Psicóloga fala sobre perfil de bagunceiros e diz que a autocrítica é o primeiro passo para mudança de comportamento e organização.
Quem nunca sofreu com a bagunça, que atire a primeira pedra. É perfeitamente normal alguns momentos de bagunça; casa, quarto, carro, bolsa desorganizados, mas pessoas que acabam tendo preferência pela desorganização podem acabar perdendo objetos e algo muito mais precioso: o tempo.
A psicóloga Angélica Neris explica que existem diferentes tipos de bagunça e de ordem, para poder classificar dentro dos padrões “certo e errado”. “A questão é saber se de fato a pessoa consegue se encontrar na bagunça ou se isso é um álibi para não precisar mudar, se sustenta essa justificativa para não ter que buscar outras formas mais eficazes de se organizar. Há ‘bagunceiros’ e bagunceiros, há os que deixam as coisas espalhadas por todos os lados, pelo quarto, pelo carro e não perdem prazos, compromissos e nem perdem muito tempo para achar o que precisam. E há os que se irritam por não encontrar nada, por perderem coisas, por perderem tempo, e a bagunça, neste caso, começa a trazer prejuízos em várias áreas da vida.”
Ela explica que a pessoa que é bagunceira pode ser influenciada por vários, envolvendo aspectos gerais e específicos, envolvendo três áreas do corpo: o pensar, o sentir e o agir. “Eu posso pensar em organizar, posso sentir-me incomodado com minha bagunça, posso sentir desejo em mudar esse jeito bagunceiro, mas não consigo ter ação para tirar esta mudança do imaginário e leva-la para o real, em levar para o concreto. Há também a influência da forma e a história familiar de organizar-se, se nasci numa família organizada demais, posso querer não ser assim e ser totalmente oposto, neste caso polarizo sendo bagunceiro, nada de coisas no lugar, ou de priorizar a arrumação. Ou posso ser igual minha família bagunceira”, diz.
Um aviso que essa mudança é necessária acontece quando começam os problemas de ordem social, relacionamentos com outras pessoas. Angélica diz que é preciso fazer uma análise autocrítica, visando avaliar se esse traço está trazendo dificuldades para o dia a dia, como atrasos, perda de documentos ou papéis importantes, até mesmo esquecimento de pagamento de dívidas.
A autocrítica é importante porque a bagunça não pode ser avaliada pelos olhos de outras pessoas, explica. “Essa avaliação deve acontecer levando em consideração os aspectos envolvidos a este jeito de ser e estar, junto às consequências e ganhos de se posicionar assim. Principalmente hoje, onde somos bombardeados de informações, ideias e produtos a toda hora, quanto mais organizados estivermos melhor será para administrar tudo isso”, orienta.
Alguns eventos traumáticos, especialmente o luto, podem desencadear a desorganização, sendo muito comum a aplicação da frase “sentir como a vida tivesse virado de cabeça para baixo”. Entretanto, a psicóloga explica que esses episódios desorganizam os pensamentos, planejamentos e muitas vezes trazem à tona a impotência e falta de controle diante dos acontecimentos. “Nem sempre é possível reorganizar-se emocionalmente sozinho e é comum o sentimento de que perdeu o rumo, que está tudo bagunçado e a sensação de não se encontrar na vida. É preciso avaliar quando esse sofrimento deixou de ser o necessário e passou a causar impactos muito maiores no dia a dia e até no desejo de viver. A desordem interna causa muito sofrimento e a ajuda psicológica auxilia nesse processo de reorganização e luto”, orienta.
Quero mudar. Por onde começo?
As mudanças exigem reconhecimento e uma nova postura, mas nem sempre isso é fácil de desempenhar. A psicóloga explica que a mudança pode envolver perdas e ganhos, mas emocionalmente não é assim que as pessoas se sentem diante de situações de mudanças. Após essa tomada de decisão, pode ser alinhar os ganhos com a organização da casa, do carro, do escritório, do horário, das tarefas, da vida e junto a isso as motivações para colocar isso em prática, sem necessariamente organizar tudo no mesmo dia.
“As recaídas fazem parte de qualquer processo de mudança, e nem sempre podem ou devem ser evitadas, algumas recaídas inclusive podem ser úteis para checar o que de fato foi aprendido e o que precisa ser melhorado. Dentro de processos de mudança, é importante ir validando cada passo alcançado e não focar só nas conquistas macro dentro desse processo”, diz Angélica sobre as possíveis situações de bagunça pós-mudança.
A “chata” da organização
Algumas pessoas acabam se tornando “as chatas”, que querem tudo em ordem e não toleram nada fora do lugar. A bagunça é prejudicial, mas a organização excessiva também não faz bem, sendo necessária a flexibilidade e menor rigidez, visto a manutenção das relações sociais e familiares.
Angélica diz que alguns pais, muitas vezes, cobram uma postura dos filhos que não condiz com a idade dele, o que acaba gerando conflitos e brigas na família. O fato é que deve ser cobrada organização dos filhos, desde que os pais tenham postura semelhante e que ela esteja relacionada a sua idade.
Outro ponto muito falado é o “TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo”, dito indiscriminadamente, especialmente por pessoas que gostam de organização. A psicóloga explica que não é somente gostar de organizar ou querer deixar tudo em seu devido lugar os sintomas do TOC. O diagnóstico precisa ser feito por um psiquiatra, que recomenda a terapia e medicamentos. “Algumas pessoas tiveram TOC após o término de uma relação, numa demissão, situação de traição, nestes casos os pensamentos obsessivos as impediam de seguir suas atividades diárias, pois eram invadidas em diferentes momentos do dia por lembranças e imagens do que aconteceu. E quanto mais tentavam evitar pensar nisso, maior ficavam presas a esses pensamentos”, finaliza.