Há 30 anos, uma turma pequena, de uma sala multisseriada no interior de Campo Largo, era ensinada pelo professor Odair Sebastião da Silveira. A Escola Rural Municipal São Francisco Borja contava somente com o professor, que também era diretor, inspetor, merendeiro e atendia toda a comunidade, pois era o único na localidade de São João do Povinho a possuir veículo próprio.

“Uma das coisas que mais me marcam foi ele ter que parar a aula e fechar a escola para poder levar as pessoas até a cidade, receber um atendimento médico. Lembro de uma vez que ele precisou fechar a escola para levar uma criança que havia sido picada por uma cobra. Ele sempre teve essas características de ser muito prestativo, espírito altruísta”, conta Ana Paula da Silveira, filha e ex-aluna do professor Odair.

O menino picado pela cobra era Reinaldo Alves, que vê o professor Odair como um “herói”, que salvou sua vida naquele dia. “No inverno de 1986, eu com três anos, juntava pinhão com meus irmãos quando pisei em uma cobra que picou minha perna esquerda. Muito rapidamente, meu pai conteve a circulação e pegou meu irmão mais velho, com 12 anos na época, e correu por cinco quilômetros, para pedir socorro ao professor Odair, único morador da comunidade que tinha carro, para que me levasse ao médico. De imediato o professor Odair dispensou seus alunos e veio em meu auxílio. Essa atitude foi primordial para que pudesse sobreviver e não ter nenhum dano permanente, segundo a equipe médica. Na época permaneci internado por oito dias tendo uma plena recuperação”, relembra.

Essa é apenas uma das centenas de memórias a respeito deste professor em particular. Nascido em Campo Largo no ano de 1953, o professor Odair tem formação em Ciências Contábeis, mas à época “os professores eram pessoas com maior grau de ensino”, conforme retrata a sua filha Ana. Ele foi professor somente naquela escola, até o ano de 1988, quando tornou-se inspetor da Escola Municipal Monsenhor Ivo Zanlorenzi.

Homenagem merecida

Por sua forte atuação na comunidade, ele acabou se tornando muito próximo das pessoas que viviam ali, e possui vários afilhados e amigos ainda hoje. Embora a grande admiração de todos por ele, ainda não havia recebido nenhuma homenagem.

Mas neste domingo (10), isso mudou. Alguns ex-alunos e membros da comunidade, que conviveram com o professor naquela época, realizaram uma confraternização e uma homenagem em agradecimento por todos os ensinamentos e ajudas prestados pelo professor.

Na ocasião, o professor aproveitou para agradecer o carinho de todos, principalmente pelo recebimento de uma homenagem em vida. “Eu sei que um dia eu consegui passar alguma coisa para vocês, que usam até hoje em suas vidas, nas suas famílias. Jamais eu imaginava que um dia eu fosse receber uma homenagem. Eu agradeço a todos que planejaram, que colaboraram e que têm um carinho por mim”, disse.

O professor lembrou ainda, emocionado, dos alunos e pessoas da comunidade que já faleceram e não puderam compartilhar daquele momento. “Eu realmente não tenho palavras para agradecer. Esse é o valor do trabalho de professor, não é o salário, mas o reconhecimento, estou aqui hoje colhendo os frutos do meu trabalho. É um prazer poder ter feito parte da história de vocês. Minha casa está de portas abertas para quando vocês precisarem de uma mão, uma palavra amiga. Aproveito para pedir desculpas se um dia eu magoei, ou briguei com vocês, pois quando exercemos essa profissão exige isso também. Vocês não imaginam a falta que eu senti quando saí daqui”, relembra.

Além da homenagem, o professor recebeu também uma placa na qual trazia o texto: “Os seus ensinamentos foram muito além dos conteúdos do currículo. Tivemos aprendizados importantes para a vida. A sua missão vai muito além da missão de professor, você é o verdadeiro mestre. Você sabe despertar a nossa admiração de um modo único e se tornou uma inspiração para nós”.