código de Defesa do Consumidor no que diz respeito à publicidade enganosa e propaganda abu­siva. No documento foi pedido a instauração de um inquéri­to policial contra a referida empresa para apuração de fatos potencialmente lesivos ao direito do consumidor e requer a adoção das providências legais cabíveis”.