Sabado às 12 de Julho de 2025 às 05:40:13
Opinião

Um título à altura da história de Campo Largo

Um título à altura da história de Campo Largo

O pedido oficial feito na Câmara dos Deputados para que Campo Largo receba o título de Capital Nacional da Louça é mais do que um gesto político ou protocolar. É o reconhecimento formal de uma identidade construída há mais de um século com barro, mãos calejadas e espírito inovador. Campo Largo moldou não apenas peças de cerâmica e porcelana, mas um legado que se confunde com sua própria trajetória como município.
Essa história não é feita de discursos vazios, mas de dados, documentos, trabalhadores e gerações inteiras que construíram suas vidas em torno de fornos, moldes e vitrines. Desde os primeiros registros industriais nas décadas iniciais do século 1920, a cidade assumiu protagonismo na produção de louça no Brasil, com destaque inclusive internacional. Exportações, marcas reconhecidas, inovação, tradição e um profundo respeito à sua própria origem fizeram da cidade um polo ceramista incomparável.
Não à toa, o nome da cidade já atravessa fronteiras e oceanos. Empresas como Germer e Schmidt fincaram raízes profundas nesse território. E mesmo com o avanço tecnológico, há algo que nunca foi deixado de lado, que é o toque humano. As asas das xícaras, aplicadas manualmente uma a uma, são símbolo desse cuidado que transforma a louça em patrimônio afetivo, e não apenas em objeto utilitário. O setor tem importância real na economia. Gera empregos, movimenta cadeias produtivas e se reinventa constantemente. Campo Largo abriga desde indústrias de grande porte até ateliês artesanais, num ecossistema plural que valoriza tanto a quantidade quanto a qualidade. Um exemplo disso é a Feira da Louça, que em sua 32ª edição deve ultrapassar a impressionante marca de 160 mil visitantes — mais que o triplo da média de anos anteriores.
Essa feira, aliás, é uma vitrine que expõe mais do que produtos, mas mostra a força de uma cidade que carrega sua tradição com orgulho. Iniciada em 1991, com estrutura modesta, ela é hoje um dos maiores eventos do setor no país. E mesmo com a profissionalização e o crescimento, manteve a essência de ser uma celebração da cultura e do "saber-fazer" campo-larguense.
Há, ainda, farto material que embasa esse reconhecimento. São pesquisas acadêmicas, registros jornalísticos, entrevistas e relatos que demonstram com clareza que Campo Largo não apenas produz louça, mas vive e respira esse ofício. Cada peça fabricada ali carrega a memória de um povo que transforma matéria-prima em arte e, mais que isso, em identidade coletiva.
O título de Capital Nacional da Louça, portanto, não é uma honraria supérflua, mas uma reparação simbólica e histórica. Oficializar esse nome é garantir que Campo Largo esteja, com justiça, no mapa das cidades que moldam a cultura e a economia do Brasil, oferecendo oportunidades de turismo, visibilidade, negócios e autoestima local. Por tudo isso, que este título não demore a ser aprovado. Que os deputados entendam que, ao reconhecer Campo Largo, estarão também homenageando todos cidadãos que fazem deste trabalho sua arte e da sua história, um legado. Porque, quando se fala em louça no Brasil, fala-se — invariavelmente — de Campo Largo.