Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 10:41:36
Geral

A normalização do alcoolismo pode gerar impacto negativo na sociedade

Um dos grupos mais propensos à influência negativa são os adolescentes e jovens, que embora, muitas vezes ainda não tenham idade para usar as redes sociais, estão nelas e absorvem o que veem.
A normalização do alcoolismo pode gerar impacto negativo na sociedade

Às vezes é na inocência, mas postar foto de uma latinha de cerveja, uma taça de vinho ou outras bebidas de teor alcóolico podem gerar impactos negativos na sociedade, especialmente entre os adolescen­tes e jovens, tornando isso no futuro um problema de saú­de pública. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, a OMS, no ano de 2016 o brasileiro bebeu 8,9 litros de bebidas alcóolicas, superior à média mundial, que foi de 6,4 litros por pessoa. O álcool também foi apontado como responsável pela morte de 3,3 milhões de pessoas em todo o mundo.

No próximo dia 18 de fevereiro será o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, e uma tática para chamar a aten­ção é o uso frequente das redes sociais para normalizar o problema e até glamorizá-lo. Recentemente, o ator glo­bal Fábio Assunção falou sobre a música, que vem sendo apontada como hit do Carnaval 2019, e que envolve a sua história. Entre os trechos, há versos como “Bota o copo pra cima quem ta modo Assunção ae / Ai bebe, ai bebe hoje eu não vou pra casa /.../ Hoje eu vou virar / O Fábio Assunção”, da Banda La Fúria. Ao invés de censurar, Fábio teve a ati­tude de reverter os lucros arrecadados com a música para ajudar pessoas que lutam contra o alcoolismo. “Eu não en­dosso, de maneira nenhuma, essa glamourização ou zuei­ra com a nossa dor. Minha preocupação é com quem sente na pele a dor de ser quem é. Com as suas famílias”, disse o ator em suas redes sociais. A música teve como inspira­ção os “memes” divulgados, que mostram o ator em situa­ção de embriaguez.

A Folha de Campo Largo conversou com a psicóloga Él­len Martins, que explicou que as redes sociais acabam, sim, influenciando de forma negativa, com todo o conteúdo que é exposto por seus usuários – desde os corpos “perfeitos” até o uso indiscriminado de bebidas alcóolicas e as brincadei­ras que acabam surgindo no meio dessa situação.

“É uma normalização, tentam mostrar que tudo aqui­lo é bom, é comum e que faz bem, quando na verdade não é. É muito semelhante ao que acontecia durante os filmes mais antigos com relação ao cigarro. Fumar era bonito, era status social e depois foi descoberto que era extremamen­te prejudicial à saúde. Hoje, quando tentamos expor um pro­blema nas redes sociais tudo é visto como ‘mimimi’, ‘textão’, problematização exagerada, porém é tudo na intenção de conscientizar, especialmente em casos que envolve a saú­de das pessoas. As bebidas alcoólicas já foram protagonis­tas de vários desfechos trágicos de casamentos, famílias e causa de acidentes, não podemos tratar isso como algo normal.”

Um dos grupos mais propensos à influência negativa são os adolescentes e jovens, que embora, muitas vezes ainda não tenham idade para usar as redes sociais, estão nelas e absorvem o que veem. “A fase da adolescência é aquela que eles saem do convívio social apenas no seio fa­miliar e são introduzidos a outras realidades, contato com outras pessoas de culturas diferentes e muitas vezes pre­cisam se sentir aceitos. Quando há essa necessidade de aceitação, o adolescente – principalmente – pode dizer e fa­zer coisas que se estivesse com a família não faria ou que ele não quer fazer, isso inclui beber álcool e usar drogas. Ele é altamente influenciável e quer ser tão ‘independente’ quanto o seu amigo”, explica.

Por isso, a conversa e o diálogo na família devem sem­pre prevalecer. “É um momento de descobertas, tudo é mui­to novo e eles querem descobrir as sensações que o mundo pode oferecer. É imprescindível a presença de uma famí­lia unida e atuante, que conversa e sabe o que acontece com ele, para prevenir que algum mal o aflinja. Os pais, tios, avós – pessoas com mais experiência – devem sempre es­tar disponíveis e atendê-los sem julgamentos e dividir a sua experiência. Isso evita que ele entre em problemas no futu­ro”, recomenda.

Segundo a psicóloga, a bebida hoje é de fácil aces­so, à venda em quase todos os estabelecimentos comer­ciais do ramo alimentício. Também há romantização do seu consumo nas músicas, especialmente sertanejas, onde o personagem vai para o bar, beber e conversar sobre seus problemas com os amigos, afim de esquecê-los. “Na vida real, se a pessoa vai para o bar, ‘beber para esquecer’ os problemas do casamento, financeiro e outros, ela vai aca­bar com um problema ainda maior para resolver. Problemas é preciso enfrentar, resolver e não disfarçar. Se você precisa de ajuda, médicos, psicólogos, terapeutas estão aqui para isso e se você precisa beber para se sentir feliz e completo, já existe um problema instaurado”, reforça.

“Quanto às postagens, compartilhamento de imagens e piadas de pessoas embriagadas, a empatia deve sempre prevalecer. Antes de publicar a imagem ou vídeo em si ou um comentário, analise ‘e se isso fosse com meu pai, meu marido, minha filha? Como eu reagiria?’, pois é quando nós nos colocamos no lugar do outro que podemos ter um pou­co de noção de como aquilo pode atingir alguém”, diz.

Vício

De acordo com Éllen, o vício é tratado como um trans­torno mental. Chegar à conclusão que é alcoólatra não é uma tarefa fácil, mas pode ser seguida em três passos: ana­lisar a abstinência – quanto tempo consegue ficar sem in­gerir bebidas alcoólicas; como isso tem prejudicado a vida daquela pessoa e seus relacionamentos sociais; e também a tolerância – uso de bebidas fortes e doses altas.

“É importante sempre tentar conversar com a pessoa, caso ela crie resistência em buscar ajuda, tentar levar ela a um médico, pode ser um clínico geral mesmo de início, que irá ajudar no diagnóstico. Hoje existem várias clínicas e pro­fissionais que podem ajudar na recuperação dessa pessoa, tanto no particular, como no SUS. O primeiro passo é que­rer ajuda”, orienta.