20-12-2011
Apreensão de veículos na fronteira soma R$ 82 milhões
20-12-2011 Fonte: Gazeta do povo
O valor total dos veículos apreendidos no contrabando e tráfico de drogas na fronteira do Brasil e Paraguai já é 25% maior neste ano se comparado a 2010. Os dados da Receita Federal do Brasil (RFB) revelam que entre janeiro e novembro de 2010 o valor somado dos automóveis retidos equivalia a R$ 65 milhões de reais (US$ 35 milhões na cotação daquele ano). No mesmo período deste ano, o valor já é de R$ 82 milhões (US$ 44 milhões em cotação atual). Até o mês de novembro, 3.624 foram apreendidos pela receita Federal de Foz do Iguaçu.
Os cálculos são feitos com base na tabela Fipe e no volume apreendido, segundo o auditor da RFB Ivair Hoffmann. Ele diz que neste ano o aumento do valor deve-se, em parte, ao maior número de caminhões retidos pela polícia e fiscais nas rodovias e estradas da Região Oeste. Com a Operação Sentinela em andamento, o que representa reforço na fiscalização, somente a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreende diariamente de 10 a 12 carros repletos de mercadorias. Com ações constantes da polícia e dos fiscais em rodovias e estradas rurais, a quantidade de automóveis retida nos pátios da delegacia da RFB em Foz do Iguaçu hoje chega a 8 mil veículos, número equivalente à frota do município de Ampére, no Sudoeste do estado. A maioria são carros de passeio, mas também há caminhões, motos e ônibus.
Estratégia
Os carros são carregados com mercadorias em Foz do Iguaçu e região. Partem de depósitos clandestinos e seguem pela BR-277 e estradas vicinais da Costa Oeste paranaense. Algumas quadrilhas fazem minicomboios de até quatro veículos para levar mercadorias. Com batedores, olheiros e rádios comunicadores, os contrabandistas conseguem mapear a ação da polícia para na tentativa de escapar ao cerco.
Alguns grupos fazem trajetos curtos até cidades consideradas depósitos, como é o caso de Santa Terezinha ou São Miguel do Iguaçu. Outros muambeiros seguem em viagens mais longas até cidades dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás, sempre com o carro abarrotado de produtos.
Turbinados, os veículos de muambeiros são reconhecidos com facilidade pela população do Oeste por terem características próprias. Em geral, os carros são conduzidos por um só motorista, circulam sem o banco traseiro, com vidro fumê e têm a suspensão alterada para poder carregar o maior número possível de caixas de mercadorias. Assim, perdem a estabilidade e a chance de capotar é maior, segundo a polícia. Entre os carros usados há automóveis de luxo como Honda Civic, além do Vectra e Astra. Quando se trata de caminhões, há carretas, mais utilizadas para o transporte de maconha, e caminhões frigoríficos, onde se costuma esconder caixas de cigarros em meio a frangos e carnes.
No comboio da ilegalidade, há carros que são fruto de roubo ou têm placas clonadas. No entanto, segundo a RFB a maioria é financiada em nome de terceiros. Nem todos são procedentes do Paraná. Boa parte tem placas de outros estados brasileiros, incluindo São Paulo e Santa Catarina.
Algumas quadrilhas chegam a turbinar o motor para ter mais velocidade na pista, com potências que ficam principalmente em 1.6 e 2.0. Os automóveis precisam de um motor potente pela quantidade de carga que costumam transportar. A PRF já encontrou, em um só carro, um Meriva, 17,5 mil maços de cigarro, uma carga de cerca de meia tonelada.
Comboios de ônibus foram substituídos por carros de passeio
Os contrabandistas passaram a usar com mais frequência veículos para transportar mercadorias e drogas depois que a fiscalização da polícia e da Receita Federal do Brasil (RFB) foi reforçada na Região Oeste para desbaratar os antigos comboios de ônibus. Na década de 90, mais de 300 ônibus saíam de Foz do Iguaçu, principalmente às quartas e sábados, carregados com mercadorias do Paraguai. Cada veículo levava em média o equivalente a US$ 50 mil em produtos. A estratégia, utilizada para dificultar a fiscalização porque a polícia não conseguia parar todos os ônibus ao mesmo tempo, começou a ruir em 2005 quando uma megaoperação, com amparo da Justiça, foi realizada para apreender os ônibus. Com a apreensão, os muambeiros passaram a adotar carros pequenos e caminhões para o contrabando.Perseguição
Fugas aumentam riscos na BR-277
Para conter a ação do crime organizado, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Receita Federal (RF) utilizam helicópteros e têm apoio de viaturas em terra. A estratégia integrada funciona, mas torna a BR-277 uma rota de perseguição que coloca em risco outros motoristas.
Para escapar da fiscalização policial, os criminosos dirigem em velocidade superior a 160 km/h e trafegam na contramão, colocando em risco a vida de outros motoristas. O foco do perigo concentra-se na região Oeste, entre Foz do Iguaçu e Cascavel. O trecho é considerado de risco também pelas características da rodovia: 82 dos 120 quilômetros são de pista simples.
No dia 10 de dezembro, um Vectra foi conduzido na contramão para escapar da ação da polícia, próximo a Medianeira, e bateu de frente com um carro com placas de Joinville que seguia no sentido Cascavel. No último domingo, dia 18, uma Parati superlotada de cigarros contrabandeados pegou fogo depois que o motorista tentou evitar uma abordagem da PRF no posto de Santa Terezinha de Itaipu. Ele trafegava por uma plantação de soja. O motorista abandonou o carro, mas foi preso.
O chefe da Delegacia da PRF em Foz do Iguaçu Júlio Cezar Kloster diz que mesmo quando não são perseguidos os muambeiros abusam da velocidade. Quando não passam pela BR-277, eles trafegam por estradas rurais da região lindeira ao Lago de Itaipu, usadas como desvios. A polícia já chegou a apreender carros batidos e abandonados. "Há veículos turbinados que não conseguimos acompanhar", afirma.
O perigo para a população não se restringe à rodovia. Como a BR-277 corta várias cidades do Oeste, alguns muambeiros costumam entrar no perímetro urbano para fugir da polícia.
Foi o que ocorreu na tarde de quarta-feira passada, dia 14. Perseguidos por um helicóptero da PRF, um veículo entrou no centro de Santa Terezinha em alta velocidade e quase provocou um acidente. Acostumada a ver as cenas, a comerciante Maria Emília dos Santos diz que o risco é constante. "Eles correm, furam o sinal e fazem curvas perigosas", diz.