No Paraná, no mês de agosto, 91,1% das famílias estavam endividadas – com contas a vencer -, causada também pelos gastos excessivos e falta de equilíbrio no orçamento
Foi divulgado há algumas semanas o percentual de famílias brasileiras com dívidas, que está na casa de 72,9% em agosto, um novo recorde mensal. O dado faz parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No Paraná, o percentual do mês de agosto é o maior já registrado. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR), o percentual dos que possuem alguma dívida ou compras parceladas é de 91,1%.
Antonio Carlos, planejador financeiro pessoal e consultor de investimentos explica que para o índice são contabilizadas todas as contas que existem a vencer no orçamento das famílias. “Nós verificamos por meio deste índice que mais de 90% das famílias possuem essas contas a vencer, mas que ainda não estão atrasadas. Foi um índice que cresceu nos últimos anos, mas devemos perceber que o acesso ao financiamento imobiliário, veículos, acesso a linhas de crédito e outros bens também foi proporcional. É algo natural.”
O grande problema são as famílias que não têm condições de pagar e honrar seus compromissos assumidos ou que estão com contas em atraso, que chega a 10%, o que mostra uma variação maior nos últimos anos, em decorrência de maior índice de desemprego, crises que abalam a Economia, entre outros.
“Os índices que mais chamam a minha atenção são os fatores apontados para esse problema. O cartão de crédito é sempre o primeiro na lista dos problemas, pois ele é usado para consumo imediato e não para construir patrimônio. É usado para comprar roupas, alimentação, gasto em férias, transporte, entre outros. Outro gasto bem evidente nas famílias são os carnês de lojas. Financiamento de carro e casa ocupam o quarto e quinto itens, mas que embora tenha depreciação rápida – no que diz respeito ao carro – ou que seja uma dívida longa – sobre o imóvel – pelo menos a pessoa está construindo um capital de longo prazo”, diz.
Ganhar pouco não é justificativa
Embora algumas pessoas deem como justificativa o “ganhar pouco” sobre não conseguir construir um patrimônio, Antonio defende que tudo é organização financeira. “Conheço várias pessoas que tiveram salários humildes a vida inteira e que eram organizadas a ponto de ter um dinheiro guardado para uma eventual emergência e viviam dentro de um padrão de consumo coerente. Ter um salário maior ou menor não quer dizer que você vai ter uma vida ‘ruim’, pelo contrário, significa ter que se adequar a isso”, comenta.
A necessidade de consumo – seja por conta de ter uma roupa nova, carro novo, celular do momento – pode fazer com que a pessoa trabalhe somente para pagar contas, sempre dependendo da sua força de trabalho para suprir esse impulso.
“A questão vem quando chegam os imprevistos, perca do emprego, doenças, falecimentos e precisa arcar com esse custo não programado. São fatores que podem existir uma prévia organização. Isso nos mostra que o endividamento não é só uma questão de desemprego ou falta de dinheiro, mas da maneira como o rendimento é administrado no lar, pois ao longo dos anos a variação foi baixa”, completa.
Organização necessária
Antes de colocar os sonhos em prática, de maneira impulsiva, é importante se programar e analisar bem os gastos. “Se eu vou sair de férias – algo que é previsível – porque não se organizar antes, juntar dinheiro e ‘se recompensar’ depois? No início do ano é IPTU, IPVA, material escolar que são gastos já pré-existentes, porque não guardar uma fatia do 13º ou antes ainda, para essas despesas? Planejar e postergar um sonho pode ser difícil, mas é uma ação que vai te trazer noites tranquilas no futuro.
O orçamento na prática deveria ser feito pegando toda a renda/receita da família que é empregada no pagamento de contas básicas e essenciais, após isso avaliada a divisão mais adequada para reserva de emergência, objetivos a curto, médio e longo prazo e só então o status e padrão de consumo.
A grande questão é que há famílias que invertem o planejamento, pagando contas básicas e essenciais, consumindo muito e guardando muito pouco ou nada. A longo prazo, o consumo irá “esmagar” as reservas e investimentos, fazendo deles dívidas de consumo.
“Quando o status social é maior do que a tranquilidade e a estabilidade, temos um problema, que pode levar a situações graves de endividamento”, alerta.
Empréstimos são a melhor saída?
“É preciso resolver a situação do endividamento. Se você não tem uma reserva de emergência, um carro ou outro bem que possa ser vendido e não consegue fazer uma atividade extra para suprir essa necessidade pontual e momentânea até que se organize, a saída é fazer um empréstimo, mas sabendo que terá que pagar em 12x, 24x, 36x. Ou exclui algumas coisas do seu orçamento para conseguir aguentar esse parcelamento ou será gerado outro problema para o mês seguinte, que é a quebra, a falência, comprometendo a sua força de trabalho futura”, orienta.
Evite parcelar cartões de crédito ou pegar cheque especial, por conta dos altos juros.
Antonio explica que há linhas de crédito consignado e de cooperativas que oferecem boas propostas. “Se você tiver uma casa quitada e principalmente disciplina, é possível colocar a casa em garantia, que é uma linha de crédito ainda mais barata. Mas é fundamental que ao fazer isso, é um compromisso extremamente sensível, pois você pode perder sua casa”, enfatiza.
Uma boa proposta deve ser bem analisada, incluindo analisar várias opções que possa ter e comparar à taxa de Custo Efetivo Total (CET), que as instituições são obrigadas a fornecer. Por meio dela é possível verificar qual é o mais em conta, com prazo mais curto e que comprometa menos o fluxo de caixa.