Com a correria do dia a dia, muitas pessoas se sentem culpadas se ficam por alguns momentos sem fazer nada, o que é essencial e saudável
O hábito de estar sempre fazendo muitas coisas ao mesmo tempo pode aumentar a ansiedade, o stress, o cansaço, além de sempre estar com sobrecarga de tarefas. Um ritmo assim por muito tempo pode levar a sintomas físicos e psicológicos, pois nem mente nem corpo suportam esse excesso de atividades e essa sensação constante de que está em dívida, ou precisando realizar alguma coisa. Quem explica é a psicóloga Angelica Neris.
Segundo ela, muitas pessoas consideram um desperdício de tempo, improdutividade e preguiça se ficam sem fazer nada e, ao invés de relaxarem, ficam se sentindo culpadas, como se fosse algo errado. Um dos fatores que potencializa isso é a tecnologia, que faz com que as pessoas fiquem sempre conectadas a tudo, bombardeadas de informações a qualquer hora. Isso tem estimulado o crescimento no número de pessoas ansiosas e depressivas. “Afinal, um estilo de vida cheio de excessos não é sinônimo de qualidade de vida, mas é uma bomba relógio prestes a explodir”, enfatiza.
As pessoas já consideram normal estarem sempre na correria, deixar de almoçar para trabalhar, não tirar férias para não atrasar atividades na empresa, entre outras ações simples que começam a se tornar comuns e a pessoa não consegue perceber os riscos que causam para o corpo e cérebro. A percepção pode vir em sintomas ou doenças, como um pedido para desacelerar um pouco.
Para ela, a ditadura da correria impede de viver e aproveitar os pequenos e simples acontecimentos do cotidiano. “Se você não está convencido que parar não é só benéfico para você, mas sim é necessário, talvez vale lembrar da metáfora do lenhador. Antes de cortar a árvore é preciso parar e afiar o machado. Aquele que para faz muito melhor do que aquele que segue freneticamente, pois o ato de parar traz uma nova perspectiva, novos ângulos, deixa-se de seguir o fluxo e consegue-se visualizar o que é importante e é possível dar-se conta que o óbvio, às vezes, não é tão óbvio assim.”
Como fazer
Ficar sem fazer nada não é tão simples para quem já tem uma rotina acelerada. Muitos nem sabem como fazer isso e acabam se entediando. Angelica orienta que primeiro é necessário conhecer a percepção pessoal que se faz do tempo, depois aprender a desacelerar. “Para desacelerar comece quebrando o hábito de fazer várias coisas ao mesmo tempo e passe a fazer uma coisa de cada vez. Quando estiver na fila do buffet, por exemplo, apenas esteja na fila do buffet, não confira as mensagens no celular, nem responda os e-mails, apenas vivencie e aprecie este momento. Desacelere seus gestos, escolha uma atividade do seu dia e a realize com calma, pode ser o banho, a alimentação, o caminho para o trabalho. Sinta como seu corpo fica quando está desacelerado. Lembre-se de que parar é essencial e não sinônimo de improdutividade”, explica.
O dia precisa ser organizado pensando em um tempo para lazer e descanso, com pausas durante o dia para permitir ter um tempo sozinho. Para isso, Angelica comenta que é preciso elencar prioridades e identificar os “ladrões” do seu tempo. Afirma que desacelerar é desafiador e ao mesmo tempo fundamental.
Por quê?
Manter o ritmo sempre acelerado pode começar a causar enxaqueca, dores musculares, problemas estomacais, tensões no rosto, na nuca, cansaço frequente, distração, dificuldade para focar, alterações no sono, impaciência e agressividade. Se o corpo já apresenta esses sinais, é momento de reavaliar o modelo de vida e se readequar.
A psicóloga comenta que não é preciso esperar o corpo dar sinais para então perceber a importância de parar um pouco. “Atitudes simples no dia a dia facilitarão para uma vida mais saudável e trará muitos benefícios a longo prazo, como ficar mais tranquilo, ter tempo para descansar, relaxar, dormir, mais produtividade, mais espaço para experimentar e vivenciar outras experiências, facilidade para enxergar as coisas com mais clareza. Enfim, desacelerar é fundamental para aquela tão sonhada qualidade de vida”.