Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 02:48:25
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Desafios na internet têm levado jovens a situações perigosas e à morte

Boneca Momo e Desafio do Fogo colocam jovens em risco e pais devem ficar atentos

Desafios na internet têm levado jovens a situações perigosas e à morte

Depois da Baleia Azul, que levava crianças e adolescentes a se mutilarem, recentemente surgiu a Boneca Momo pelo WhatsApp, através da qual investigações apontam que já levou crianças a se enforcarem, e o Desafio do Fogo – que os estimulam a queimar pequenas partes do corpo. Essas ações que têm colocado em risco a vida de quem participa dos “desafios” exigem atenção dos pais e muita orientação.

O público alvo dessas ações pela internet, em geral, segundo a psicóloga clínica Éllen Martins Salvador (CRP 08/24797), são os que já passam por problemas em casa ou na escola, e encontram na internet pessoas que ofere­cem uma “solução mágica” para esses conflitos. “Por não terem orientação, de pais ou professores, a maioria acre­dita que aquilo realmente se trata de uma ameaça - ou um monstro como no caso do Momo - e se envolvem nestes desafios sem entender as consequências dos mesmos”, explica.

Para a psicóloga, as crianças e adolescentes possuem uma grande dificuldade de entender seus próprios senti­mentos. “Se para nós, adultos, é difícil sentir tristeza, rai­va e ansiedade, imagine para eles que não sabem ainda do que se trata? Problemas na escola, familiares, nos rela­cionamentos, podem trazer sentimentos desagradáveis, por isso cabe aos pais educar seus filhos sobre suas emoções, para que não procurem na internet solução para seus pro­blemas.”

Devido a essa exposição e facilidade com que os jovens têm hoje à internet, os pais precisam observar atentos o uso de tablets, celulares e computadores. Além desses desafios perigosos, há muitos meios em que pedófilos e estelionatá­rios conseguem agir, ou canais em que se encontram facil­mente pornografia, entre outros.

Éllen orienta que os jovens não possuem a maldade dos adultos e facilmente caem em golpes deste tipo. “Cabe então aos pais explicar o que é certo ou errado, mostrar exemplos de pessoas que já caíram em golpes, mostrar quais sites são seguros e quais não são, orientar sobre o que pode ou não fazer na internet. Também é muito impor­tante o papel da escola neste caso, por se tratar de um pro­blema novo surgindo, seria mais que necessária ao menos uma palestra sobre o tema, para pais e alunos, para ofere­cer esta orientação”, esclarece.

Momo

Algumas escolas até mesmo já estão enviando men­sagens e orientando os pais sobre a Boneca Momo. De acordo com a Polícia Federal, a Boneca Momo é um per­fil do WhatsApp que, com uma foto perturbadora, entra em contato com crianças e adolescentes para propor desa­fios, ameaçar ou espalhar conteúdos de ódio. O perfil origi­nal já não existe mais, mas há pessoas que se aproveitam e continuam com as ameaças. O desafio leva ao sufoca­mento e até ao enforcamento. Momo é uma escultura da exposição Ghost, da Vanilla Gallery, em Tóquio, realiza­da em 2016.

Suicídios

Setembro é o mês de conscientização da população so­bre a realidade do suicídio e para mostrar que existe preven­ção em mais de 90% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Hoje, o suicídio é a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos - a primei­ra é a violência.

“Vejo que os jovens vêm sofrendo com a ausência de empatia, de apoio e atenção dos pais. Muitos são prepara­dos desde cedo e cobrados para a vida adulta, porém não são ensinados a entender e aceitar seus próprios sentimen­tos, que são naturais para a idade. Temos o bullying, a expo­sição na internet, problemas de relacionamento, problemas de autoestima, rejeição, conflitos com o corpo em mudança, entre outros. Junte tudo isso sem o apoio dos pais, se tor­na uma dor para o jovem viver no mundo de hoje. Por isso, é tão importante orientação aos pais e apoio aos adolescen­tes”, frisa Éllen.

“Cabe aos pais educar seus filhos sobre suas emoções, para que não procurem na internet solução para seus problemas”

De acordo com a especialista, falta qualidade de tem­po juntos entre os pais e filhos, apoio, compreensão e orien­tação. Os pais e também os professores deveriam ser as pessoas que oferecem a segurança aos jovens, mas muitas vezes os deixam sozinhos e desorientados.

Ela relata que recentemente deu uma palestra para uma escola, para um público de 15 a 18 anos, sobre saúde emocional. “Fiquei perplexa como estes jovens sabiam tão pouco sobre emoções, sobre saúde mental, sobre seus próprios sentimentos. Estou recebendo até hoje mensa­gens de dúvidas desses jovens. Isso significa que eles não possuem nenhum lugar para tirar estas dúvidas, um pro­blema grave que pode ser resolvido de maneira simples: com conversa. Não precisa existir um problema grave para precisar falar sobre Saúde Mental. O trabalho de preven­ção ao suicídio já diz no nome prevenção, não adianta fa­lar sobre o assunto depois de uma tragédia. Precisamos prevenir e inserir este assunto no dia a dia do jovem, para que ele possa entender e lidar de maneira assertiva com seus problemas”, conclui.

Apoio

De acordo com o Centro de Valorização da Vida – CVV, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata um brasileiro a cada 45 minutos e uma pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. O CVV atua gratui­tamente na prevenção do suicídio desde 1962 e quem pre­cisar de ajuda pode entrar em contato pelo www.cvv.org.br/quero-conversar/ e iniciar uma conversa pelo chat, ou ligar 188 (24 horas e sem custo de ligação), por e-mail ou até mesmo enviar uma carta ou agendar conversa pessoalmen­te com um voluntário do CVV em horário comercial.