Nesta semana, os problemas que cercam o Hospital Infantil Waldemar Monastier vieram à tona. Médicos estão com salários atrasados, leitos da UTI e Enfermaria estão sendo fechados, consultas e cirurgias canceladas. S
Nesta semana, diversas informações sobre o estado atual do Hospital Infantil Waldemar Monastier foram divulgadas, tanto por familiares de pacientes, profissionais atuantes e até mesmo pelos deputados estaduais Alexandre Guimarães, do PSD, e Requião Filho, do MDB, durante seus respectivos discursos na tribuna da Assembleia Legislativa. Entre essas informações há atrasos salariais dos médicos e demais colaboradores do Hospital, fechamento de leitos nas enfermarias e UTIs e também demissões de profissionais de vários setores.
A Folha de Campo Largo ouviu os colaboradores do Hospital Infantil, que contaram que desde janeiro deste ano a Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Funeas) é a responsável pela contratação dos médicos. Anterior à Funeas, o administrador do hospital era o Hospital Pequeno Príncipe. Segundo relatos, a intenção do Funeas era reabrir leitos e alas fechadas. A partir de abril, começaram a acontecer atrasos salariais, além da demora no conserto de equipamentos médicos, como da Radiologia, incapacitando o hospital de receber alguns pacientes.
Os médicos chegaram a apresentar uma carta ao Conselho Regional de Medicina relatando o problema. Sem reuniões entre as partes para resolver a questão, muitos deixaram seus cargos e agora não há escala médica prevista para cobrir o plantão da noite/madrugada deste 06 de setembro. Caso não tenha médicos suficientes, será registrado um boletim de ocorrências. “O Estado terá que fazer alguma coisa, pois ficaremos sem médicos aqui. Nós, enquanto profissionais, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogas, fonoaudiólogas, nutricionistas, entre tantas outras que compõem o hospital, não podemos ficar sem o respaudo médico. Precisamos deles para receitarem medicamentos ou atenderem situações de emergência. É muito triste o que está acontecendo. Não podemos arriscar nossos registros ou exercer funções que não cabem a nós”, desabafou uma colaboradora.
Ainda em relato à Redação, disse que dos 74 leitos, apenas 54 estão abertos, sendo esses ocupados por 26 pacientes. A UTI foi fechada e havia crianças tranferidas para a Enfermaria, mesmo as que estavam em ventilação mecânica. Das 20 vagas que existiam na UTI Neonatal, apenas dez estão em funcionamento. As consultas e cirurgias foram canceladas para evitar novos internamentos e crianças em situação grave estão sendo transferidas para outros hospitais que atendam a Pediatria. “A Secretaria de Saúde do Estado pode até tentar impedir, dizer que os leitos não podem ser fechados, mas as condições de trabalho acabam impedindo o atendimento dos pacientes. Há médicos na UTI Neonatal que são concursados, a escala ali está garantida, mas nos demais setores paira a incerteza de quem irá atender os pacientes. Ontem nós recebemos um paciente transferido do Centro Médico Hospitalar de Campo Largo na chamada Vaga Zero. Os médicos atenderam o emergencial e a criança foi transferida. Esse é um hospital criado com a intenção de atender toda a Região, uma referência, não pode ser fechado. Hoje atendemos muitas pessoas daqui de Campo Largo mesmo, não tem como ficar sem esse hospital”, completou.
Embora reuniões estejam sendo feitas, os colaboradores não conseguem ter acesso ao teor delas ou ao que ficou decidido.
Secretaria de Saúde e Conselho
de Medicina se posicionam
A Folha de Campo Largo entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado, que enviou a seguinte nota: “O Hospital Infantil Waldemar Monastier, localizado em Campo Largo, é uma unidade da Secretaria de Estado da Saúde gerenciada pela Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Funeas). Tendo em vista informações equivocadas sobre fechamento de leitos, a Secretaria de Estado da Saúde informa: Não há por parte da Secretaria de Estado da Saúde nenhuma ordem de fechamento de leitos. A SESA-PR está reestruturando a contratação de prestação de serviços ao hospital através da Funeas, sem, no entanto, interromper atendimento à população.
Nesta terça-feira (04/09), será publicado o edital de credenciamento de novos profissionais para atuar no Hospital Infantil Waldemar Monastier (HIWM). O edital prevê a contratação de profissionais da área médica em 25 especialidades, como pediatria, neonatologia, neurologia, nutrologia, entre outras.
Desde janeiro de 2018, o Hospital Infantil é gerenciado pela Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Funeas), sob a gestão da SESA-PR. Além de contar com servidores públicos estaduais, médicos de diversas especialidades prestam serviços no hospital. Os pagamentos estão em dia e, nesta terça-feira (04/09), estão sendo liberados novos pagamentos aos médicos do HIWM.
Para garantir o atendimento na área de pediatria na região metropolitana de Curitiba, além do HIWM, a SESA-PR mantém contratos com hospitais filantrópicos e privados, como o Hospital Pequeno Príncipe, Hospital Angelina Caron e Hospital do Rocio.
Atualmente, 543 profissionais atuam no hospital, entre os quais 140 médicos e 43 enfermeiros, além de técnicos de enfermagem, pessoal administrativo, entre outras funções. Os pagamentos dos profissionais estão em dia e não há risco de interrupção de atendimento.
O hospital atua com 74 leitos e faz uma média de 325 internações e 166 cirurgias ao mês. Entre janeiro e julho deste ano, foram realizados 465 exames de imagem, 265 exames cardiológicos e 96 exames neurológicos. Por ser um hospital regional, atende pacientes de todo Paraná, que são encaminhados através da Central de Regulação do Governo do Estado”.
A Folha também tentou contato com o Funeas, mas o mesmo disse que fazia correspondência à assessoria de comunicação da Saúde do Estado.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná disse que “Este Conselho foi efetivamente notificado sobre os problemas, completando-se nesse 6 de setembro os 30 dias de prazo para que movimentos paradistas sejam consumados, sob observância dos requisitos indispensáveis para o setor de saúde. Assim, cabe realçar que serviços de urgência e emergência não podem ser interrompidos, como determinado em lei e em normativas éticas do Conselho de Medicina. A informação sobre o fechamento de UTI está sendo apurada. (...)
No que concerne aos salários dos profissionais, a questão é da alçada do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar), que foi cientificado pelo CRM-PR para adoção das providências necessárias no âmbito do Ministério do Trabalho/Ministério Público do Trabalho e para tratativas com os gestores dos serviços de saúde em questão. No documento entregue por integrantes do corpo clínico há referência a salários atrasados e/ou compromissos de relação de trabalho descumpridos, informação que o gestor contesta.
Como destacado nos princípios fundamentais do mesmo Código, ‘para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa’. Assim, o Conselho oficiou à Secretaria de Saúde, Funeas e as direções técnica e clínica da instituição hospitalar da necessidade urgente de equacionar os problemas existentes. A inobservância possibilita a abertura de procedimento e eventual responsabilização ética do médico responsável pela direção técnica.
Reforça-se ser vedado ao médico ‘deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria (artigo 7.º) e/ou “afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave” (art. 8º)’.”