Um tipo de isopor, feito a partir do sabugo de milho, já recebeu quatro grandes prêmios e reconhecimentos e agora levará as alunas Amanda e Jéssica aos Estados Unidos
Em meio a 1.500 trabalhos, vindos de todas as partes do mundo, haverá um projeto campo-larguense no Prêmio Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), que será realizado na primeira quinzena do mês de maio, em Phoenix, no Arizona, Estados Unidos. E lá estarão também as alunas e idealizadoras do projeto, Amanda Maloste (17) e Jéssica Burda (16) apresentando na maior Feira de Ciências para alunos do Ensino Médio e Técnico do mundo.
Tudo começou quando elas participaram de uma olimpíada de Ciências e Matemática que acontece internamente no colégio onde estudam e no ano de 2017 foi lançado o desafio de fazer do alimento mais produzido na região e transformá-lo em algo inovador. “Como Campo Largo produz muito milho, nós decidimos trabalhar com ele, porém o milho já é muito consumido, tanto o produto como os subprodutos. O sabugo de milho em si não tem finalidade, então pensamos em pegar o material para tentar criar um aparato tecnológico”, relembra do início da trajetória a aluna Jéssica Burda, uma das idealizadoras do projeto.
A ideia delas foi levada para a linha de pensar em um tipo de isopor, pois também há muita preocupação ambiental envolvida no projeto – a decomposição do isopor é de 150 anos. Elas inicialmente trituraram o sabugo do milho e misturaram com água e trigo, porém ainda não era o resultado que desejavam, pois o material ficou muito próximo de um compensado de madeira. Foi então que elas pensaram em misturar com poliuretano, que é uma espuma rígida muito usada na construção civil. A mistura do sabugo triturado com a substância foram uma grande espuma, que quando cortada e talhada consegue ser encaixada e recortada, especialmente para proteger equipamentos eletroeletrônicos.
“Nossa intenção sempre foi criar um produto mais biodegradável possível. O poliuretano é composto basicamente de um isocianato – que vem da indústria petroquímica – e de um poliol – que é proveniente da sacarose, um composto natural. Nós ainda estamos tentando melhorar, usando o menor nível de toxicidade possível, já que existe uma infinidade desses compostos. Só pelo fato dele ter o sabugo de milho, já foram observados que a decomposição dele seria mais acelerada, pois fizemos testes enterrando amostras pelo período de um e dois meses, comparando com o poliuretano puro. A presença de uma matéria orgânica no meio fez com que degradasse naturalmente, ou seja, é bem viável do ponto de vista sustentável”, explica Jéssica.
As análises mostraram que o produto desenvolvido por elas é superior em resistência e absorção do impacto do que o próprio poliuretano, utilizado para substituir o isopor. O custo também foi analisado por elas e perceberam que o preço é o mesmo para um produto de maior qualidade. Não há tempo hábil para melhorias no projeto, para a apresentação nos Estados Unidos, mas há intenção de tornar o produto não-inflamável, por exemplo, entre outros.
As alunas estão finalizando o projeto e em fase de patentear a criação. Elas já haviam participado de algumas Feiras de Ciências. “Na primeira feira que participamos, em Foz do Iguaçu, não ganhamos nada. Na segunda, fomos para a Febrace, quando conquistamos o quarto lugar. De lá fomos para o Rio Grande do Sul apresentar, participamos da FiCiências e conquistamos o segundo lugar. E a maior conquista veio na última sexta-feira (22)”, relembra.
Nesta última participação, na 17ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharias, elas competiram com mais de 300 projetos finalistas e conquistaram quatro prêmios, sendo eles o “The 2019 Regional Ricoh Sustainable Development Award”, que certificou o projeto como o que apresenta as melhores técnicas inovadoras com potencial desenvolvimento sustentável; Prêmio Destaque Unidades da Federação - como o melhor trabalho do Estado do Paraná; 2º lugar na categoria Ciências Exatas e da Terra e, o mais desejado pelos participantes, o Prêmio Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), e a oportunidade de apresentar o projeto nos EUA, com as despesas das alunas pagas. Elas irão compor a delegação brasileira que levará 13 projetos selecionados neste e em outros eventos científicos.
Alegria sem fim
“Quando foi divulgado o resultado foi uma mistura de sentimentos. Não foi esperado, pois parecia distante, foi algo realmente inexplicável, eu literalmente caí, chorei e sorri muito”, relembra Jéssica.
Elas embarcam no dia 10 de maio para São Paulo, mas a Feira acontece a partir do dia 17 de maio. Em São Paulo, elas serão assistidas por instrutores da Universidade de São Paulo (USP), que passarão recomendações sobre o evento. Serão 1.500 trabalhos e mais de 2.000 avaliadores, inclusive alguns indicados ao prêmio e ganhadores do Prêmio Nobel. As avaliações acontecem 24 horas, mesmo em tempos de descanso, quando elas não estiverem na feira. As apresentações podem ser feitas em inglês ou em português com o auxílio de um intérprete. As meninas serão acompanhadas pela co-orientadora do projeto, a professora Juliana Regina Kloss.
A professora orientadora Juliana Vidal não poderá viajar, mas sente a alegria de “mãe” por orgulho das suas alunas. “Essa é a primeira vez que alunas minhas conquistam tamanha grandiosidade, e eu tenho nove anos de docência, trabalhando em pesquisa desde 2016. Elas pesquisam há um ano e meio e vejo o tempo que elas se dedicam e a maneira como se debruçam sobre o projeto, consequentemente é o que tem maior reconhecimento. De certa forma eu também fico eufórica, porque é uma novidade e um desafio para mim também. Os demais alunos também se sentem motivados e nós temos que dar esse suporte. Da mesma forma eu fico feliz porque elas se encontraram na profissão de uma forma tão bonita e natural.”
De olho no futuro
Após a participação na feira, as meninas querem inscrever o produto também no Congresso Brasileiro de Polímeros, visando a oportunidade de participar de um congresso voltado para o mundo acadêmico das universidades, porém, ainda sendo estudantes do Ensino Médio.
As meninas também querem no ano que vem ingressar na faculdade de bacharelado de Química, e desde agora já veem a possibilidade de continuar estudando o produto que elas mesmas criaram, além de estudar as propostas que estão surgindo.