Peças produzidas em Campo Largo estão nas mesas de chefs de cozinha e exposições
União de talentos e pessoas que se completam. Um casamento de vida e de profissão. Assim pode ser descrita a relação de Danielle Carazzai e Rodrigo Ramirez, que se combinam no estilo de vida e no que lhes dá prazer para trabalhar. Assim, eles transformam a argila em verdadeiras obras de arte, decorativas ou utilitárias, e fortalecem o nome de Campo Largo.
Eles abriram as portas da casa-ateliê para a reportagem da Folha e detalharam o trabalho minucioso que realizam, com riqueza de detalhes que valorizam ainda mais o que produzem. São proprietários do Estúdio Boitatá, localizado na Colônia Figueiredo. Produzem peças únicas e exclusivas, sempre com um conceito diferente, buscando inspiração em temas como natureza e arquitetura. O trabalhado deles vem se destacando e ganhando mais espaço, até mesmo com chefs de cozinha – como exemplo a Manu Buffara, premiada chef que tem restaurante em Curitiba.
Os dois são de Curitiba e compraram um terreno em Campo Largo para passar os finais de semana. Decidiram construir uma churrasqueira para poderem aproveitar mais e então resolveram também construir dois quartos junto. Logo virou o que eles chamam de churrascasa para eles morarem. O filho morava junto até que há quatro anos passou a ficar mais difícil para ele trabalhar e estudar pela distância e voltou a morar em Curitiba.
Danielle era coordenadora de comunicação da Fundação do Grupo O Boticário e nunca tinha produzido nada com cerâmica, até que foi a um Museu em Montevideo, no Uruguai, e se encantou com um vídeo que mostrava uma artesã trabalhando. Logo pensou que queria aprender. Comenta que sempre teve em mente que quando fizesse 40 anos queria fazer algo diferente, que não fosse tão estressante. Encontrou essa nova profissão com a cerâmica e mantém apenas alguns trabalhos de jornalista como freelancer. Rodrigo, que era professor de natação, há dez anos se entregou ao amor pela fotografia.
Vagou o quarto do filho na casa e ali decidiram montar um ateliê. Danielle fez curso de cerâmica em 2012 e 2013 no Museu Alfredo Andersen e no ano seguinte abriu o estúdio. “Iniciei com algumas esculturas e as pessoas começaram a gostar”, conta ela, que iniciou sozinha o trabalho estúdio, mais focada em esculturas, e somente dois anos depois que o Rodrigo também passou a fazer parte.
Eles seguem linhas diferentes e se completam para resultados ainda melhores. Ela sempre foi focada mais na arte como esculturas, já ele passou a produzir peças utilitárias – como pratos, xícaras. Com o conhecimento dos dois, passaram a se completar, produzindo artes utilitárias.
Para Danielle cada peça é uma peça, não gosta de fazer repetição. Rodrigo já trabalha com moldes de gesso para produzir mais de uma peça. Tudo é feito à mão e sem cópias, tudo criação autoral. Além desta união, o trabalho fotográfico de Rodrigo valoriza ainda mais o que produzem.
Trabalho
Em pouco tempo já estão bastante engajados neste novo universo. Participaram de algumas exposições, inclusive no Museu Oscar Niemeyer, onde tiveram oportunidade de conhecer outros ceramistas, cerca de cem, do Paraná. O evento foi organizado pela Cerâmica Contemporânea Curitiba.
Já tiveram uma peça em exposição em Nova York, mas dizem que participam de poucos eventos porque não conseguem atender grande demanda, devido ao trabalho manual e delicado, que respeita o tempo de secagem da argila e todos os processos cuidadosos. “Aprendemos a respeitar o ciclo da natureza”, acrescenta. Rodrigo comenta que durante as produções acabam surgindo novas criações e experiências.
Desenvolvem um tema com o cliente, fazem pesquisa e só então iniciam a produção. Danielle comenta que para peças para a Manu Buffara, por exemplo, fez desenhos que eram releituras de sementes. Como são obras de arte, o que as pessoas veem como pratos, na verdade são chamados de peças para servir. “É uma arte em cima de uma arte, que valoriza a gastronomia”, ressalta.
Cada feira acabou sendo um grande aprendizado para eles, que estudam as melhores matérias-primas, as formas de apresentação, técnicas, cores e outros. Dão prioridade a comprar de empresas de Campo Largo, como a Cermassa.
O público deles é aquele que valoriza o trabalho manual e único. Algumas peças são vendidas na loja Oda, em Curitiba. O foco é trabalhar com projeto para desenvolver trabalhos autorais, desenvolver o universo cerâmico para pessoas ou empresas.
Atualmente Danielle é representada pela Galeria Aires, a qual fomenta a arte e presta um serviço de consultoria. O belo trabalho realizado pelo Estúdio Boitatá é divulgado através da página do Facebook Estúdio Boitatá.
Declaram que a cerâmica é a principal plataforma, mas também dedicam tempo para a pintura, a fotografia artística, o desenho descompromissado e a marcenaria de ocasião. “Nosso trabalho passeia pelo modernismo com uma pitada minimalista e forte influência da natureza e da linguagem. Um caminho de múltiplas e novas escolhas.”