14/11/2011
Ideias para promover a segurança.
14/11/2011 Fonte: Gazeta do povo
Polícia na rua é reivindicação comum da população quando o assunto é segurança pública. Mas, segundo especialistas e líderes comunitários, a tarefa de tornar mais segura uma vila, um bairro ou uma cidade depende de várias outras ações. E a participação popular é fundamental. Esse envolvimento da comunidade, porém, é mais difícil de conseguir do que se imagina.
Na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o maior bairro da capital, há 125 grupos comunitários, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), em 2007. Apesar disso, o bairro é o que concentra o maior número de homicídios na capital. A explicação é simples: sozinhas, as lideranças não conseguem mudar a realidade da região.
É que além de policiamento e atuação da comunidade, a construção da segurança pública exige mais. Veja ao lado quais são as ações fundamentais para tornar uma comunidade mais segura, na visão de pessoas que conhecem a realidade dos bairros – as lideranças comunitárias – e dos sociólogos, que realizam estudos na área de segurança pública.
Proposições
Veja como a segurança pública pode melhorar, na CIC ou em qualquer lugar do país
Ocupação social do bairro – A integração social é importante para a promoção da segurança. “É preciso ter um bairro socialmente ocupado, com prestação de serviços, como saúde pública de qualidade, boa infraestrutura de educação e criação de espaços de sociabilização – não somente destinados aos jovens, mas para a família”, diz o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR). As instituições que atuam na região devem estar unidas para que o trabalho se desenvolva melhor, lembra o sociólogo Lindomar Bonetti.
Políticas adequadas aos jovens – Antes de pensar no futuro profissional do jovem, é importante que sua cidadania e seu caráter sejam moldados. “As atuais políticas públicas para jovens visam somente a preparação para o trabalho, mas, com as mudanças estruturais na família, com pais e mães trabalhando fora, é preciso que esses jovens encontrem um lugar de escape e discussão de seus conflitos”, diz Bonetti. A falta de um contraturno escolar de qualidade é citado como fator preocupante. Regina Reis, líder comunitária do Moradias Sabará conta que o projeto Piá Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente mudou bastante o seu perfil. Antes mais voltado para o trabalho de questões de cidadania e família, agora o projeto é voltado para o reforço escolar.
Combate ao tráfico – Coordenadora de um projeto social privado feito na região, a irmã Anete Giordini diz que a facilidade para encontrar drogas é absurda e que os pais estão impotentes diante do problema. “Não é que a família seja descuidada. São pessoas trabalhadoras, que lutam no dia a dia para dar boas condições de vida aos jovens, mas o excesso de trabalho acaba distanciando pais e filhos.”
Polícia na rua – A percepção da comunidade da CIC é parecida com a de muitos outros locais de Curitiba e de outras cidades do Paraná e do país: falta policiamento nas ruas. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, não há como precisar o efetivo disponível de policiais na região, porque o número é rotativo. Quando há necessidade, o efetivo de outras regiões é deslocado, o que para o líder comunitário Salésio Back só confirma o problema: “Antes tinha os carros da Polícia Militar que faziam a patrulha, agora eles só vêm pra cá quando acontece alguma coisa”. E um lugar onde não há policiamento adequado tende a ser degradado ao longo do tempo. A falta de segurança faz com que a população se afaste das áreas de lazer do bairro, deixando o lugar livre para traficantes e usuários de drogas. “Toda e qualquer estrutura física que esteja abandonada de sua função tende a gerar criminalidade”, afirma o Coronel Roberson Bondaruck.
Apoio à família – A atual estrutura familiar tende a separar pais e filhos que não conseguem achar um “horário na agenda” para conversar. “O fato de o pai e a mãe saírem de casa cedo e voltarem tarde, somando-se ao tempo ocioso que muitos desses meninos e meninas têm, reflete na busca pela droga, na gravidez precoce”, diz Lindomar Bonetti. Para os líderes comunitários, o Conselho Tutelar tem deixado a desejar. “Já houve casos em que o conselheiro simplesmente disse aos pais que o problema com o filho deles era falta de educação em casa”, queixa-se Regina. Já o Conselho Tutelar do bairro reclama da alta demanda e da falta de recursos humanos. “Para um bairro com quase 180 mil habitantes, em que 35% são crianças e adolescentes, é desumano pedir que a gente consiga atender todo mundo”, diz o conselheiro Luciano da Silva Inácio.