A atitude de colar durante uma prova é tão antiga quanto ir para a escola, e a cada geração, elas ficam mais difíceis de serem descobertas pelos professores.
A atitude de colar durante uma prova é tão antiga quanto ir para a escola, e a cada geração, elas ficam mais difíceis de serem descobertas pelos professores. Entretanto, essa atitude de consultar as respostas durante um teste podem esconder problemas no ensino e também problemas psicológicos nos alunos, merecendo ainda mais a atenção dos pais e da comunidade escolar.
Lorena Maria Laskoski, pedagoga, psicopedagoga e doutoranda na Área de Saúde da Criança e do Adolescente, explica que por parte do profissional da Educação existe um sentimento de traição, mas pondera que esse pode ser um sinal de insegurança. “Quando a cola ocorre na hora da prova, entendo que a primeira impressão que qualquer educador tem é de que o aluno não se preparou para a prova e que pode enganar o professor. Caso ocorra um único episódio devemos avaliar de um jeito, se ocorre em mais disciplinas e com diversos alunos, é um problema pedagógico e é função da Equipe Pedagógica ajudar o professor a avaliar essa questão. Colar pode ser um sinal de insegurança. Há vários relatos de alunos que organizaram a cola, mas não a utilizaram pelo fato de ter um papel que já transmitia segurança.”
A pedagoga orienta que o professor, ao pegar o aluno naquela situação, realize uma mudança na dinâmica da prova, realizando, por exemplo, uma prova oral, na qual será possível medir o conhecimento do aluno sobre determinado assunto. “Infelizmente esse método não pode ser usado em todos os conteúdos de todas as disciplinas, mas é uma saída. É impossível saber todos os artifícios usados por eles para colar, principalmente em frente a uma sala de aula com 35 ou 45 alunos extremamente criativos e que não temem o perigo. Cada aluno conhece as fraquezas do seu professor. Por isso, é importante também que cada professor faça um diagnóstico de seus alunos”, revela.
Uma questão levantada pela pedagoga é a forma de avaliação feita pelas escolas e defende que não existe um sistema educacional eficaz sem que tenham avaliações constantes de aprendizagem, justamente para rever as metodologias utilizadas em sala de aula e conferir se a mensagem transmitida por ele está sendo assimilada por ele.
Papel dos pais
Escola e família devem ser parceiras nas questões ligadas à educação dos alunos. Para esses casos, é importante que os pais mantenham sempre um diálogo aberto e franco com os filhos, a fim de conseguir diagnosticar os problemas em torno da situação. “É importante que os pais/ cuidadores conversem com o filho e expliquem que essa atitude não é a correta. O aluno deve receber algum tipo de consequência (ficar sem ver TV, sem acessar o celular ou brincar), pois precisa entender que mentir ou enganar para se dar bem não é aceitável socialmente e que, ao fazer tais ações, sofrerá consequências. Eu defendo que os pais são co-responsáveis por todas as ações de seus filhos. E, nesse momento, eu vejo diversos pais falando que nunca ensinaram isso para ele, mas as crianças aprendem por meio de exemplos. Algo está errado”, diz.
Para a pedagoga, a revisão dos conteúdos e uma rotina de estudos estabelecidas em casa podem evitar que essa situação aconteça. “O ato de fazer tarefas não é um castigo que o professor oferta aos alunos. Faz parte da complexa atividade que é apreender e compreender o conhecimento científico. É importante que o aluno entenda que é praticando que conseguirá verificar o que sabe e o que não sabe. Além desse momento, é importante que o estudante leia o que foi trabalhado durante a aula e faça pequenos resumos, tópicos, refaça exercícios ou mapas conceituais, para que possa fixar melhor o conteúdo. Nesse momento, caso tenha dúvidas, é importante que anote e questione o professor na próxima aula. Seguindo essa rotina diária de estudos, o aluno terá mais domínio do conhecimento e se sentirá mais seguro para a atividade avaliativa”, completa.
Reflexos no caráter
Pode parecer uma atitude pequena, mas segundo Lorena, essa prática pode exercer uma péssima influência na formação do caráter daquele ser humano. “Entendo que esse aluno, que sempre busca formas de burlar o processo avaliativo, será aquele que não se importará de enganar o chefe, a esposa, entre outros problemas que encontramos no cotidiano. Como eu já comentei, ele aprendeu com alguém que pode burlar o sistema, e em alguns casos os pais/cuidadores acabam sendo super protetores. A rigidez é uma das formas de moldar o ser humano. A sociedade é feita de regras”, finaliza.