Círculo de amizades faz com que mulheres campo-larguenses que enfrentam o câncer se tornem mais fortes
Nem sempre falar o que está sentindo é algo muito fácil. Se abrir para alguém da família, contar seus medos e angústias muitas vezes parece algo sacrificante, que vai causar espanto ou medo nos demais. Encontrar alguém que passa por problemas semelhantes, pode trazer mais força e esperança para vencer.
Em meio a risadas, histórias e estabelecimento de amizades, o grupo de apoio às pessoas com câncer, voluntário e iniciado oficialmente no começo do ano, conta hoje com participantes diagnosticados com o problema, aqueles que tiveram a doença mas já foram curados e também pessoas que cuidam de pacientes nessas condições.
Segundo Clarice Nesi Bonato, fundadora do grupo, tudo começou ainda nas aulas de Teologia, que ela cursava na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), durante uma disciplina que trazia o conteúdo de Cuidado Paliativo. “No início me assustei um pouco, mas aprendi que para você dar conforto para alguém, é preciso que você se encontre em equilíbrio. Nós montamos em sala alguns grupos e, no meu, ficamos responsáveis por cuidar do cuidador, pois ele também sofre e merece atenção. Iniciamos o projeto no Hospital Cajuru, em Curitiba. Ficávamos nas portas, conversando com as famílias, que muitas vezes só precisavam desabafar”, relembra.
Ela conta que depois de alguns meses com o projeto acabou descobrindo um tumor no olho, o qual a fez buscar tratamento em São Paulo, pois no Paraná só realizavam a retirada de todo o globo ocular. Lá ficou em um lar de irmãs, que a acolheram e faziam todo o trabalho de apoio. Também foi recebida em uma casa de uma campo-larguense que havia se mudado e tinha, à época, uma filha que enfrentava o câncer. “Eu percebi na prática o quanto era necessário algo assim. Resolvi, então, desenvolver o projeto em Campo Largo”, relembra.
Agora ela faz acompanhamentos, mas já está curada do câncer e continua enxergando bem. “Foram momentos inexplicáveis. Conviver com pessoas com câncer e ser um paciente permite com que nós visualizemos o mundo e a vida de outra forma. É momento de desacelerar e viver cada dia de uma vez e tudo faz parte de uma valiosa conquista”, completa.
O sentimento que as participantes querem construir é de amizade genuína; o espaço está aberto para troca de experiências, pesquisas e métodos que deram certo. Elas deixam claro que não são médicas, psicólogas ou advogadas, mas que as descobertas podem sim auxiliar durante o tratamento. “Eu convivo com o câncer há 10 anos. Parei de dizer que luto conta ele, porque ele é parte de mim. Costumo dizer que quero que essas células deixem de ser malignas e voltem a fazer o papel que foi designado a elas por Deus. Sempre pesquiso tudo, procuro novos tratamentos na internet e divido com o médico e com elas também. Não quero que ninguém tenha dó, quero que vejam que estou bem, capaz de cuidar de mim, da minha família e da minha casa”, afirma Márcia Gadens.
Piedade não tem vez para a maioria das mulheres envolvidas no projeto. “Nós gostamos de ser mimadas e paparicadas, mas é muito diferente quando alguém te olha com aquele ar de pena. Aqui também não é local para lamúrias ou medir dores, pois isso acaba prejudicando o tratamento. Nosso lema é positividade, que essa é só mais uma fase da vida, um local para buscar e oferecer ajuda. Vamos chorar juntas, mas vamos sorrir ainda mais”, diz Clarice.
Estendendo a mão
Quando a Reportagem participou do grupo, também tinham mulheres que apoiaram algum familiar que sofreu ou sofre com a doença. Silvia Iguaçu tem em sua família o diagnóstico de câncer de mama e ovários genético, com grande possibilidade de todos desenvolverem. “Minha avó, minha mãe e minha irmã lutaram contra o câncer e, há pouco tempo, eu também fui diagnosticada, por meio de um exame de rotina. A gente já conhece mais ou menos o que será feito, mas é incrível como cada pessoa responde de uma forma o tratamento, por mais que eles sejam bem parecidos. É um momento delicado da vida, principalmente porque nos exames apareceu que a causa é genética, imediatamente penso em meus filhos. Aí volta o pensamento que precisamos viver um dia de cada vez”, relata.
Marilei Sequinel também é paciente e conviveu por 20 anos com uma pessoa com câncer. “Esse era um dos meus maiores medos. Eu tinha pavor de ter câncer, fazia todos os exames bem certinho nas datas estipuladas, ia no médico assim que via algo estranho. Até que um dia apareceu uma alteração, uma suspeita. Eu nunca tive casos na família, fui a primeira, o médico até me disse que há casos de ‘mega-sena ao contrário’ e eu fui um. Aprendi que o desespero não adianta, é preciso desacelerar e perceber a transformação de vida que passamos”, conta.
Também estavam presentes na ocasião Tereza Vieira, que já perdeu um cunhado e uma cunhada para a doença e hoje apoia outras duas cunhadas que enfrentam o câncer e também Raquel Paulart, mãe do Anderson Jr., que contou um pouco sobre a sua luta com o filho, que faleceu em dezembro de 2015.
Fé e esperança
sempre presentes
O grupo é ecumênico e recebe pessoas de todos os credos e fés de braços abertos. A fé, a sensação e certeza de que Deus está presente é assunto frequente durante os encontros. Todas as mulheres presentes na ocasião falaram sobre a presença de Deus na sua vida e como isso contribuiu para que a luta ficasse menos pesada. Testemunhos não faltaram durante o encontro.
Encontros
Os encontros acontecem nas primeiras e terceiras quartas-feiras do mês, às 19h30, no Centro Catequético da Matriz. Próximo encontro está previsto para o dia 21 de fevereiro. Mais informações pelos telefones 3292-3193 ou 99674-2083.