Boneca Momo e Desafio do Fogo colocam jovens em risco e pais devem ficar atentos
Depois da Baleia Azul, que levava crianças e adolescentes a se mutilarem, recentemente surgiu a Boneca Momo pelo WhatsApp, através da qual investigações apontam que já levou crianças a se enforcarem, e o Desafio do Fogo – que os estimulam a queimar pequenas partes do corpo. Essas ações que têm colocado em risco a vida de quem participa dos “desafios” exigem atenção dos pais e muita orientação.
O público alvo dessas ações pela internet, em geral, segundo a psicóloga clínica Éllen Martins Salvador (CRP 08/24797), são os que já passam por problemas em casa ou na escola, e encontram na internet pessoas que oferecem uma “solução mágica” para esses conflitos. “Por não terem orientação, de pais ou professores, a maioria acredita que aquilo realmente se trata de uma ameaça - ou um monstro como no caso do Momo - e se envolvem nestes desafios sem entender as consequências dos mesmos”, explica.
Para a psicóloga, as crianças e adolescentes possuem uma grande dificuldade de entender seus próprios sentimentos. “Se para nós, adultos, é difícil sentir tristeza, raiva e ansiedade, imagine para eles que não sabem ainda do que se trata? Problemas na escola, familiares, nos relacionamentos, podem trazer sentimentos desagradáveis, por isso cabe aos pais educar seus filhos sobre suas emoções, para que não procurem na internet solução para seus problemas.”
Devido a essa exposição e facilidade com que os jovens têm hoje à internet, os pais precisam observar atentos o uso de tablets, celulares e computadores. Além desses desafios perigosos, há muitos meios em que pedófilos e estelionatários conseguem agir, ou canais em que se encontram facilmente pornografia, entre outros.
Éllen orienta que os jovens não possuem a maldade dos adultos e facilmente caem em golpes deste tipo. “Cabe então aos pais explicar o que é certo ou errado, mostrar exemplos de pessoas que já caíram em golpes, mostrar quais sites são seguros e quais não são, orientar sobre o que pode ou não fazer na internet. Também é muito importante o papel da escola neste caso, por se tratar de um problema novo surgindo, seria mais que necessária ao menos uma palestra sobre o tema, para pais e alunos, para oferecer esta orientação”, esclarece.
Momo
Algumas escolas até mesmo já estão enviando mensagens e orientando os pais sobre a Boneca Momo. De acordo com a Polícia Federal, a Boneca Momo é um perfil do WhatsApp que, com uma foto perturbadora, entra em contato com crianças e adolescentes para propor desafios, ameaçar ou espalhar conteúdos de ódio. O perfil original já não existe mais, mas há pessoas que se aproveitam e continuam com as ameaças. O desafio leva ao sufocamento e até ao enforcamento. Momo é uma escultura da exposição Ghost, da Vanilla Gallery, em Tóquio, realizada em 2016.
Suicídios
Setembro é o mês de conscientização da população sobre a realidade do suicídio e para mostrar que existe prevenção em mais de 90% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Hoje, o suicídio é a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos - a primeira é a violência.
“Vejo que os jovens vêm sofrendo com a ausência de empatia, de apoio e atenção dos pais. Muitos são preparados desde cedo e cobrados para a vida adulta, porém não são ensinados a entender e aceitar seus próprios sentimentos, que são naturais para a idade. Temos o bullying, a exposição na internet, problemas de relacionamento, problemas de autoestima, rejeição, conflitos com o corpo em mudança, entre outros. Junte tudo isso sem o apoio dos pais, se torna uma dor para o jovem viver no mundo de hoje. Por isso, é tão importante orientação aos pais e apoio aos adolescentes”, frisa Éllen.
“Cabe aos pais educar seus filhos sobre suas emoções, para que não procurem na internet solução para seus problemas”
De acordo com a especialista, falta qualidade de tempo juntos entre os pais e filhos, apoio, compreensão e orientação. Os pais e também os professores deveriam ser as pessoas que oferecem a segurança aos jovens, mas muitas vezes os deixam sozinhos e desorientados.
Ela relata que recentemente deu uma palestra para uma escola, para um público de 15 a 18 anos, sobre saúde emocional. “Fiquei perplexa como estes jovens sabiam tão pouco sobre emoções, sobre saúde mental, sobre seus próprios sentimentos. Estou recebendo até hoje mensagens de dúvidas desses jovens. Isso significa que eles não possuem nenhum lugar para tirar estas dúvidas, um problema grave que pode ser resolvido de maneira simples: com conversa. Não precisa existir um problema grave para precisar falar sobre Saúde Mental. O trabalho de prevenção ao suicídio já diz no nome prevenção, não adianta falar sobre o assunto depois de uma tragédia. Precisamos prevenir e inserir este assunto no dia a dia do jovem, para que ele possa entender e lidar de maneira assertiva com seus problemas”, conclui.
Apoio
De acordo com o Centro de Valorização da Vida – CVV, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata um brasileiro a cada 45 minutos e uma pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. O CVV atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962 e quem precisar de ajuda pode entrar em contato pelo www.cvv.org.br/quero-conversar/ e iniciar uma conversa pelo chat, ou ligar 188 (24 horas e sem custo de ligação), por e-mail ou até mesmo enviar uma carta ou agendar conversa pessoalmente com um voluntário do CVV em horário comercial.