Sexta-feira às 26 de Abril de 2024 às 06:45:03
EM CAMPO LARGO 16º | 25º
Saúde

Aumentam casos de infecções respiratórias e pediatra alerta sobre caso de hepatite misteriosa

Gastroenterite e Síndrome mão-pé-boca têm sido casos frequentes

Aumentam casos de infecções respiratórias e pediatra alerta sobre caso de hepatite misteriosa

Nas últimas semanas subiu consideravelmente o número de crianças e adultos já apresentando infecções respiratórias. A situação é comum com entrada de frente fria, mas tem apresentado casos que exigem maior atenção.

A Folha buscou informações com a Secretaria Municipal de Saúde e foi informada do aumento. Apenas para pacientes com sintomas respiratórios, na semana do dia 01 a 07 de maio teve uma média de 117 atendimentos por dia na UPA e 271 atendimentos em Unidades Básicas de Saúde durante a semana toda. Do dia 08 ao dia 11 de maio, apenas quatro dias, foram 300 atendimentos nas UBS e 689 na UPA (uma média de 172 atendimentos por dia).

Segundo a pediatra Dra. Angelica Barrichello Torres Imroth, o que chama a atenção é a gravidade dos quadros respiratórios, muitos necessitando internamento em enfermarias e UTIs. “A imunidade da população caiu, pois foram dois anos sem contato com vírus e bactérias”, completa.

Ela detalha que as doenças que mais aparecem nesse período são as respiratórias: gripes, resfriados, pneumonias, sinusites, bronquiolites e laringites. Porém, ela afirma que nas crianças está havendo muitos casos de gastroenterites e Síndrome mão-pé-boca também.
“Essas doenças podem ser evitadas pela higiene frequente de mãos, uso de máscaras e lavagem nasal”, orienta. Em casos de sintomas, Dra. Angelica afirma que os sinais de alerta nessas doenças são: febre acima de 39ºC e persistente, dificuldade para respirar (respiração ofegante e gemência), vômitos incoercíveis, se a criança ficar apática quando estiver sem febre e dificuldade para ingerir líquidos. Nesses casos deve ser levada imediatamente para atendimento médico.

Hepatite misteriosa
Dra. Angelica diz que ela ainda não atendeu em Campo Largo nenhum caso com suspeita dessa hepatite misteriosa, mas que é importante a população estar informada a respeito. Os primeiros casos surgiram no Reino Unido em menores de 5 anos em abril deste ano e agora no dia 7 de maio já foram notificados 367 casos em mais de 20 países, inclusive no Brasil.

No Paraná, até o momento há apenas dois casos registrados em crianças entre 8 e 12 anos do sexo masculino. A Secretaria de Estado da Saúde está em fase de estudos, mas alerta que o relaxamento em relação ao calendário vacinal faz com que os índices de imunização estejam muito baixos e possibilitam o surgimento de diversas doenças.

“Os pais devem se preocupar se a criança tiver vômitos, diarreia, amarelão na pele e olhos, fezes brancas e urina escura”, explica a pediatra. “Infelizmente, a vacina para hepatite não ajuda nesses casos. Temos vacinas disponíveis para hepatite A e B no programa nacional de imunizações. Como uma das possíveis causas seja a infecção pelo SARSCOV 2 (vírus da Covid), a vacinação contra essa doença pode ajudar a prevenir”, conclui.

De acordo com o site Academia Médica citado pela Dra. Angelica, cerca de 90% dos pacientes com essa doença precisam de internação e, eventualmente, necessitam de transplante hepático. “Historicamente a necessidade de transplantes hepáticos em hepatites fulminantes em crianças é de 1 caso a cada 1.000 a 10.000 hepatites e nesta misteriosa hepatite a necessidade de transplante está sendo de 1 a 2 transplantes a cada 10 casos, no mínimo mil vezes maior.

“Chama atenção a importante elevação de enzimas hepáticas e rápida evolução para insuficiência hepática. Até o momento houve relato de nove mortes, sendo cinco nos EUA, três na Indonésia e uma na Europa. O que está intrigando a comunidade científica mundial, é qual a causa destas graves hepatites. Existem muitas hipóteses, mas até o momento nenhuma explica com coerência e exatidão este surto. A hipótese mais provável até o momento é que o agente causador seja o Adenovírus 41, que normalmente causa gastroenterites benignas e que pode ser causador de patologias mais graves, como hepatites em pacientes imunossuprimidos.

Existem mais de 100 variantes do Adenovírus, sendo que 50 agridem seres humanos, causando diarreias, conjuntivites, cistites e infecções de vias aéreas superiores. O adenovírus não explica todos os casos, pois somente 72% dos casos europeus tiveram sorologias positivas para Adenovírus. Outro ponto importante é que o adenovírus foi identificado somente em exames de sangue, não sendo encontrado em nenhuma biópsia hepática realizada, sendo difícil afirmar que o adenovírus tenha uma relação causal direta com estes quadros de graves hepatites, podendo sim, ser o gatilho de uma resposta imunológica exagerada ou um mero achado. Existe a possibilidade de ser um nova variante mais agressiva do Adenovírus, ou que devido ao isolamento prolongado devido à pandemia, as crianças, estejam tendo uma resposta imunológica exagerada e apresentando quadros mais graves frente a um benigno agente etiológico.

A justificativa é que a COVID- 19 pode promover uma alteração do sistema imunológico, diminuindo a capacidade de defesa através da limitação da ação de células T de defesa, diminuindo imunidade antiviral, tornando quadros que deveriam ser leves e benignos, mais graves por atingir um hospedeiro mais suscetível e frágil imunologicamente.

Outra linha de pesquisa ainda não descartada, devido ao momento epidemiológico que vivemos, é que seja uma nova manifestação da Covid-19, visto que pelo menos vinte casos europeus (18%) as crianças eram positivas Sars-Cov-2 e dezenove crianças positivaram para coronavírus e Adenovírus. Todos os nove casos iniciais nos EUA eram negativos para Covid-19.
Também existe a possibilidade de ser uma complicação ou nova manifestação da COVID-19 longa em crianças, como é a Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Estudos apontam que 10 a 50% das crianças com esta Síndrome Inflamatória apresentam hepatomegalia e alterações de enzimas hepáticas sendo estas alterações um fator de mau prognóstico” – informa Dr. Rubens Cat, chefe do Departamento de Pediatria do Hospital de Clínicas no site mencionado.