Casal dá exemplo de superação quando o amor por um filho passa a ser prioridade. A mãe optou por ficar 145 dias na UTI, sem poder fazer uma cirurgia na coluna, para não perder a gestação ainda em fase
Resiliência. Amor. Persistência. Companheirismo. Respeito. A história de Rafael Batista Correia e de Fabiane Vieira Bruns estimula a uma reflexão sobre a vida, valores, amor e fé. A superação das dificuldades encontradas, hoje é comemorada com o nascimento da Helena, que fez tudo valer a pena. Sem poder fazer uma cirurgia para não correr o risco de perder a filha, após um acidente de caminhão, Fabiane ficou 145 dias na UTI do Hospital do Rocio e o parto teve até música ao vivo.
Fabiane (31) estava com apenas 15 semanas de gestação quando o casal sofreu um acidente que fez com que eles tivessem que tomar uma importante decisão. Com o impacto, ela teve deslocamento da placenta em 4cm e fraturou a nona vértebra torácica (T9), que até poderia deixá-la paraplégica, sendo necessária uma intervenção cirúrgica. Mas, com a cirurgia, dificilmente a gestação se manteria.
O casal tomou uma importante e difícil decisão. Fabiane ficou por 145 dias internada na UTI do Hospital do Rocio, sem poder mexer a coluna e quadril, pois eles não suportariam a possibilidade de perder a filha, que foi tão desejada, após dois anos de tentativa de engravidar. Foram quase cinco meses de espera para que Helena ganhasse peso e se desenvolvesse mais para poder fazer o parto. Não foi nada fácil, mas Fabiane focou que precisaria aguentar – precisou ser forte até porque sentia muitas dores, já que não podia tomar medicação forte devido à gestação – e teve um fundamental apoio do marido, que ficou todos esses dias ao lado dela.
Fabiane precisou de ajuda de psicóloga para lhe dar um suporte, pois até mesmo chegava a ter alucinações. Conta que acordava e parecia ainda estar dentro do sonho. Foi um processo bastante doloroso e um tempo que demorava passar. Ela afirma que o serviço do Hospital foi um diferencial, pelos profissionais altamente qualificados e pelo atendimento humanizado da Capelania. Semanalmente, voluntários da Capelania realizavam momentos de orações e um importante trabalho musical, inclusive durante os ultrassons, quando também realizaram estudos comprovando os benefícios da música na gestação. Até mesmo no parto Helena foi recebida com música ao som de três musicistas e com a voz da capelã Érika Checan.
Hoje, Fabiane diz que o sentimento é de gratidão pela filha estar viva, por todo o trabalho realizado no hospital e por tudo que o marido fez por ela. Rafael acrescenta que “hoje as pessoas desistem tão fácil de filho, muitos perderam o amor na vida e um pelo outro. Marido e mulher desistem tão fácil um do outro. É preciso ter persistência”.
O casal
Rafael é nascido em Apucarana e há cinco anos foi morar com Fabiane em Prata, Minas Gerais, onde ela já residia. Ele é caminhoneiro e ela trabalhava na loja do pai. Há dois anos tentavam engravidar, neste período - nos últimos seis meses - ela fez tratamento para Ovários Policísticos e estava ficando desanimada com as tentativas frustradas de engravidar. Casaram na Igreja no dia 04 de novembro do ano passado e no dia 27 do mesmo mês descobriu a tão esperada gravidez.
Acidente
Fabiane costumava viajar junto com ele. Grávida, resolveu parar de trabalhar e em janeiro foi viajar com ele a trabalho. Faziam uma viagem tranquila e a carreta estava carregada de madeira. No dia 1º de fevereiro, quando fariam um exame para descobrir o sexo do bebê, sofreram o acidente pela manhã, pois em uma curva a carga se soltou e nada pode ser feito para evitar. Fabiane, que estava deitada na cama do caminhão, acabou sendo jogada para cima de Rafael e ao bater o quadril teve o descolamento e a fratura. Rafael também teve ferimentos no braço e cabeça.
Eles contam que parece que tiveram vários avisos durante a viagem, que foi diferente de tantas outras que já realizaram. Inclusive pouco antes de acontecer o acidente Rafael teve um pressentimento, parou o caminhão e colocou cintas extras de proteção na carga entre a carreta e a cabine, o que evitou que o acidente fosse fatal. Após o atendimento inicial em Campo do Tenente, foram transferidos ao Hospital do Rocio. A história deles, a força e determinação de vencerem esta etapa, mexeu com todos os funcionários envolvidos e equipe médica.
Cirurgias
Rafael precisou ficar cinco dias internado para se recuperar. Já para Fabiane foi muito mais grave, apesar de ter tido muita sorte de não afetar a medula. Eles relatam que os primeiros dez dias foram de muita angústia, com medo de perder o bebê e ela sentindo muitas dores. Como ficou em repouso, o quadro dela estabilizou, mas tinha que manter os cuidados na UTI - sob responsabilidades dos médicos Dr. Samir Bark e Dr. Ricardo Risson - porque ainda não podia fazer a cirurgia e para ser monitorada.
Esperaram até 34 semanas de gestação para fazer o parto, no último dia 15 de junho. Como precisou levar anestesia geral, o parto tinha que ser muito rápido para não colocar em risco o bebê e a mãe. “A gente sabia que não seria um parto normal, exigia muita agilidade da equipe médica e enfermeiros”, conta Rafael.
Fabiane tinha muito medo do que poderia acontecer, pela sua situação de terem que cuidar com a quantidade de medicamentos. Sentiu muita dor, diz que não foi fácil, mas agradece porque deu tudo certo e sua filha nasceu saudável. “Devido à anestesia geral nos avisaram que a Helena poderia não chorar e aí poderia ser preocupante. Mas quando ela nasceu e começou a chorar foi um choque de ânimo tão grande que eu não conseguia mais parar de chorar. Como Deus é bom. Naquele momento descarreguei tudo que eu estava sentindo. Foi muita emoção”, conta Rafael.
Até então Fabiane não tinha visto a gravidade da fratura e sete dias depois do parto fez a cirurgia, levando 28 pontos. Teve que ficar dez dias sem ver a filha devido à cirurgia, só conseguia vê-la por foto e vídeo que o marido registrava.
Ela consegue amamentar um pouco, apesar da situação da filha ainda na UTI. A previsão de alta da Helena era nesta quinta-feira (05), pois esperavam ela atingir 2,1Kg. Fabiane conta que se sente muito cansada, mas tenta se manter forte para não proibirem de ver a filha e para logo receber alta, o que deve acontecer neste sábado (07), após passar por mais uma tomografia.Rafael foi muito importante para que Fabiane aguentasse todo esse período na UTI. Ele foi o primeiro a receber a notícia da decisão que teriam que tomar, entre manter a gestação ou fazer a cirurgia. Aos poucos ele foi passando as informações para Fabiane, para que não se desesperasse. No início ela disse que aguentaria, mas foi um processo difícil e Rafael optou por abdicar de tudo pra ficar ao lado dela apoiando.