A morte do bebê João Guilherme Ricardo Vieira, de 06 meses, na sexta-feira (17) por meningite bacteriana, acabou repercutindo durante toda a semana. O pai do menino contou à Folha o que aconteceu. CMH e Hospital São Lucas
A morte do bebê João Guilherme Ricardo Vieira, de apenas 06 meses, na noite da última sexta-feira (17) causou espanto e indignação nas redes sociais durante toda a semana. A criança foi diagnosticada com Meningite Bacteriana e estava internada na UTI do Hospital Pequeno Príncipe desde o dia 11 de agosto.
A Folha de Campo Largo conversou com o pai de João, Gean Carlos Vieira, que contou que o menino se desenvolvia bem, era bastante esperto e ativo. “Ainda no dia 23 de julho notamos que ele começou a ficar doentinho, estava com febre e estava mais caidinho. Levamos ele ao Centro Médico Hospitalar e durante a consulta o médico falou que era apenas um resfriado e receitou um anti-térmico. Ele não melhorou, pelo contrário, a febre começou a subir e chegou aos 40°C. Levamos ele novamente, na semana seguinte, dia 29, e disseram que era por causa do resfriado e dos dentinhos nascendo. Receitou novamente o anti-térmico e pediu para que voltássemos para casa.”
O pai lembra que a criança continuou apresentando febres acima dos 40ºC nos dias subsequentes, quando ele e sua esposa decidiram levar ao CMH novamente no dia 06 e no dia 08 de agosto. “Dessa vez falaram para nós que se tratava de uma virose. Mesmo pedindo para que exames fossem realizados, isso não foi feito. Sabíamos que aquela febre não podia representar algo normal, ele tomava o anti-térmico, mas logo a febre voltava muito alta. Resolvemos então pagar uma consulta particular para ele no Hospital São Lucas”, conta.
Na consulta com o médico pediatra do Hospital São Lucas, o pai conta que o médico confirmou o que os demais já tinham falado, que se tratava de um resfriado e que o tratamento deveria seguir com o anti-térmico. Gean conta que o profissional também falou que a situação poderia ter sido agravada por conta dos dois dentinhos que estavam nascendo.
O pai até tentou argumentar dizendo que a moleira do bebê parecia estar mais alta que o normal, mas o médico explicou que era por causa da febre.
No dia 11 de agosto foi quando João estava bem mal, já com febre acima dos 41º°C, então a família decidiu levá-lo para Curitiba, até o Instituto da Criança, no bairro Portão. “Chegando lá, de imediato a médica atendeu ele e já direcionou para o atendimento de emergência, quando ele foi transferido para o Hospital Pequeno Príncipe de ambulância. Foi diagnosticado pelos médicos que ele estava com Meningite Bacteriana e já apresentava infecções em outros órgãos. Eles disseram que provavelmente ele pegou a bactéria de alguém ou em algum lugar. Ele ficou na UTI desde o dia 11, os médicos fizeram tudo, mas não dava mais para reverter. Chegou a ter parada cardiorrespiratória e não resistiu”, conta o pai.
“Nós não queremos fazer nada além de alertar os pais sobre essa situação, pois não queremos que mais pessoas passem pelo que nós estamos passando. Ninguém melhor que o pai e a mãe para saber como está o seu filho. Não ter mais a nossa alegria dentro de casa nos consome. Insistam mais, levem em outros médicos, mas busquem respostas, exijam exames. Essa atitude pode salvar a vida do seu filho”, ressalta.
Respostas
A Folha de Campo Largo entrou em contato com o CMH e com o Hospital São Lucas. O Centro Médico Hospitalar esclarece que: “em relação ao óbito do menor JGRV, esta Secretaria informa que o mesmo encontrava-se em acompanhamento em Unidade de Saúde com pediatra (última consulta de puericultura em 24/07/2018) e consultou no Centro Médico Hospitalar em duas ocasiões (06/08/2018 e 08/08/2018), não sendo constatada negligência em seu atendimento. Os dados associados a seu falecimento serão averiguados em reunião de Comitê Municipal de Mortalidade Materno-Infantil”.
Já o Hospital São Lucas enviou o esclarecimento: “João Guilherme Ricardo Vieira passou em atendimento no dia 08/08/2018. Estavam na consulta a mãe (que forneceu todas as informações) e mais um acompanhante. Segundo a mãe, João Guilherme estava com um quadro gripal, coriza, tosse e febre. O paciente foi avaliado imediatamente ao chegar no hospital. No exame, apresentava-se afebril (temperatura de 36,4ºC), ausculta pulmonar, otoscopia e oroscopia sem alterações, sem rigidez de nuca e sem sinais meníngeos. O restante do exame físico era normal, reflexos presentes e preservados e os dados vitais estáveis. Em virtude do quadro clínico estável e sem alterações, João Guilherme foi liberado e orientado a retornar ao hospital em caso de não melhora ou piora do quadro clínico. Nas fases iniciais, os sintomas são semelhantes aos de uma gripe, mas a doença pode evoluir rapidamente e ser fatal em poucas horas. No caso da Meningite Meningocócica, o período de incubação oscila entre um e dez dias, mas, em geral, não ultrapassa os quatro dias. No caso dele, na ocasião da consulta ele não apresentava sintomas relacionados à meningite”.
Meningite
De acordo com Folheto Meningite Fascículo 3, disponibilizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a doença meningocócica pode variar desde um quadro de febre transitória até a doença fulminante, que pode levar a óbito em poucas horas, podendo apresentar sintomas como “febre, calafrios, mal estar, dor muscular, dor em membros, prostração e um rash maculopapular – lesões discretas no tronco e membros inferiores -, petequial ou purpúrico – lesões pequenas avermelhadas ou azuladas que podem aparecer na pele ou mucosas”.
O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de sangue e líquor – líquido retirado da medula. O tratamento pode durar até sete dias, mas é variável de acordo com as condições clínicas do paciente.