Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 10:46:39
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Alunas de Campo Largo fazem projeto inovador e apresentarão na maior Feira de Ciências do mundo

Um tipo de isopor, feito a partir do sabugo de milho, já recebeu quatro grandes prêmios e reconhecimentos e agora levará as alunas Amanda e Jéssica aos Estados Unidos

Alunas de Campo Largo fazem projeto inovador e apresentarão na maior Feira de Ciências do mundo

Em meio a 1.500 trabalhos, vindos de todas as partes do mundo, haverá um projeto campo-lar­guense no Prêmio Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), que será realizado na primei­ra quinzena do mês de maio, em Phoenix, no Arizona, Esta­dos Unidos. E lá estarão também as alunas e idealizadoras do projeto, Amanda Maloste (17) e Jéssica Burda (16) apre­sentando na maior Feira de Ciências para alunos do Ensino Médio e Técnico do mundo.

Tudo começou quando elas participaram de uma olim­píada de Ciências e Matemática que acontece internamen­te no colégio onde estudam e no ano de 2017 foi lançado o desafio de fazer do alimento mais produzido na região e transformá-lo em algo inovador. “Como Campo Largo pro­duz muito milho, nós decidimos trabalhar com ele, porém o milho já é muito consumido, tanto o produto como os sub­produtos. O sabugo de milho em si não tem finalidade, então pensamos em pegar o material para tentar criar um aparato tecnológico”, relembra do início da trajetória a aluna Jéssica Burda, uma das idealizadoras do projeto.

A ideia delas foi levada para a linha de pensar em um tipo de isopor, pois também há muita preocupação am­biental envolvida no projeto – a decomposição do isopor é de 150 anos. Elas inicialmente trituraram o sabugo do milho e misturaram com água e trigo, porém ainda não era o resultado que desejavam, pois o material ficou mui­to próximo de um compensado de madeira. Foi então que elas pensaram em misturar com poliuretano, que é uma espuma rígida muito usada na construção civil. A mistura do sabugo triturado com a substância foram uma grande espuma, que quando cortada e talhada consegue ser en­caixada e recortada, especialmente para proteger equipa­mentos eletroeletrônicos.

“Nossa intenção sempre foi criar um produto mais biodegradável possível. O poliuretano é composto basi­camente de um isocianato – que vem da indústria petro­química – e de um poliol – que é proveniente da sacarose, um composto natural. Nós ainda estamos tentando melho­rar, usando o menor nível de toxicidade possível, já que existe uma infinidade desses compostos. Só pelo fato dele ter o sabugo de milho, já foram observados que a decom­posição dele seria mais acelerada, pois fizemos testes enterrando amostras pelo período de um e dois meses, comparando com o poliuretano puro. A presença de uma matéria orgânica no meio fez com que degradasse natu­ralmente, ou seja, é bem viável do ponto de vista susten­tável”, explica Jéssica.

As análises mostraram que o produto desenvolvido por elas é superior em resistência e absorção do impacto do que o próprio poliuretano, utilizado para substituir o isopor. O custo também foi analisado por elas e perceberam que o preço é o mesmo para um produto de maior qualidade. Não há tempo hábil para melhorias no projeto, para a apresenta­ção nos Estados Unidos, mas há intenção de tornar o pro­duto não-inflamável, por exemplo, entre outros.

As alunas estão finalizando o projeto e em fase de pa­tentear a criação. Elas já haviam participado de algumas Feiras de Ciências. “Na primeira feira que participamos, em Foz do Iguaçu, não ganhamos nada. Na segunda, fomos para a Febrace, quando conquistamos o quarto lugar. De lá fomos para o Rio Grande do Sul apresentar, participamos da FiCiências e conquistamos o segundo lugar. E a maior conquista veio na última sexta-feira (22)”, relembra.

Nesta última participação, na 17ª Feira Brasileira de Ci­ências e Engenharias, elas competiram com mais de 300 projetos finalistas e conquistaram quatro prêmios, sendo eles o “The 2019 Regional Ricoh Sustainable Development Award”, que certificou o projeto como o que apresenta as melhores técnicas inovadoras com potencial desenvolvi­mento sustentável; Prêmio Destaque Unidades da Federa­ção - como o melhor trabalho do Estado do Paraná; 2º lugar na categoria Ciências Exatas e da Terra e, o mais deseja­do pelos participantes, o Prêmio Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), e a oportunidade de apre­sentar o projeto nos EUA, com as despesas das alunas pa­gas. Elas irão compor a delegação brasileira que levará 13 projetos selecionados neste e em outros eventos científicos.

Alegria sem fim

“Quando foi divulgado o resultado foi uma mistura de sentimentos. Não foi esperado, pois parecia distante, foi algo realmente inexplicável, eu literalmente caí, chorei e sor­ri muito”, relembra Jéssica.

Elas embarcam no dia 10 de maio para São Paulo, mas a Feira acontece a partir do dia 17 de maio. Em São Pau­lo, elas serão assistidas por instrutores da Universidade de São Paulo (USP), que passarão recomendações sobre o evento. Serão 1.500 trabalhos e mais de 2.000 avaliadores, inclusive alguns indicados ao prêmio e ganhadores do Prê­mio Nobel. As avaliações acontecem 24 horas, mesmo em tempos de descanso, quando elas não estiverem na feira. As apresentações podem ser feitas em inglês ou em por­tuguês com o auxílio de um intérprete. As meninas serão acompanhadas pela co-orientadora do projeto, a professora Juliana Regina Kloss.

A professora orientadora Juliana Vidal não poderá via­jar, mas sente a alegria de “mãe” por orgulho das suas alu­nas. “Essa é a primeira vez que alunas minhas conquistam tamanha grandiosidade, e eu tenho nove anos de docência, trabalhando em pesquisa desde 2016. Elas pesquisam há um ano e meio e vejo o tempo que elas se dedicam e a ma­neira como se debruçam sobre o projeto, consequentemen­te é o que tem maior reconhecimento. De certa forma eu também fico eufórica, porque é uma novidade e um desa­fio para mim também. Os demais alunos também se sentem motivados e nós temos que dar esse suporte. Da mesma forma eu fico feliz porque elas se encontraram na profissão de uma forma tão bonita e natural.”

De olho no futuro

Após a participação na feira, as meninas querem inscre­ver o produto também no Congresso Brasileiro de Políme­ros, visando a oportunidade de participar de um congresso voltado para o mundo acadêmico das universidades, porém, ainda sendo estudantes do Ensino Médio.

As meninas também querem no ano que vem ingressar na faculdade de bacharelado de Química, e desde agora já veem a possibilidade de continuar estudando o produto que elas mes­mas criaram, além de estudar as propostas que estão surgindo.