Não é de hoje que os moradores de Campo Largo sentem-se preocupados com o número crescente de animais abandonados, tanto na região central, como no interior da cidade. Até então, não havia políticas públicas concretas para que o número de animais abandonados diminuísse, apenas o trabalho das ONGs e grupos de voluntários que atendem a essa demanda.
Em conversa com a Folha de Campo Largo, o setor de Veterinária do município revelou que aproximadamente R$ 80 mil serão investidos em castrações de 300 cães e gatos. Essa iniciativa irá passar por licitação, para que seja feita a contratação de uma clínica veterinária que faça um trabalho sério e zele pela saúde e bem-estar animal. “Esses 300 animais já estão cadastrados em uma lista de espera. Demos preferência para famílias com até dois salários mínimos, que tenham vínculo com programas sociais e também para cães comunitários, que são aqueles que moradores de determinado bairro ou rua acabam cuidando”, explica a médica veterinária Gisele Spréa.
Atualmente a lista não está aberta para cadastros públicos, somente para a realização de cirurgia nos animais já cadastrados. De acordo com a médica veterinária, essas castrações são realizadas em machos e fêmeas. “É benéfico para a saúde do animal realizar esse tipo de procedimento, muito embora ele também ofereça riscos, especialmente para a fêmea, que precisa ter o abdômen aberto. Entretanto, além de prevenir a cria dela, que é na maioria em ambientes inóspitos, também previne tumores mamários e infecções no útero. Já nos machos, previne uma série de fatores hormonais, tumores testiculares, além de diminuir a agressividade”, diz.
Os procedimentos serão feitos em ambos os sexos, mas principalmente nas fêmeas para controle de população. Acredita-se que ao castrar os animais comunitários, a chance dele ser adotado aumente, principalmente pelas pessoas que já convivem e proporcionam uma vida um pouco mais “fácil” para eles, oferecendo comida, água e abrigo. “Infelizmente será impossível encontrar um lar para todos os animais que se encontram nessa situação hoje, mas podemos incentivar a adoção responsável, tal como já faz alguns grupos e ONGs no município. Isso é muito importante porque conscientiza que aquele animal é um ser vivo, não um objeto. Ele também tem direitos e o seu tutor tem obrigações sobre ele perante a Lei”, retrata Dra. Gisele.
As denúncias de maus tratos podem ser feitas por meio do telefone 156, sempre descrevendo qual o mau trato o animal está sofrendo (falta de alimentação, preso na coleira, se está doente, violência física, entre outros).
Adoção consciente, cuidados e a adaptação
Adotar um animal é uma das mais belas e necessárias atitudes dos cidadãos. Além de prevenir uma superpopulação de animais na rua, é possível experimentar o sentimento de gratidão que esses animais demonstram. Entranto, é importante cuidar muito bem desses animais, que merecem tanta atenção, quanto os “de raça”.
“Popularmente, as pessoas dizem que animais sem raça definida, o SRD, são mais fortes, mas isso não é verdade. Eles devem ser tão bem cuidados quanto os demais. Diferentemente dos animais que têm uma raça definida, no SRD não é possível presumir o tamanho que ele poderá ficar se adotado quando filhote. Portanto, é importante que tenha um espaço em casa para que ele se sinta confortável”, explica Michelli Parchen, graduanda de Medicina Veterinária e atendente de pet shop.
Um dos pontos abordados por Michelli é a importância de pensar se terá condições de bancar cuidados básicos ao animal que ela irá adotar. “Não adianta pegar um bichinho para adotar se não vai ter tempo, dinheiro para os custos de ração adequada, vacina, consultas, banhos, vermífogos, vacinas. Se ela não tiver tempo, deixar o animalzinho trancado o dia todo dentro de casa, sozinho, não vai levar para passear, é importante pensar bem, porque o tempo é ingrediente fundamental no cuidado com os animais”, acrescenta.
Logo após a adoção, o ideal é levar ao veterinário para que ele examine o estado geral do cachorro, se está com alguma doença, se precisa tomar vacinas e vermífogo. Em filhotes, o protocolo de vacinação prevê três tipos de vacinas e depois periodicamente uma vez ao ano.
O espaço do canil também recebe recomendações. O indicado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, para canis, é um espaço que o cachorro consiga rodar ao redor do próprio corpo e ficar em pé. Para cães grandes, espaço de quatro metros quadrados para cada; para médio porte de 2,25 metros quadrados e para pequeno porte de um metro quadrado para cada. Além disso, o canil deve receber luz solar e ter abrigo para sombra, chuva e frio.
Animais que já são adultos e estavam na rua acabam sendo acostumados a consumir comidas de humanos, mas que acabam fazendo muito mal por conta dos temperos. A dica dada por Michelli é tentar misturar na ração alimentos próprios para animais com consistência mais molhada, para chamar atenção. Aos poucos ele irá se adaptar com a ração.
“Quando são mais filhotes, eles têm esse jeitinho mais arteiro, de roer e destruir algumas coisas, mas a pessoa que vai adotar já deve saber disso. Porém, além dos filhotes, os cães maiores também, já adultos, também merecem uma chance de mostrar o amor e a gratidão que existe dentro deles. Esses precisarão de um pouco mais de paciência por parte dos donos, pois tentarão fugir, precisam se acostumar com a casa e com a família, mas valerá muito a pena o esforço no resultado final”.
Gatinhos
Gatos são mais independentes, por isso são mais indicados para pessoas que têm menos tempo ou que moram em locais mais fechados, como apartamentos. Entretanto, Michelli ressalta a importância de manter uma alimentação balanceada, vacinação em dia, vermífogo e também atenção e carinho.