Compreender o cenário atual das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos exige uma análise multifacetada, que supera a esfera econômica e adentra o campo da geopolítica, que considera a relação política, poder e espaço geográfico. A carta dos Estados Unidos, de 9 de julho, impondo uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, é um marco que sinaliza muita mudança e que vai impactar a vida do brasileiro, que mais uma vez terá que pagar a conta.
O Presidente Donald Trump justifica a imposição da tarifa alegando uma relação comercial "longa e muito injusta" e a existência de "déficits comerciais insustentáveis" com o Brasil. Ainda, foi instruída a imediata abertura de uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil, citando "ataques contínuos às atividades comerciais digitais de empresas norte-americanas, bem como outras práticas comerciais desleais".
Contudo, por trás dos argumentos econômicos, reside uma justificativa política mais evidente. A carta de Trump expressa apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, classificando o tratamento judicial dado a ele no Brasil como uma "vergonha internacional" e uma "caça às bruxas que deve acabar imediatamente". Além disso, a administração americana acusa o Brasil de de ser contra eleições livres e de violar a liberdade de expressão. É mencionada a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, que teria emitido "centenas de ordens de censura secretas e ilegais a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado". Também critica o pagamento por PIX, que, segundo eles, poderia prejudicar a competitividade de empresas americanas como Visa e Mastercard.
O governo brasileiro manifestou a "indignação" com o anúncio das tarifas, mas reafirmou seu interesse em negociar uma solução mutuamente aceitável. O Brasil tem argumentado que, ao contrário das alegações de déficit, acumula grandes superávits comerciais de bens e serviços com os Estados Unidos. O presidente Lula já gravou um pronunciamento para rede nacional para ser divulgado nesta quinta-feira à noite, afirmando que o Brasil aceita negociar tarifas, mas não aceitará "interferência externa" e está pronto para usar a Lei da Reciprocidade Econômica e recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Chegaram a divulgar uma imagem com a frase "O PIX é nosso, my friend”.
Independentemente das complexas justificativas de ambos os lados, a única certeza que quem será penalizado é o povo brasileiro, que, como de costume, terá de pagar esta conta. Essa tarifa de 50% diminui drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros e as consequências diretas são preocupantes: redução nas vendas e lucratividade, como também perda de empregos. Além disso, a instabilidade e o aumento dos custos comerciais podem desestimular o investimento estrangeiro direto no Brasil, comprometendo o desenvolvimento econômico e a criação de novas oportunidades. Vamos ficar atentos a cada passo, porque as decisões nos próximos meses terão repercussões por décadas.