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Câncer

19/09/2014

Depoimento de Laura Veridiana Zanlorensi Portela, de 29 anos, que vem tratando há um ano o Linfoma de Hodgkin

Câncer

19/09/2014

Por: Danielli Artigas de Oliveira

“A doença foi um balde de água fria e me fez repensar a vida. Foi um marco zero. Passei a filtrar o que realmente é importante, o que é cuidar da saúde, da família, mantê-la por perto. Hoje valorizo mais a vida, vivo mais leve, deixo de ter preocupações desnecessárias”.

Esse é o depoimento de Laura Veridiana Zanlorensi Portela, de 29 anos, que vem tratando há um ano o Linfoma de Hodgkin, câncer que tem origem nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático e atinge com maior frequência adultos de 25 a 30 anos.
 

Formada em Biologia, cursando Veterinária e lecionando em Palotina por três anos, Laura estava em um congresso em Porto Alegre em setembro do ano passado quando acordou e viu um caroço no pescoço, mas não sentia dor. Antes de ir para Palotina veio para Campo Largo e começou a passar mal, com fortes dores de cabeça e enjôo. Resolveu fazer exames e foi a um urologista porque um tempo antes teve crise de cálculo renal. Fez exames de rotina e dois dias depois surgiu mais um caroço do outro lado do pescoço e começou a tossir muito e sentir falta de ar, quando então procurou um pneumologista.

No mesmo dia já fez outros exames e Raios X de tórax, no qual acusou uma massa grande, de aproximadamente 13 centímetros, no mediastino (entre pulmões e coração). Os caroços no pescoço, de aproximadamente 1 centímetro, já eram secundários. Acredita-se que ela já devia estar com essa massa há cerca de quatro meses. Nesse período diz que sentia apenas dores de garganta que duraram por mais tempo que o habitual, além de falta de ar.

No dia 19 de setembro de 2013, quando soube que poderia estar com câncer, a primeira reação foi não acreditar no que estava acontecendo, ela diz que de maneira geral se sentia bem, tinha apenas 28 anos, que para ela isso não seria possível. Laura estava sozinha no médico e conta o quanto foi difícil chegar em casa e contar para os pais a notícia. Contou chorando que precisava procurar um Oncologista. “Não tive tempo de pensar como falar da melhor maneira para eles. É um momento revoltante, porque eu estava bem e de repente receber uma notícia dessa?”, detalha Laura.

Neste mesmo dia foi encaminhada ao Oncologista com urgência, nem mesmo conseguiram almoçar devido ao nervosismo. Na consulta, o especialista disse que tinha 60 a 70% de chance de ser câncer e pediu novos exames mais específicos. No final deste dia Laura já sentiu um caroço de uns 2 centímetros na axila, que de manhã ainda não tinha aparecido. Foram cerca de 23 exames de sangue para descartar outras doenças e foi realizada uma biópsia. Então, 25 dias depois, Laura soube que tem Linfoma de Hodgkin por esclerose nodular.

Até ter saído esse resultado, ela já foi se preparando pensando na possibilidade de já começar a quimioterapia e até mesmo fez a cirurgia para implantação do cateter para receber o tratamento. Nesse período a tosse ficou mais forte, sentia muita falta de ar e chegou a perder 6Kg.

Passou por oito quimioterapias a cada 15 dias no Hospital Erasto Gaertner e foi tendo uma melhora gradativa. Conta que na primeira quimioterapia passou muito mal, tinha muito vômito e ficou cinco dias sem conseguir comer, até mesmo a água a enjoava, quando perdeu mais uns 4 quilos.  Foi na terceira quimioterapia que começou a se animar com o tratamento e se sentir melhor, quando então divulgou no Facebook e para amigos que realmente estava com a doença.

Como foi tudo tão rápido, tantos exames, 15 médicos que visitou, entre tantos acontecimentos, Laura diz que não parava muito para pensar em tudo que estava acontecendo. Quando se olhou e viu que o cabelo começou a cair, o corpo começou a mudar, estava muito magra, pálida, com olho fundo, vendo que suas roupas estavam todas grandes (chegou a ficar com 45Kg), foi quando pensou: “Estou doente mesmo”. E esse momento foi importante, de encarar a doença e seguir o tratamento, lutar para melhorar.

A cura e o recomeço no tratamento

Após sessões de quimio e radioterapia, em maio deste ano ela teve alta, estava curada e iria começar um acompanhamento trimestral. “Foi uma sensação maravilhosa de ouvir o médico falar: segue tua vida”, declara. Mas, em julho, começou a sentir dores e falta de ar novamente. Fez novos exames e descobriu que tinha cinco tumores nos pulmões. No dia 30 de julho saiu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin com metástase pulmonar. “Sinal que o corpo foi mais forte que o tratamento”, lamenta ela.

Começou um novo tratamento e em novembro deste ano passará por um autotransplante. Para isso, em dez dias aplicou mais de 30 injeções para melhorar a imunidade e coletou sua medula que depois vai ser transplantada. “Eles pegam essas células jovens, saudáveis, tratam em uma máquina enquanto faço a quimio. Em novembro ficarei internada por 30 dias, para um tratamento forte que vai eliminar todas as células ruins e então transplantam as novas. Com isso o objetivo é buscar a cura”, explica Laura.

Ela diz que antes sofria muita cobrança profissional e esquecia de todo o resto. “Eu adorava viajar, sair dançar, sabia quando precisava de um tempo pra mim, mas depois quando fui morar sozinha em Palotina tinha preocupações de manter casa, carro, trabalho. Foram três anos vivendo para o trabalho e estudo, não tinha tempo de sentar e conversar com os amigos. Agora, a doença fez fortalecer ainda mais o vínculo com meus pais, com minha família, me fez perceber o quanto é importante isso”, declara.