Segunda-feira às 25 de Novembro de 2024 às 07:42:07
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Carioca deixará saudades

Nosso colunista e parceiro de trabalho de muitos anos, Carioca sempre se destacou pela dedicação na profissão de fotógrafo, a qual exercia com muita alegria. Neste sábado (30) lamentamos sua perda após uma g

Carioca deixará saudades

Antonio Evangelista Campos Silva, Carioca, faleceu neste sábado (30), aos 62 anos de idade. Muito intenso e alegre ao exercer sua profissão de fotógrafo e por adorar o contato com o público, sempre foi muito conhecido e querido na cidade.

Seu velório será na sala 01 da Capela Municipal e o sepultamento será no Cemitério de Bateias neste domingo (31), com saída da capela às 16:15. Uma triste passagem de final de ano para quem o conhecia.

No início deste ano a Folha publicou uma matéria contando a história dele e da doença que foi o limitando a cada dia mais:

 

Muito conhecido em Campo Largo e região, o fotógrafo Carioca (Antonio Evangelista Campos Silva), hoje com 61 anos de idade, está muito doente e precisa de ajuda dos amigos e da população. Ele foi diagnosticado, no ano passado, com uma doença rara, a “ELA” - Esclerose Lateral Amiotrófica, também conhecida por “Doença de Lou Gehrig e doença de Charcot”. Trata-se de um mal neurodegenerativo progressivo e fatal, que degenera os neurônios motores, as células do sistema nervoso central que controlam os movimentos voluntários dos músculos, mas preserva a sensibilidade.

 

Para o leitor entender melhor o que é a doença, é importante saber que ELA, as iniciais da denominação, “Esclerose” significa “endurecimento e cicatrização”, “Lateral” refere-se ao endurecimento da porção lateral da medula espinhal, e “Amiotrófica” é a fraqueza que resulta na atrofia do músculo. O volume real do tecido muscular diminui. O paciente sente fraqueza muscular secundária por comprometimento dos neurônios motores. Antes, Carioca nunca aceitou que o seu problema fosse tornado público, mas agora que necessita de ajuda para poder ter uma melhor qualidade de vida, pediu apoio.


A história
Carioca nasceu em Fortaleza, e sua mãe, durante a gestação do menino, foi vítima de uma picada de cobra, uma Cascavel, e sobreviveu. Ao nascer, entretanto, Carioca aparentemente tinha saúde normal, mas após o primeiro ano de vida, a mãe viu que o menino não conseguia andar. Aos 08 anos, disse que “cobrou” de Deus, pedindo para andar como os outros, e sua avó disse que ele deveria pedir uma graça a São Francisco. “Fiz uma promessa ao santo e tive pesadelo a noite toda. No sonho, falei com o santo e ele, São Francisco, jogou em mim um bicho branco, que me mordeu. Depois descobri que era um coelho”, explicou ele.

Família pobre, casa de sapé, chão batido, Carioca disse que ficou bastante perturbado com o sonho e, três dias depois, quando ainda estava na rede, escutou uma voz “Levanta!”, “Levanta!”, “Levanta!”, e ele levantou e gritou para sua mãe, que correu e, ao vê-lo de pé gritou: “Milagre!”. “Eu saí correndo, como se tivesse andado desde pequeno”, explicou Carioca.

Aos 13 anos, o menino foi com o pai Deusdedit Martins da Silva para o Rio de Janeiro, onde conseguiu sobreviver e tornar-se fotógrafo profissional. Lá conheceu o amigo Germano José  Oliveira, também fotógrafo na época, que no início dos anos 80 veio para Campo Largo. Seguindo os passos de Germano, ele veio para conhecer a cidade e, apesar de reclamar do frio, acabou ficando, ganhando a vida como fotógrafo, reportando em fotos, casamentos, batizados e festas da sociedade. Casou, teve dois filhos, Welson, hoje com 26, e Wendie, com 22. Separado, Carioca conheceu a atual mulher, Izaira, com quem passou a viver.

