Ouvir música alta no fone de ouvido está acabando com a audição de adolescentes. Segundo pesquisa, pode trazer danos irreversíveis.
24/10/2016
É comum, ao caminhar pelas ruas ou dentro dos ônibus, encontrar adolescentes e jovens adultos usando fones de ouvido com músicas demasiadamente altas. Segundo os pesquisadores da Associação de Pesquisa Interdisciplinar e Divulgação do Zumbido (Apidiz), hábitos tão comuns quanto esse podem gerar danos irreversíveis à audição.
O médico otorrinolaringologista Rafael Martins diz que a perda de audição é um processo, e muitas vezes não é percebida. “É um processo gradativo, vamos deixando de ouvir frequências que não estamos acostumados a escutar, por isso é difícil de perceber. Isso se dá pelo costume de ouvir, por exemplo, todos os dias música alta em fones intra-auriculares (que são aqueles que acompanham o celular na hora da compra) por uma grande intervalo de tempo, acima do limite aceitável, que é de 70 decibéis.”
Quando o usuário de um aparelho reprodutor de música tenta deixar o volume no máximo, muitos desses dispositivos emitem um aviso sobre os riscos que aquela pessoa está sendo exposta, mas na maioria das vezes, esse é ignorado.
Segundo a pesquisa, o primeiro demonstrativo de problemas de audição é o zumbido no ouvido. Dos 170 jovens que participaram da pesquisa, e têm idades entre 11 e 17 anos, mais da metade dos adolescentes (54,7%) respondeu que tinha sentido zumbido nos ouvidos nos últimos 12 meses.
“Se esse sintoma aparece e imediatamente é procurado um médico otorrino, é possível que consigamos resolver, com o uso de medicamentos, mas na maioria das vezes trata-se de um caso irreversível e já é considerado o primeiro estágio da perda auditiva”, explica o médico. A pesquisa mostrou que desses 54,7% participantes da pesquisa que já relataram ouvir um zumbido no ouvido, 51% disseram que a primeira vez que sentiram que isso estava acontecendo foi logo após ouvir música alta no fone de ouvido, sair de shows ou casas noturnas que tocavam músicas altas. “O zumbido no ouvido é causado por uma desorganização de células pertencentes à cóclea, que transforma a onda sonora em impulso elétrico, interpretado pelo nosso cérebro como o som. Uma vez essas células desorganizadas, elas não conseguem desempenhar seu papel”, diz.
Como alternativa para que o problema não acabe se tornando real, segundo o médico, é usar fones de ouvido do tipo concha e de boa qualidade, pois prejudicam menos e também não expõe os ouvidos a longos períodos de músicas acima dos 70 decibéis.
Outras causas
A perda auditiva também pode acontecer por outras causas. O Dr. Rafael explicou que há dois modos de perdas auditivas, uma é chamada de condutiva, que pode ser resolvida com cirurgias ou medicamentos e a outra é a neurossensorial. “A neurossensorial é intratável. Há uma série de fatores que podem influenciar essa perda auditiva, como por exemplo a idade avançada. Após os 60 anos, os vasos sanguíneos vão afinando e a irrigação de sangue na região fica mais baixa, fazendo com que aquela pessoa não escute mais com a mesma eficiência; outro fator é a genética, sequelas, ruídos. Mas, ainda que identificada, não consegue ser revertida.”
Outro causador da perda auditiva é o trauma acústico. “Esse pode acontecer quando ocorrem explosões e está sem um protetor auricular, fogos de artifício, entre outros. No primeiro grau, que acontece um edema, um inchaço, o caso pode ser revertido. Mas se ele apresentar evolução, as chances dele ser reversível são bem baixas”, finaliza.