05/09/2014
Sexta-feira, dia 05 de setembro de 2014. Faz exatamente um ano que Campo Largo perdeu de maneira covarde uma pessoa brilhante.
05/09/2014
Por: Danielli Artigas de Oliveira
Sexta-feira, dia 05 de setembro de 2014. Faz exatamente um ano que Campo Largo perdeu de maneira covarde uma pessoa brilhante. Um homem comprometido com seu trabalho, o qual exige muito do profissional se o faz com tamanha dedicação como era o caso do superintendente Marcos Antonio Gogola.
Essa perda tem sido sentida por cada campo-larguense, que vê estampado nos jornais a violência, que se sente inseguro no seu dia-a-dia e que pouco vê de resposta para os crimes.
Há 12 anos trabalhando como repórter policial, Célio Vigilato afirma que Gogola foi um dos policiais mais competentes que ele já viu trabalhar na Delegacia, opinião que é a mesma de outros repórteres da região. “Mesmo sozinho demonstrou organização e competência para resolver as situações. Ele era tão organizado que cada caso tinha uma pasta em cima da mesa, a qual só saía dali depois de resolvido, acompanhava os homicídios passo-a-passo. Estava sempre presente nos locais de homicídios para não perder nenhuma informação”.
Segundo Célio, Gogola “era muito atencioso, brincalhão, dava atenção a todos. Imediatamente, atendia quando chegava alguém reclamando, nunca fugia do trabalho. Ainda era um cara muito equilibrado, era um ‘paizão’ para todos os funcionários. Ele não merecia ter morrido deste jeito, conversava bastante com os presos, os tratava bem, sempre dava atenção. Não era uma pessoa de usar a força policial, sempre dialogava ao invés de se mostrar como autoridade. A morte foi por este excesso de confiança dele, além da falta de estrutura de polícia. Até porque ele não iria reagir nesta situação, não precisavam ter matado”.
A última entrevista que Célio fez com Gogola foi um dia antes da morte dele, em um local de crime no Novo Horizonte, aonde ele deu muita atenção para a mãe da vítima. “Era uma pessoa com sensibilidade, respeitava também os familiares dos presos”, completa. “Gogola era também um grande amigo, que sempre nos recebia bem, sempre trocando boas conversas. Hoje se percebe a falta que ele faz, que é difícil ter um profissional que trabalhe da forma que ele trabalhava na polícia, tanto que há muitos casos aguardando por soluções. Dia 05 de setembro pra mim é um dia triste, pois perdemos uma pessoa boa, de fé”, declara Célio.
A perda de um grande parceiro
Para o secretário municipal de Segurança, Juscelino Bayer, Gogola era um grande parceiro, tanto na profissão como na vida pessoal. “Gogola era polivalente. Para ele, a prioridade era solucionar os homicídios, que desencadeiam outros crimes, mostra poder de quem está no tráfico de drogas”, relata.
Juscelino comenta que ele dava atenção a todos, principalmente às pessoas mais simples. No momento que está Campo Largo - em que as pessoas estão se sentindo inseguras devido ao número de arrombamentos, assaltos, mortes e tráfico de drogas – Juscelino afirma que Gogola estaria trabalhando, com orgulho, sempre fazendo o seu melhor.
“Ele virou um irmão para mim. Mesmo após um ano não consigo esquecê-lo, tirar essa falta do meu coração”, fala emocionado Juscelino. “Gogola era exemplo de pessoa, de caráter, dignidade, de família, tínhamos os mesmos princípios. Era uma pessoa muito querida, tenho um carinho infinito por ele. Tenho orgulho de falar dele, ele era muito respeitado. É um amigo que jamais vou esquecer. Sinto uma falta que só vai passar em outra vida, para reencontrar ele novamente”, revela.
A última imagem que Juscelino ficou dele foi um dia antes à sua morte. “Cheguei na Delegacia para falar com ele, mas não consegui, ele estava ao telefone atendendo uma pessoa e ficou uma situação meio estranha, em que não conseguimos conversar. Foi como se eu tivesse me despedido dele apenas com um olhar”, conta. “Sou feliz por ter conhecido a vida dele e ter participado dela. Foi uma pessoa com quem aprendi muito e ele me ajudou a chegar aonde estou hoje, como secretário. Tenho muita história com ele”, conclui.
Morte
O caso Gogola foi noticiado com tristeza pelos meios de comunicação, que acompanharam todo o desenrolar do que aconteceu.
Gogola, acompanhado do carcereiro Marcus Vieira Nihus, foi levar o preso Dionatan Mendes de Quadros ao dentista na Rua Dom Pedro II, na manhã do dia 05 de setembro de 2013. Já dentro do consultório, foram surpreendidos por quatro homens armados que arrebataram Dionatan, mas antes de irem embora balearam o carcereiro Marcus e executaram o policial Gogola com tiro na cabeça.
Numa ação muito rápida das forças policiais, com várias equipes de Curitiba, envolvendo mais de 50 policiais, os suspeitos foram cercados no Cristo Rei, no mesmo dia do arrebatamento.
Dionatan foi baleado num confronto numa casa no bairro Cristo Rei. Ele levou três tiros que atingiram seu antebraço, ombro e fêmur direitos - seu braço direito teve que ser amputado. Desde então ele ficou no Complexo Médico Penal em Piraquara, onde fez várias ameaças e promessa de vingança.
Pedro Thiago Kochinski Ferreira (20) também foi baleado e morreu no local da troca de tiros, no Cristo Rei. Os três suspeitos de terem participado da ação - Anderson Luiz Barbosa da Luz, Iago Gonçalves e Jean Fernando Portela de Matos -, que culminou com a morte do Superintendente da Delegacia de Campo Largo, foram presos.
No dia 27 de novembro de 2013 aconteceu a reconstituição da morte do superintendente, a pedido da promotora de Justiça Nayane Kelly Garcia, para ter mais detalhes do crime. Os réus foram trazidos do sistema penitenciário e, mais tarde, em uma ambulância do Depen, Dionatan Mendes de Quadros, que estava em uma maca.
Na madrugada do dia 13 de janeiro de 2014 Dionatan fugiu do Complexo Médico Penal de Piraquara e foi recapturado pela equipe do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) no mesmo dia. Ele permanece na Penitenciária de Piraquara e como sequela do que ocorreu, Dionatan perdeu o braço direito e ficou com a perna direita 10 centímetros mais curta que a esquerda, após ter ficado meses com fixadores.