Um sinistro marcou a vida do fotógrafo, em Campo Largo, quando ele morava com a família e tinha um foto na Marechal Deodoro, quase esquina da Gonçalves Dias. Um incêndio, em 1995, destruiu tudo. Ele escapou com a mulher e filhos, somente com as roupas do corpo. Recebeu ajuda dos amigos e da população, mas teve que recomeçar do zero.

Anos depois, outro incêndio de menor abrangência, mas igualmente devastador na sua vida financeira, destruiu outro foto, do qual tirava o seu sustento. Outro recomeço, separação e recomeço da vida profissional e afetiva. Nesta época, com ajuda do amigo Germano, ganhou gratuitamente um espaço na Folha de Campo Largo, para divulgar o seu trabalho, fotos de pessoas nos clubes e casas noturnas da cidade.

Em Campo Largo, Carioca foi, por duas vezes, candidato a vereador. Na primeira vez, em 1996, quase foi eleito, mas na segunda, não obteve a mesma votação, e desistiu.

A doença
Há três anos, Carioca sofreu um tombo, ao sair do carro. Não sabia o que tinha acontecido, achou que era um desequilíbrio banal, mas já era a primeira manifestação da doença que o acometia. Depois começou a sentir a atrofia nas mãos, dificuldades para andar, parou de dançar, atividade que gostava muito de fazer. Na Redação da Folha todos perceberam a progressão da doença, tentaram ajudar, pois Carioca tinha dificuldades até para chegar à Redação e entregar o pendrive com as fotos. Por fim, teve que parar de trabalhar, já não conseguia mais andar sozinho, nem segurar e acionar o obturador da máquina fotográfica. Seu trabalho, na noite, fazendo fotos para divulgar na  Folha, teve que entregar ao filho, para poder garantir parte de seu sustento.

Tratamento
Carioca passou a receber ajuda de amigos, na sua luta para sobreviver e tentar um tratamento para a doença. Foi com ajuda de um amigo, Carlos Lamoglia, que ele foi levado a um especialista em Curitiba, que diagnosticou a sua doença, “ELA”, da qual ele, Carioca, não sabia nada. O tratamento proposto, entretanto, era impraticável para o padrão financeiro dele. Na época, pelo menos R$ 60 mil, apenas para garantir que a doença não progredisse, ou que avançasse mais lentamente.

Sempre acreditou que a doença não o afetaria muito seriamente e que conseguiria se curar, com o tempo. Ele não teve tempo, foi “atropelado” pela velocidade com que a atrofia o atingiu. Hoje, já não consegue dirigir, só sai da cama com muita dificuldade, com ajuda de um andador, para ir ao banheiro, ou para comer alguma coisa, já que a sua esposa trabalha o dia todo (é merendeira numa escola estadual no centro da cidade), e ele fica sozinho em casa. Uma vez ele caiu na cozinha e ficou o resto do dia no chão, porque não conseguia se levantar, até a esposa chegar do trabalho para socorrê-lo. Outra vez, no banheiro, no vaso, conseguiu chamar o filho pelo celular, para judá-lo, porque não conseguia se levantar. Fala, com tristeza, sobre as mudanças no seu corpo: “Já perdi 36 quilos”.

Apesar da doença e do sofrimento, Carioca não perdeu a sua fé. Acredita que pode se curar com uma graça que vai receber diretamente de Deus. Da janela do seu quarto, vê uma pequena faixa verde de mata, atrás do condomínio onde mora, no Três Rios (casa comprada pela sua atual esposa) e acha que esta Natureza que vê, que acredita ser Deus, não o abandonará. “Deus é tudo o que existe no Universo. Tudo o que tem vida e o que aparentemente não tem é Deus”, diz ele, filosofando.

Um amigo, de vez em quando, lhe leva uma Cesta Básica. “É uma ajuda e tanto”, explica. Além da ELA, Carioca também foi diagnosticado, há dois anos, com Diabetes. “Ganho remédio, para Diabetes, mas para ELA é muito caro, não dá. O prefeito Marcelo Puppi prometeu fazer o possível para me ajudar. A secretária de Saúde, Christiane Chemin já esteve aqui em casa, e também mandou duas médicas para me examinar. Fico muito feliz por eles estarem preocupados com a minha situação”, disse num franco sorriso.