Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 03:49:33
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Casal dá exemplo de superação quando o amor por um filho passa a ser prioridade

Casal dá exemplo de superação quando o amor por um filho passa a ser prioridade. A mãe optou por ficar 145 dias na UTI, sem poder fazer uma cirurgia na coluna, para não perder a gestação ainda em fase

Casal dá exemplo de superação quando o amor por um filho passa a ser prioridade

Resiliência. Amor. Per­sistência. Companhei­rismo. Respeito. A história de Rafael Batista Correia e de Fabiane Vieira Bruns estimu­la a uma reflexão sobre a vida, va­lores, amor e fé. A superação das dificuldades encontradas, hoje é comemorada com o nascimen­to da Helena, que fez tudo valer a pena. Sem poder fazer uma cirur­gia para não correr o risco de per­der a filha, após um acidente de caminhão, Fabiane ficou 145 dias na UTI do Hospital do Rocio e o parto teve até música ao vivo.

Fabiane (31) estava com ape­nas 15 semanas de gestação quando o casal sofreu um aciden­te que fez com que eles tivessem que tomar uma importante deci­são. Com o impacto, ela teve des­locamento da placenta em 4cm e fraturou a nona vértebra torácica (T9), que até poderia deixá-la pa­raplégica, sendo necessária uma intervenção cirúrgica. Mas, com a cirurgia, dificilmente a gestação se manteria.

O casal tomou uma importan­te e difícil decisão. Fabiane ficou por 145 dias internada na UTI do Hospital do Rocio, sem poder me­xer a coluna e quadril, pois eles não suportariam a possibilidade de perder a filha, que foi tão dese­jada, após dois anos de tentativa de engravidar. Foram quase cinco meses de espera para que Helena ganhasse peso e se desenvolves­se mais para poder fazer o parto. Não foi nada fácil, mas Fabiane fo­cou que precisaria aguentar – pre­cisou ser forte até porque sentia muitas dores, já que não podia tomar medicação forte devido à gestação – e teve um fundamental apoio do marido, que ficou todos esses dias ao lado dela.

Fabiane precisou de ajuda de psicóloga para lhe dar um supor­te, pois até mesmo chegava a ter alucinações. Conta que acordava e parecia ainda estar dentro do sonho. Foi um processo bastan­te doloroso e um tempo que de­morava passar. Ela afirma que o serviço do Hospital foi um diferen­cial, pelos profissionais altamen­te qualificados e pelo atendimento humanizado da Capelania. Se­manalmente, voluntários da Ca­pelania realizavam momentos de orações e um importante traba­lho musical, inclusive durante os ultrassons, quando também rea­lizaram estudos comprovando os benefícios da música na gesta­ção. Até mesmo no parto Helena foi recebida com música ao som de três musicistas e com a voz da capelã Érika Checan.

Hoje, Fabiane diz que o sen­timento é de gratidão pela filha estar viva, por todo o trabalho re­alizado no hospital e por tudo que o marido fez por ela. Rafael acres­centa que “hoje as pessoas de­sistem tão fácil de filho, muitos perderam o amor na vida e um pelo outro. Marido e mulher desis­tem tão fácil um do outro. É preci­so ter persistência”.

O casal

Rafael é nascido em Apucara­na e há cinco anos foi morar com Fabiane em Prata, Minas Gerais, onde ela já residia. Ele é caminho­neiro e ela trabalhava na loja do pai. Há dois anos tentavam engra­vidar, neste período - nos últimos seis meses - ela fez tratamen­to para Ovários Policísticos e es­tava ficando desanimada com as tentativas frustradas de engravi­dar. Casaram na Igreja no dia 04 de novembro do ano passado e no dia 27 do mesmo mês descobriu a tão esperada gravidez.

Acidente

Fabiane costumava viajar jun­to com ele. Grávida, resolveu pa­rar de trabalhar e em janeiro foi viajar com ele a trabalho. Faziam uma viagem tranquila e a carre­ta estava carregada de madeira. No dia 1º de fevereiro, quando fa­riam um exame para descobrir o sexo do bebê, sofreram o aciden­te pela manhã, pois em uma cur­va a carga se soltou e nada pode ser feito para evitar. Fabiane, que estava deitada na cama do cami­nhão, acabou sendo jogada para cima de Rafael e ao bater o qua­dril teve o descolamento e a fratu­ra. Rafael também teve ferimentos no braço e cabeça.

Eles contam que parece que tiveram vários avisos durante a viagem, que foi diferente de tan­tas outras que já realizaram. Inclu­sive pouco antes de acontecer o acidente Rafael teve um pressen­timento, parou o caminhão e colo­cou cintas extras de proteção na carga entre a carreta e a cabine, o que evitou que o acidente fos­se fatal. Após o atendimento ini­cial em Campo do Tenente, foram transferidos ao Hospital do Rocio. A história deles, a força e deter­minação de vencerem esta etapa, mexeu com todos os funcionários envolvidos e equipe médica.

Cirurgias

Rafael precisou ficar cinco dias internado para se recuperar. Já para Fabiane foi muito mais grave, apesar de ter tido mui­ta sorte de não afetar a medula. Eles relatam que os primeiros dez dias foram de muita angústia, com medo de perder o bebê e ela sen­tindo muitas dores. Como ficou em repouso, o quadro dela esta­bilizou, mas tinha que manter os cuidados na UTI - sob responsa­bilidades dos médicos Dr. Samir Bark e Dr. Ricardo Risson - por­que ainda não podia fazer a cirur­gia e para ser monitorada.

Esperaram até 34 semanas de gestação para fazer o parto, no último dia 15 de junho. Como pre­cisou levar anestesia geral, o par­to tinha que ser muito rápido para não colocar em risco o bebê e a mãe. “A gente sabia que não seria um parto normal, exigia muita agi­lidade da equipe médica e enfer­meiros”, conta Rafael.

