Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 01:53:25
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Autocrítica é essencial para reconhecimento do traço bagunceiro

Psicóloga fala sobre perfil de bagunceiros e diz que a autocrítica é o primeiro passo para mudança de comportamento e organização.

Autocrítica é essencial para reconhecimento do traço bagunceiro

Quem nunca sofreu com a bagunça, que atire a primeira pedra. É perfeitamente normal alguns momentos de bagunça; casa, quarto, carro, bol­sa desorganizados, mas pessoas que acabam tendo prefe­rência pela desorganização podem acabar perdendo obje­tos e algo muito mais precioso: o tempo.

A psicóloga Angélica Neris explica que existem dife­rentes tipos de bagunça e de ordem, para poder classificar dentro dos padrões “certo e errado”. “A questão é saber se de fato a pessoa consegue se encontrar na bagunça ou se isso é um álibi para não precisar mudar, se sustenta essa justificativa para não ter que buscar outras formas mais efi­cazes de se organizar. Há ‘bagunceiros’ e bagunceiros, há os que deixam as coisas espalhadas por todos os lados, pelo quarto, pelo carro e não perdem prazos, compromissos e nem perdem muito tempo para achar o que precisam. E há os que se irritam por não encontrar nada, por perderem coi­sas, por perderem tempo, e a bagunça, neste caso, começa a trazer prejuízos em várias áreas da vida.”

Ela explica que a pessoa que é bagunceira pode ser influenciada por vários, envolvendo aspectos gerais e específicos, envolvendo três áreas do corpo: o pensar, o sentir e o agir. “Eu posso pensar em organizar, posso sentir-me incomodado com minha bagunça, posso sentir desejo em mudar esse jeito bagunceiro, mas não consigo ter ação para tirar esta mudança do imaginário e leva­-la para o real, em levar para o concreto. Há também a influência da forma e a história familiar de organizar-se, se nasci numa família organizada demais, posso querer não ser assim e ser totalmente oposto, neste caso pola­rizo sendo bagunceiro, nada de coisas no lugar, ou de priorizar a arrumação. Ou posso ser igual minha família bagunceira”, diz.

Um aviso que essa mudança é necessária acontece quando começam os problemas de ordem social, relacio­namentos com outras pessoas. Angélica diz que é preciso fazer uma análise autocrítica, visando avaliar se esse traço está trazendo dificuldades para o dia a dia, como atrasos, perda de documentos ou papéis importantes, até mesmo esquecimento de pagamento de dívidas.

A autocrítica é importante porque a bagunça não pode ser avaliada pelos olhos de outras pessoas, explica. “Essa avaliação deve acontecer levando em consideração os as­pectos envolvidos a este jeito de ser e estar, junto às conse­quências e ganhos de se posicionar assim. Principalmente hoje, onde somos bombardeados de informações, ideias e produtos a toda hora, quanto mais organizados estivermos melhor será para administrar tudo isso”, orienta.

Alguns eventos traumáticos, especialmente o luto, po­dem desencadear a desorganização, sendo muito comum a aplicação da frase “sentir como a vida tivesse virado de ca­beça para baixo”. Entretanto, a psicóloga explica que esses episódios desorganizam os pensamentos, planejamentos e muitas vezes trazem à tona a impotência e falta de con­trole diante dos acontecimentos. “Nem sempre é possível reorganizar-se emocionalmente sozinho e é comum o sen­timento de que perdeu o rumo, que está tudo bagunçado e a sensação de não se encontrar na vida. É preciso avaliar quando esse sofrimento deixou de ser o necessário e pas­sou a causar impactos muito maiores no dia a dia e até no desejo de viver. A desordem interna causa muito sofrimento e a ajuda psicológica auxilia nesse processo de reorganiza­ção e luto”, orienta.

Quero mudar. Por onde começo?

As mudanças exigem reconhecimento e uma nova pos­tura, mas nem sempre isso é fácil de desempenhar. A psicó­loga explica que a mudança pode envolver perdas e ganhos, mas emocionalmente não é assim que as pessoas se sen­tem diante de situações de mudanças. Após essa tomada de decisão, pode ser alinhar os ganhos com a organização da casa, do carro, do escritório, do horário, das tarefas, da vida e junto a isso as motivações para colocar isso em prática, sem necessariamente organizar tudo no mesmo dia.

“As recaídas fazem parte de qualquer processo de mudança, e nem sempre podem ou devem ser evitadas, algumas recaídas inclusive podem ser úteis para checar o que de fato foi aprendido e o que precisa ser melhorado. Dentro de processos de mudança, é importante ir validando cada passo alcançado e não focar só nas conquistas macro dentro desse processo”, diz Angélica sobre as possíveis si­tuações de bagunça pós-mudança.

A “chata” da organização

Algumas pessoas acabam se tornando “as chatas”, que querem tudo em ordem e não toleram nada fora do lugar. A bagunça é prejudicial, mas a organização excessiva também não faz bem, sendo necessária a flexibilidade e menor rigi­dez, visto a manutenção das relações sociais e familiares.

Angélica diz que alguns pais, muitas vezes, cobram uma postura dos filhos que não condiz com a idade dele, o que acaba gerando conflitos e brigas na família. O fato é que deve ser cobrada organização dos filhos, desde que os pais tenham postura semelhante e que ela esteja relacionada a sua idade.

Outro ponto muito falado é o “TOC – Transtorno Obses­sivo Compulsivo”, dito indiscriminadamente, especialmente por pessoas que gostam de organização. A psicóloga expli­ca que não é somente gostar de organizar ou querer deixar tudo em seu devido lugar os sintomas do TOC. O diagnós­tico precisa ser feito por um psiquiatra, que recomenda a terapia e medicamentos. “Algumas pessoas tiveram TOC após o término de uma relação, numa demissão, situação de traição, nestes casos os pensamentos obsessivos as impediam de seguir suas atividades diárias, pois eram in­vadidas em diferentes momentos do dia por lembranças e imagens do que aconteceu. E quanto mais tentavam evitar pensar nisso, maior ficavam presas a esses pensamentos”, finaliza.