Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 12:40:11
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Amigos romeiros pedalam mais de 600 km e vão à Aparecida do Norte de bicicleta

A fé é capaz de mover a vida de milhares de pessoas, entre elas, de dois campo-larguenses que foram à Aparecida do Norte de bicicleta, pedalando durante quatro dias. Eles contam em detalhes como foi a aventura.

Amigos romeiros pedalam mais de 600 km e vão à Aparecida do Norte de bicicleta

“A fé foi o que deu muita força para nós”, é o que con­tam dois amigos que se aventuraram em uma roma­ria sentido à Aparecida do Norte, no Estado de São Paulo, de bicicleta, no último dia 22 de outubro. Foram qua­tro dias de viagem, pedalando uma média de 170 km por dia, para alcançar o destino; a volta foi de ônibus. Os ami­gos Pedro Jorge Ferreira (46) e Claudinei Ribeiro (45), co­nhecido como Dine, contaram em detalhes a viagem para a Folha de Campo Largo.

“A ideia surgiu quando fomos até a Lapa de bicicleta, pagar uma promessa de um amigo que havia sofrido um aci­dente. O Dine, estava comigo e perguntou quando eu entra­ria em férias. Eu disse que era em outubro e ele falou que estava pensando em ir para Aparecida do Norte de bicicle­ta e queria que eu fosse junto. Não consultei ninguém, mas aceitei o convite na hora. Isso aconteceu entre junho e julho. Nós não conversamos mais sobre isso, só voltamos a falar nos dias que antecediam a viagem”, relembra.

Eles contam que ninguém acreditava e comentários como “vocês são loucos” eram bem comuns. O trajeto já ha­via sido definido com antecedência, mas precisou ser altera­do ao longo do percurso. Os amigos relembram que era um trajeto com muita subida, apesar dos moradores da região falarem o contrário. No percurso, eles chegaram a encontrar mais de 100 romeiros, a maioria a pé, mas viram o exemplo de um senhor de 69 anos que saiu de Apucarana e estava indo de bicicleta até lá. Na cidade, contam que conheceram outros ciclistas que partiram de estados como Minas Gerais.

Ambos já praticam o ciclismo há algum tempo, principal­mente em competições na região. “Nós éramos totalmente lei­gos no assunto, foi a primeira vez que saímos para longe. Já fomos para o litoral do Paraná, para cidades vizinhas, mas nunca uma viagem tão intensa. Contamos com dicas de ci­clistas e amigos mais experientes para nos preparar, mas nin­guém tinha feito ainda esse trajeto, então nós desbravamos. Nossa ideia era chegar até a sexta-feira, para retornar no sá­bado, mas chegamos um dia antes, na quinta. Ainda deu para passear um dia, conhecer a cidade”, relembra Dine.

Para a viagem, eles procuraram levar poucas coisa, para não ter tanto peso. Entre os itens estão ferramentas para manutenção rápida nas bicicletas, remendo para pneu, câmara, alforjes com roupas para trocar no hotel – detalhe para a importância do chinelo destacado por eles após ho­ras pedalando –, suplementos (um gel para carga rápida de energia), alimentos saudáveis e água.

“Na segunda, quando saímos, estava um tempo bom, nu­blado, não estava frio nem calor, ideal para pedalar. Na terça o sol estava muito forte, mais de 30ºC no Vale da Ribeira. Na quarta e na quinta foi difícil, pois estava chovendo muito for­te e muito frio. Além da condição climática mesclar a chuva e o vento, também tinha o vento dos caminhões, água que es­pira na gente e deixa tudo sujo. Fica difícil de remendar uma câmara, pois está tremendo de frio, na chuva”, relembra Dine.

Os amigos destacam o bom relacionamento com os ca­minhoneiros, que davam boas dicas e respeitavam muito a presença deles na rodovia. “Eles eram bem sinceros e sem­pre alertavam a gente dos perigos das estradas, também ajudavam a escolher o melhor caminho. Foi uma ajuda bem significativa, eles são bem mais respeitosos”, ressalta Dine.

Na aventura eles emagreceram quatro quilos, e contam que às vezes não era possível parar para comer. Um dos dias não tiveram como se alimentar direito pois iriam sair muito do trajeto, quando passaram a café – dos postos de assistência ao usuário das rodovias – e energético.

Momentos difíceis

Como em toda viagem, houve momentos complicados. Eles destacam os trechos em São Paulo, com pistas com muitas entradas, que precisavam ficar atentos aos motoris­tas que entram em velocidade de pista – entre 80 e 100 km/h –, então já começa a cair o rendimento por estar em constante estado de alerta. Em alguns trechos que não ti­nha acostamento para que eles pudessem passar, por isso, precisavam trafegar na pista mesmo, mais no canto, o que também gerava uma certa angústia, apesar das distâncias serem menores nessas áreas.

O dia de maior aflição foi dentro de um túnel, na quar­ta-feira, que furou o pneu da bicicleta do Dine. “Túnel com 1.110 metros de comprimento, já tínhamos passado uns 600 metros, quando furou o pneu. Como estava chovendo, o pneu estava molhado, câmara molhada, remendo não pa­rava, escuro, vento que encanava, cansado, com fome, nós tremendo de frio. Foi bem tenso. Passa muita coisa pela ca­beça da gente, menos a desistência”, conta Pedro.

Além disso, relembram que encontraram muitos “curio­sos”, que queriam saber os valores das bicicletas, pediam para ver, ou faziam muitas perguntas. “Fora isso, fomos mui­to bem recebidos pelo povo de São Paulo, foram muito aten­ciosos com a gente”, diz.

Contato com a família

Os contatos com os familiares acontecia somente na par­te da noite, o que os deixava um pouco aflitos. “De dia era muito raro ter contato porque você precisa manter-se focado no pedal. Eu entendo que foi difícil para eles porque nós está­vamos lá, sabendo o que estava acontecendo, enquanto eles acabavam pensando o dia todo em como nós estávamos, se estava tudo bem, se estava dando certo”, relembra Dine.

“Chegava no hotel só dava mensagem chegando sem parar. ‘Onde você tá?’, ‘porque não falou comigo antes’, ‘onde vocês estão’. Mas realmente só era possível ter aten­ção na noite mesmo”, completa Pedro.

Amizade de infância e de fé

A dupla tem uma amizade de longa data, mais de 40 anos juntos e acredita que foi renovada com essa viagem. “Só nós dois sabemos pelo que passamos. Nossa amizade, que já era muito sólida, agora está muito mais. Somos par­ceiros para o resto das nossas vidas”, diz Dine. “Nossa ami­zade era tão forte que não precisávamos conversar o dia todo para saber o que o outro estava sentindo. Isso não há preço que pague”, completa Pedro.

“A fé foi o que nos moveu até esse objetivo. Na jornada nós íamos orando em pensamento, nos conectou muito com Deus. Nós falamos sobre os aspectos físicos, mas a fé tam­bém foi renovada. Foi muito bom”, conta Pedro.

“Quando chegamos na cidade, erguemos a bicicleta e caiu a ficha que nós vencemos, desabamos. Foi maravilho­so, uma sensação indescritível”, finaliza Dine