Compositores campo-larguenses contam sua trajetória na carreira e sobre as características que fazem um bom compositor
A música faz parte da tradição e da cultura popular de qualquer povo. Ela pode representar várias características, inclusive comportamentais ou até mesmo movimentos sociais, de acordo com o que aquele músico representa. No último dia 07 de outubro foi comemorado o Dia do Compositor Brasileiro, que celebra a música e a arte de compositores como Heitor Villa-Lobos, Chico Buarque, Gilberto Gil, Cazuza, João Gilberto, Tom Jobim, Cartola, Raul Seixas, Caetano Veloso, Noel Rosa, Vinícius de Moraes, que marcaram a história do país e outros milhares de profissionais que também encantam multidões com suas músicas.
A Folha de Campo Largo conversou com dois compositores campo-larguenses, que contaram as principais características para formar um bom compositor, um que compõe músicas românticas e bastante conhecido dos campo-larguenses, Silvio Ruan, e outro que se dedica à música gospel e é bastante conhecido no meio, Alexandre Druciak.
Silvio Ruan
Famoso pelo hit “De fusquinha não”, música que foi tocada em cinco estados e regravada por várias duplas e cantores, Silvio Ruan é um veterano no ramo musical. Com 31 anos dedicados somente à composição e à música, ele acredita que já tenha escrito 300 músicas. Seu estilo de música é mais voltado para o romântico, muitas vezes adaptado para o sertanejo. “Possuo sete CDs gravados, na maioria são músicas minhas mesmo, as autorais, voltadas para o romântico, que são letras que falam de amor com melodia mais melancólica. Tenho músicas minhas gravadas por cantores de todo o Paraná, como Willian e Renan, J.Jr e Rodrigo, Banda Lefigarroo e mais outras. A minha música de maior sucesso, que foi a “De fusquinha não”, foi regravada por uma dupla de índios do Mato Grosso, uma dupla de eletrônico do Rio Grande do Sul e uma banda de estilo alemão de Santa Catarina.”
Por ter uma vasta experiência no mercado musical, Silvio conta que pode acompanhar toda a evolução do setor, que entre os anos de 1989 a 1997 girava em torno do eixo São Paulo/Rio de Janeiro. “Antigamente não existia estúdios de gravadoras aqui em Curitiba. Você precisava viajar longe para poder gravar. Lembro-me muito bem da primeira vez que vi a minha música criando vida dentro de um estúdio, foi uma emoção muito forte. Eu tenho em casa hoje um estúdio musical, local que eu trabalho. Isso é bom porque democratiza muito o setor”, ressalta.
Ele conta ainda que, antigamente, para o artista conseguir um Disco de Ouro, muito famigerado pelo setor da música, ele precisava vender pelo menos um milhão de cópias, atualmente, o mesmo prêmio é dado ao artista que consegue vender 100 mil discos. “Hoje tudo gira em torno da internet. Compositores podem lançar suas músicas e fazer muito sucesso nas redes sociais, despertando interesse de grandes artistas. Esse é o sonho da maioria dos compositores, ver sua música sendo cantada por grandes artistas do cenário nacional”, revela.
As inspirações podem ser muitas e há dias que a música acorda pronta na cabeça, apenas basta escrever. Silvio diz que a composição leva tempo para ficar pronta, pois muitas vezes precisa de muita revisão para ficar ‘perfeita’. “Na maioria das vezes cabe ao compositor também fazer o arranjo musical. Neste caso é preciso ter bastante conhecimento dos instrumentos musicais, pois é no arranjo que definimos a entrada de um piano, o que a guitarra, baixo e bateria irão fazer. Essa parece uma parte complicada, mas é muito natural. O mais interessante da música é que apesar de ser formada por apenas sete notas musicais, existe uma imensidão de canções criadas”, diz.
Atualmente trabalhando com a criação de jingles – mensagem musical publicitária – ele conta que às vezes é preciso escrever sobre pressão. “Claro que há dias que parece que a música não vem, mas você precisa entregar o material ao cliente. Música é inspiração, percepção à flor da pele, é observar o que acontece ao seu redor. Tudo isso contribui para que o artista estimule a sua mente e escreva canções capazes de embalar gerações por dias, meses, anos e até mesmo séculos”, finaliza.
Alexandre Druciak
O campo-larguense é envolvido desde pequeno com a música. Ele teve seu primeiro contato com a música dentro da igreja. “Sempre fui autodidata, tive poucas aulas com professores. A composição surgiu por acaso, aos 17 anos, quando fiz uma paródia na escola. Nunca achei que seria capaz porque era algo que eu não compreendia como se fazia e imaginava que era complexo, cheio de regras. Pouco depois, inspirado por uma ‘paixonite’ escrevi uma poesia, só pra ver o que sairia e tentei musicar, resultando em uma música que fez sentido.”
Questionado sobre como é escrever músicas gospel, por serem em geral baseadas na Bíblia Sagrada e com um público bastante diferente, Alexandre explica que o mundo dele gira em torno do Cristianismo e o seu relacionamento com Deus acaba inspirando as músicas nesse estilo. “Gosto de músicas que levam esperança, alegria, que difundam minha crença em um Deus real e presente. Ela é mais uma forma que tenho para contribuir com a missão que Deus confia a cada cristão, a de levar esperança e salvação a todos quanto possível. Os CDs que eu gravei, assim como as composições, podem chegar a pessoas que eu mesmo talvez nunca alcançasse pessoalmente. É como posso expressar de forma mais pessoal o que eu penso e sinto, minhas experiências, meus desejos e sonhos, sem dúvida, aos meus olhos, um dom de Deus que procuro usar em prol das pessoas”, diz.
Apesar de não se dedicar inteiramente à música, ele conta que já escreveu 30 músicas, e julga serem todas importantes e as guarda de forma especial. Sua primeira música gravada em estúdio foi por um cantor de São Paulo, que é seu amigo. Uma canção especial é a do nascimento de seu filho, cantada apenas uma vez durante a dedicação do menino a Deus. Alexandre estima que tenha entre 17 e 20 canções gravadas por mais de um cantor ou grupo musical, todos gospel. Ele também já gravou suas músicas autorais em estúdio, em um total de nove. Fez parte de vários grupos musicais, entre eles o Virtus Quarteto, formado por ele, mais dois campo-larguenses e um outro cantor araucariense.
Alexandre conta ainda que já participou de apresentações em praça pública, ginásios, teatros, igrejas, ônibus, casas de recuperação de dependentes químicos, asilos, programa de TV e até mesmo eventos transmitidos para toda América Latina toda. “Da mesma maneira, já cantei para famílias em luto em um funeral ou para uma pessoa no leito de morte, tentando trazer uma mensagem de esperança. Tento ter sempre em mente ‘ir aonde Deus mandar’”, diz.
Além de escrever, o cantor também faz versões ou traduções de músicas americanas para o Português. Segundo ele, essa tarefa envolve preocupações com a métrica, rima e as terminações de frases, sem perder a essência da música, para tentar fazer a fonética se aproximar do original. Mantendo essas características, faz com que o cantor consiga interpretá-la de forma mais fácil, além de causar o reconhecimento da letra original no ouvinte.