Fabiane tinha muito medo do que poderia acontecer, pela sua situação de terem que cuidar com a quantidade de medicamentos. Sentiu muita dor, diz que não foi fácil, mas agradece porque deu tudo certo e sua filha nasceu sau­dável. “Devido à anestesia geral nos avisaram que a Helena pode­ria não chorar e aí poderia ser pre­ocupante. Mas quando ela nasceu e começou a chorar foi um choque de ânimo tão grande que eu não conseguia mais parar de chorar. Como Deus é bom. Naquele mo­mento descarreguei tudo que eu estava sentindo. Foi muita emo­ção”, conta Rafael.

Até então Fabiane não tinha visto a gravidade da fratura e sete dias depois do parto fez a cirur­gia, levando 28 pontos. Teve que ficar dez dias sem ver a filha de­vido à cirurgia, só conseguia vê­-la por foto e vídeo que o marido registrava.

Ela consegue amamentar um pouco, apesar da situação da filha ainda na UTI. A previsão de alta da Helena era nesta quinta-fei­ra (05), pois esperavam ela atin­gir 2,1Kg. Fabiane conta que se sente muito cansada, mas tenta se manter forte para não proibi­rem de ver a filha e para logo re­ceber alta, o que deve acontecer neste sábado (07), após passar por mais uma tomografia.Rafael foi muito importante para que Fabiane aguentasse todo esse período na UTI. Ele foi o primeiro a receber a notícia da decisão que teriam que tomar, entre manter a gestação ou fazer a cirurgia. Aos poucos ele foi passando as informações para Fabiane, para que não se desesperasse. No início ela disse que aguentaria, mas foi um processo difícil e Rafael optou por abdicar de tudo pra ficar ao lado dela apoiando.

Ele sempre foi muito agitado e mudou muito com essa situação. Nunca tinha ficado longe do trabalho e também dos outros dois filhos do primeiro casamento, mas toda a dificuldade fortaleceu muito a relação dos dois. “Eu queria cuidar dela. Não desisti nem quando ela queria desistir”, afirma ele, que dava banho, trocava fralda, passava creme para ela não ficar com estria à medida que a barriga fosse crescendo, aprendeu até mesmo a fazer as unhas dela, a cortar cabelo e o que precisasse para ela sempre estar bem.
Brincam que ele tinha que aguentar ela brigando com ele em alguns momentos em que ela não queria nada, pois não aguentava mais ficar ali parada. Ele, para desestressar, foi convidado a fazer aulas de Muay Thai pelo dono da pousada em que ficou hospedado, o que ajudou muito. Mesmo na dificuldade, ele não conseguia se despedir dela, queria estar sempre presente.
Eles detalham que antes da gestação ela era a mais cuidadosa na relação. Após o acidente, foi momento dele retribuir. “Eu sempre fui muito acelerado e ela nunca desistiu de mim. Por que eu ia desistir dela agora?”, conta, afirmando que tiveram que se fortalecer muito como casal e em Deus. “Só tinha a Deus pra me apegar e dar forças. Sempre fui de entregar a Ele, e também buscar. Mas agora eu tinha que aprender a só entregar e quando passei a confiar mais, a carga ficou mais leve”, completa.
 
Fotos e chá de bebê
A situação de estar no hospital internada não impediu que ela fizesse as tradicionais fotos de gestante. Foi no hospital mesmo e o resultado surpreendeu. Quanto ao chá de bebê, ela ganhou três - dois das enfermeiras, nos dois turnos e um feito pela irmã de Rafael, com tudo que tinha direito, em Apucarana.
                 
 
Elo Capelania
 
A capelã e musicoterapeuta Érika Checan conta que o caso deles mostra o quanto são a favor da vida e o aprendizado que tiveram de viver um dia após o outro, resignificando cada momento em Deus. O acolhimento espiritual se deu responsivamente à fé cristã do casal. Considerando o contexto em que se encontravam, a capelania gerou ambientes de fé, esperança e amor, proporcionando com voluntários, que a “igreja estivesse presente no hospital”. Canção, oração e doação embalaram a gestação da pequena Helena, história que foi tecida com com o cultivo da fé bíblica, tornando mais fácil o dia a dia deles no hospital.
Rafael comenta que a união do lado técnico e profissional do Hospital, com o lado humanizado da capelania faz toda a diferença, porque além do atendimento desses voluntários também deixa os profissionais mais humanos, muda o conceito e renova as esperanças dos pacientes.
Érika detalha que primeiramente fizeram uma anamnese sonoro musical para saber como trabalhar. “O Rafael passa muita segurança pra Fabiane, por isso resolvemos representar isso com o grave do violoncelo. A música foi utilizada como recurso de assistência terapêutica, espiritual”, conta sobre uma das ações. Observaram o efeito da música durante as ultrassonografias, o quanto Helena se mexia na barriga e o quanto subia os batimentos cardíacos. Também a influência positiva que fazia na mãe, que naquele momento esquecia das dores e o problema que estava vivendo. Com esse trabalho perceberam também o aumento no batimento cardíaco da Helena quando ela ouvia os pais cantando e tocando na barriga - chegou de 111 a 166 bpm.
Toda semana alguns músicos estavam presentes e faziam um trabalho personalizado, usando, por exemplo, o acordeon, que para eles era bastante familiar, entre outros, acompanhados também de músicas de composições próprias para o casal e a Helena.
Neste domingo (08), o casal estará na 1ª Igreja Batista em Curitiba, no culto às 11 horas. Quem quiser conhecer mais a história deles pode seguir pela página do Facebook com o nome Rafael Fabiano Correia.