O júri popular reconheceu Alexandre Rodrigo do Nascimento como autor do delito e a condição de feminicídio
Foi proferida a condenação a Alexandre Rodrigo do Nascimento no final da tarde desta terça-feira (19), após julgamento em plenário (júri popular), sendo condenado a 17 anos e nove meses de prisão.
Conforme o Dr. Dagoberto Bueno Filho, advogado da família de Evelaine, os jurados reconheceram que o réu foi o autor do delito, houve materialidade e a autoria, reconhecendo o crime como feminicídio, com todas as qualificadoras que constavam desde a denúncia apresentada pelo Ministério Público – motivo fútil, meio que impossibilitou a defesa da vítima e presença do filho de Evelaine e de seus pais no crime. Ao final da audiência, a juíza Vivian de Andrade proferiu a sentença de 17 anos e nove meses de prisão. “A família saiu do Fórum com o sentimento de que a justiça foi cumprida”, ressalta o advogado.
O julgamento iniciou próximo das 10h desta terça-feira (19), na Sala do Júri, no Fórum de Campo Largo. Apesar da grande repercussão do caso, apenas a família e algumas pessoas ocupavam o espaço destinado aos cidadãos dispostos a assistir a audiência.
O procedimento iniciou com o sorteio dos jurados. O corpo do júri foi composto por sete pessoas no total, sendo cinco mulheres e dois homens. Ao longo da audiência, foram ouvidas testemunhas e o réu também depôs, bem como a acusação, formada pelo Ministério Público e os advogados da família, bem como a defesa do acusado.
O tempo que ele já ficou preso – aproximadamente um ano e três meses – é descontado do tempo determinado pela juíza.
Relembre o caso
Na madrugada de 25 de dezembro de 2020, próximo das 4h50, no Loteamento Santanna, Evelaine Aparecida Ricardo, de 29 anos, foi baleada após a ceia de Natal, que acontecia na casa de um dos seus irmãos, pelo seu então namorado há alguns meses, Alexandre Rodrigo do Nascimento.
Conforme relato presente no processo (0010790-46.2020.8.16.0026), durante a noite o réu se aproximou da vítima para verificar com quem ela estaria conversando em seu celular, “tendo posteriormente puxado o celular da vítima e corrido para o lado de fora da residência, o que ocasionou uma discussão entre o casal”. O acusado pelo crime foi quem desferiu contra ela um tiro de arma de fogo, atingindo a face da vítima. Ainda segundo o processo, Evelaine chegou a ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento e em seguida ao hospital e não resistiu ao ferimento, falecendo horas depois.
Consta também que o crime foi cometido “mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, visto que a vítima estava desarmada, sendo surpreendida pelo próprio companheiro durante uma confraternização familiar de Natal”, bem como a informação de que os fatos ocorreram na presença de vários familiares da vítima, inclusive o filho de 12 anos – na época – de Evelaine. “O denunciado cometeu o crime prevalecendo-se da relação doméstica e familiar existente, eis que a vítima era sua companheira.”
Conforme relatado pela Polícia Militar na época e mesmo em testemunho na audiência desta terça-feira, Alexandre teria se evadido do local após atirar contra Evelaine.
Alexandre foi preso no dia 30 de dezembro de 2020, ao se entregar na 3ª DRP de Campo Largo. Conforme matéria divulgada na época pela Folha de Campo Largo, o Delegado Haroldo Davidson da Polícia Civil, após ouvir as testemunhas, entrou com pedido de prisão preventiva junto ao Poder Judiciário, que imediatamente respondeu com a confecção do Mandado de Prisão, quando Alexandre foi até a Delegacia acompanhado de sua advogada, sendo cumprido o Mandado de Prisão. Os investigadores da DRP, após dar voz de prisão para o acusado, o encaminharam para a Cadeia Pública de Campo Largo, onde ficou preso à disposição do DEPEN.
A família e os advogados
Antes mesmo do julgamento começar, a Folha de Campo Largo conversou com a irmã de Evelaine, Crislaine Aparecida Rodrigo, que pedia por justiça. “A Evelaine era uma mulher brincalhona, alegre, mas estava passando por um momento delicado. Ela tinha recém perdido o filho, de sete anos, vítima de um câncer, no dia 10 de dezembro. Ela estava muito abalada, triste, depressiva mesmo”, relembra. Crislaine conheceu Alexandre no velório do sobrinho e, segundo ela, ele chegou a dizer que cuidaria da irmã, o que afirma não ter acontecido. “Nós queremos que justiça seja feita, que ele pague pelo crime que cometeu. Não foi um erro, ele pode achar que foi um erro, mas foi algo premeditado e nós esperamos que a justiça seja feita”, finaliza.
Dr. Dagoberto Bueno Filho, advogado da família de Evelaine, conversou com a Folha também antes do julgamento. “A expectativa é de condenação, pois todas as provas produzidas até essa fase apontam inequivocamente para o sentido que ele desferiu o tiro fatal para o rosto da Evelaine e neste ato, ele praticou o feminicídio. Nós esperamos que essa pena fique próxima do máximo, por conta das qualificadoras.”
O advogado de defesa, Dr. Sérgio Padilha, também conversou com a Folha antes do julgamento. “O júri é uma caixinha de surpresas, por isso temos duas linhas de raciocínio. A primeira é a desqualificação do crime de feminicídio para o femicídio e também tirar as qualificadoras de que a vítima não teve como se defender, pois não teve emboscada, traição, a situação ocorreu frente a frente.” O advogado completa dizendo que Alexandre sente muito arrependimento pelo crime. “Ele chora quando relembra e relata toda a situação, pois esse não era o desfecho que ele queria, foi algo inédito”, finaliza.