Dizer não para uma criança, especialmente para os filhos, pode parecer um desafio, mas é altamente necessário, conforme explica psicóloga
Muitas vezes movidos pela culpa em trabalhar o dia todo ou por ter um poder aquisitivo mais elevado, pais muitas vezes são permissivos em momentos que deveriam dizer não aos seus filhos. Isso pode gerar dificuldades em lidar com perdas, frustrações e limites em um futuro próximo.
A psicóloga Priscila Stocco Costa explica que dizer não é demonstrar amor à criança e ensinar lições que perduram por toda a vida. “O “não” mostra o limite de até onde a criança pode chegar com determinado comportamento e a partir daí é que ela aprende o que é certo e errado, os valores e principalmente a enfrentar as frustrações. Uma criança que só recebe “sim” como resposta ou que recebe tudo pronto, certamente poderá ter dificuldades em saber respeitar limites, desenvolver autonomia e lidar com a frustração, por exemplo. Quando isso não é modificado de forma sistêmica (familiar), pode acarretar em um adolescente/adulto com as mesmas dificuldades no trabalho, nos relacionamentos e ainda desenvolver problemas psicológicos que precisem de tratamento.”
Geralmente, época de férias é um momento em que são permitidas mais coisas do que no decorrer do ano. Algumas crianças conquistam o poder de dormir mais tarde, ficar mais tempo no vídeo-game, passar mais tempo na casa de colegas, comer mais alimentos industrializados, entre outros, porém, é importante que os pais não destoem tanto das regras e explique bem o porquê aquilo está sendo permitido. “Eu sempre oriento que toda vez que as regras forem modificadas, deve haver um bom motivo para isso e precisa ser feito um combinado prévio. Penso que as férias são um bom motivo, pois a criança necessita relaxar também. Portanto, quando for o momento de retomar as antigas regras a criança já estará avisada e ficará mais fácil, mas a resistência pode acontecer”, diz.
Há alguns pais que sentem que perderam o controle sob seus filhos e eles se tornaram donos das suas próprias escolhas, mas existem meios de recuperar a autoridade. “Primeiramente vale uma reflexão para analisar onde é que a educação pode ser melhorada. Se está decidido pela mudança, é preciso se manter firme, estabelecer os novos critérios, pedir apoio da família e colocar em prática. Algumas vezes poderá ser necessário o apoio de um profissional da psicologia”, orienta.
Crianças Pequenas
Mesmo as crianças bem pequenas já conseguem compreender algumas coisas. A psicóloga explica que desde o nascimento a criança começa a perceber o mundo e, aos poucos, nota que para cada comportamento há uma consequência. Por ainda serem bem pequenas, esse processo é gradativo e faz parte da aprendizagem, por isso é necessário que os pais tenham paciência e consistência, como não ceder aos choros. Para Priscila, isso não significa rigidez, mas sim disciplina. Atitudes como comemorar condutas corretas ou mostrar-se chateado com as inadequadas já faz parte da “modelagem” inicial.
Família interferindo
Em alguns lares, os pais podem ter o controle dos seus filhos, mas é preciso também estabelecer limites com os avós, tios e demais familiares para que os limites não se percam. “É absolutamente comum que alguns parentes queiram cuidar dos pequenos de forma mais protetora. Sugiro que sejam esclarecidas as regras básicas aos familiares, solicitando que os mesmos busquem cumprir a favor da criança. Geralmente elas sabem distinguir os ambientes, mas em casos mais extremos é necessária uma nova conversa”, aconselha.
Limites demais, chantagens e agressões
Tudo o que é demais atrapalha, inclusive os limites. Priscila explica que pais que impõem em seus filhos muitos limites, estão acostumados a dizer não para tudo, usar críticas exageradas ou chantagens emocionais são questões punitivas e destrutivas e afetam diretamente a autoestima, o sentimento de segurança e o sentimento de ser amado da criança. A psicóloga complementa dizendo que elas são seres em formação e também têm o direito de tentar e cometer erros.
As agressões físicas e verbais podem trazer impactos para a vida toda. “Toda agressão gera sentimentos como raiva ou tristeza e não é esse o objetivo quando se trata de educar. Os pais são o espelho para os filhos e agindo assim eles mostram como é que se pode resolver um conflito. Neste caso, geralmente as crianças não mudam porque aprenderam e sim por sentirem medo”, diz.