Com crise hídrica e aumento no custo de energia, é fundamental esforço de cada cidadão para reduzir consumo
A partir deste dia 1º de setembro – até abril de 2022 - passou a valer a Bandeira Escassez Hídrica no valor de R$ 14,20 a cada 100 quilowatt-hora consumidos. Valor cobrado até agosto estava em R$ 9,49. A explicação da Aneel é que essa nova bandeira irá pagar os custos excepcionais do acionamento de usinas térmicas e da importação de energia devido à crise hídrica.
A Folha esteve com José Arlindo Chemin, presidente da Companhia Campolarguense de Energia – Cocel para falar sobre o assunto. José explicou que, com a falta de chuva, a produção de energia elétrica no Brasil não está sendo suficiente e está sendo preciso comprar energia de outros países, pagando em dólar, com altos valores. Além disso, a necessidade de acionar as termoelétricas agrega um custo muito alto, pois tem como combustível o diesel, que também está custando caro. Com isso, disparou o custo da energia elétrica no País.
Segundo ele, fica até difícil acompanhar tantos aumentos. Até o momento, Campo Largo tinha sofrido um dos menores reajustes no País devido à Companhia estar com as contas equilibradas e com saldo positivo com a Aneel. Ele apresenta alguns números que mostram o aumento em poucos meses. Dá exemplo do valor do Risco Energético pago mensalmente pela Cocel à Aneel, que está embutido na tarifa – até final do ano passado a Cocel pagava uma média de uns R$ 200 mil por mês, no primeiro trimestre já passou para mais de R$ 1 milhão e agora vai para cerca de R$ 4,8 milhões. Ele explica que foi um aumento reprimido por não ser cobrada a bandeira na pandemia, mas que agora “estourou”. A falta de chuva tende a deixar o setor ainda mais em alerta.
Até mesmo por isso se pronunciou em rede nacional nesta terça-feira (01) o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, declarando que: “a nossa condição hidroenergética se agravou. O período de chuvas na região Sul foi pior que o esperado. Como consequência, os níveis dos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas das Regiões Sudeste e Centro Oeste sofreram redução maior do que a prevista. Esta perda de geração hidrelétrica equivale a todo o consumo de energia de uma grande cidade como, por exemplo, o Rio de Janeiro, por cerca de 5 meses. Para aumentarmos nossa segurança energética e afastarmos o risco de falta de energia no horário de maior consumo, é fundamental que a Administração Pública, em todas as suas esferas, e cada cidadão-consumidor, nas residências e nos setores do comércio, de serviços e da indústria, participemos de um esforço inadiável de redução do consumo. O empenho de todos nesse processo é fundamental para que possamos atravessar, com segurança, o grave momento energético que nos afeta, para atenuar os impactos no dia a dia da população e também para diminuir o custo da energia.”
Bandeira Escassez Hídrica
De acordo com explicações divulgadas pela Aneel, a Bandeira Escassez Hídrica valerá para todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional de setembro deste ano a abril de 2022, com exceção dos beneficiários da tarifa social. Em razão do cenário de escassez hídrica atual – o pior em 91 anos –, foi criada pela Medida Provisória nº 1.055/2021 a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG). A CREG visa fortalecer a governança para o enfrentamento da escassez hídrica vivenciada.
“Desde 2015, as contas de luz passaram a considerar o Sistema de Bandeiras, composto pelas modalidades: verde, amarela e vermelha. Essas cores indicam se haverá ou não valor a ser repassado ao consumidor final em função das condições de geração de eletricidade. Se temos poucas chuvas e as termelétricas estão acionadas, o custo sobe e adotamos a bandeira amarela ou vermelha. Se os reservatórios estão cheios, não usamos as termelétricas e a bandeira é verde. É preciso esclarecer à população que as bandeiras não são uma taxa extra. O consumidor sempre pagou pelo acionamento das usinas termelétricas.
A diferença é que, antigamente, esse custo vinha de uma vez só, e com juros, quando eram reajustadas as tarifas da distribuidora local para refletir o maior acionamento das usinas térmicas. Antes das bandeiras, os custos da geração termelétrica eram repassados aos consumidores com uma defasagem de até um ano e, por esse motivo, com a incidência de juros” – explica a Aneel.
O Sistema Elétrico brasileiro é interligado. Nesse sentido, ainda que a condição hidrológica, em determinado ano, seja mais severa numa determinada região, quando comparada com as demais, o fato é que ela vai afetar o custo de geração em todo o país.
Energia a partir do lixo
Diante da atual situação, a Cocel e a Prefeitura de Campo Largo já começam a discutir alternativas para geração de energia elétrica de forma mais sustentável e valor mais acessível, pensando numa solução a médio e longo prazo. José explica que receberam um convite para conhecerem uma Usina de combustão e desde então estão fazendo contatos com quem trabalha neste setor e estão implantando novas tecnologias.
Ele diz que a gestão municipal planeja a cidade como autossustentável e isso vem de encontro a este conceito, principalmente porque a gestão do lixo é sempre um problema aos municípios, com alto custo - Campo Largo produz em média 20 a 25 toneladas de lixo por dia. A cidade tem total condição de tornar isso uma realidade principalmente pela estrutura da Cocel vir a contribuir com a distribuição desta energia.
O objetivo é que a própria cidade consiga dar uma destinação correta ao lixo gerado, agredindo o mínimo possível o meio ambiente. Ele detalha que uma usina de lixo receberia todo esse material, orgânico ou reciclável, teriam protocolos específicos de separação e até mesmo possibilidade de gerar outros materiais a partir do que é coletado. Para isso, poderia envolver catadores e dar oportunidade de trabalho a eles, estimulando inclusão social. Ainda são várias ideias que estão sendo discutidas, com inúmeras possibilidades. Com a combustão do lixo é obtida uma energia térmica que esta pode ser transformada em energia elétrica. Até mesmo o vapor gerado das máquinas pode ser revertido em energia elétrica, pelo movimento das pás da turbina. Com um sistema eficiente conseguiriam eliminar os lixões, altamente poluentes.
Na Europa é muito comum ter usina de lixo e estão estudando a forma de trabalho deles. Além de todos os benefícios citados, com isso a cidade também ganharia um Selo Verde, o que facilita receber recursos federais, como um incentivo. “É um ciclo produtivo que se paga ao longo do tempo”, afirma José, questionando quanto custará a energia daqui cerca de 30 anos e que a solução precisa ser pensada hoje. Um processo que pode ser implantado aos poucos na cidade, conforme necessidade e capacidade de investimento.
Sobre o desafio de implantar um sistema como este, ele diz que é ter a tecnologia para isso: “Toda importada e cara, com o dólar alto. Mas podemos buscar parceria para tornar viável”, enfatiza, detalhando que hoje há apenas três unidades no Brasil, em indústria, que fazem essa transformação do lixo em energia elétrica, mas que ainda não há cidades no Brasil trabalhando com isso. Algo bem inovador, que demanda também mudança na legislação das cidades.