Sabado às 23 de Novembro de 2024 às 08:36:32
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Vítimas dos assaltos aos ônibus ligeirinho de Campo Largo relatam momentos de tensão

Foram minutos de muito medo, ainda que sem reação, mas que deixaram marcas que acompanharão essas vítimas por um longo período

 

Vítimas dos assaltos aos ônibus ligeirinho de Campo Largo relatam momentos de tensão

Em nove dias, o ligeirinho que faz o percurso Terminal Campina do Siqueira – Terminal Urbano de Campo Largo sofreu dois arrastões. O primeiro aconteceu no dia 15 de setembro, próximo das 20h, quando foram surpreendidos por três homens armados que deram voz de assalto já na BR-277.

Conforme matéria divulgada pela Folha no fatídico dia, vários celulares, dinheiro, pertences de todos os passageiros e também do motorista foram levados. Após o crime, os marginais desceram nas proximidades da ponte do Passaúna. O ônibus parou no pátio do Posto Guarani, sendo acionadas imediatamente as forças de segurança (Guarda Municipal e Polícia Militar), que realizaram buscas na região, na tentativa de localizar os indivíduos.

A Folha conversou com duas vítimas que estavam no ônibus no último dia 15, que relataram a situação. A primeira vítima contou que ao entrar foi para o fundo do ônibus e próximo dela havia um rapaz, “que gritou que era um assalto e falou um palavrão. Todo mundo achou que era mentira. Foi neste momento que ele foi para frente com uma faca”.

Essa vítima relembra que o outro segurava uma arma e pediu o celular dela. “Eles assaltaram e pediram para parar na primeira estrada de chão depois do contorno/radar. Pelo que conheço da região, esse acesso vai para Colombo e também para o Contorno/Cidade Industrial de Curitiba. Pelo que se sabe, eles vão com um carro, entram no terminal, pagam passagem. Nesta ocasião perguntaram quanto tempo levava para Campo Largo, ao entrar se separam um do outro dentro do ônibus e efetuam o assalto. Um sempre vai pra frente e outro pro fundo. É o alto da tatuagem que dá voz de assalto”, relata. 

A vítima conta à Folha que tentaram usar o aplicativo do banco dela, mas não obtiveram sucesso. “Uso o transporte público há nove anos, sempre usei e nunca presenciei nada disso. Confesso que na hora eu não senti nada, fiquei sem reação, fria. Mas não consegui dormir depois, eu lembrava da voz. Estamos inseguros, todo mundo no terminal se olha estranho”, retrata. “As pessoas com quem eu converso, todo mundo está com raiva, ‘pode dar ruim ainda’. Nos sentimos vulneráveis, que a vida não vale nada. O cara apontou arma na minha cara e as autoridades ainda não fizeram nada efetivamente para resolver essa situação. Não vou parar de abrir protocolos 156 (de Curitiba) e no governo até melhorarem”, finaliza.

Outra vítima relatou que se lembra que manteve a calma ao ser abordado pelos homem, ao ter o seu celular furtado. “Mas tinha muitas pessoas que estavam passando mal naquela noite. Os três criminosos foram bastante ofensivos com armas em mãos. Hoje em dia, a insegurança, medo, pavor, são sentimentos certos ao utilizar o transporte público. A fiscalização nos terminais deveria ser diária com policiamento nas rodovias e dentro dos coletivos”, enfatiza.

O segundo assalto
O arrastão da última sexta-feira (24) aconteceu por volta das 18h30, também com passageiros que estavam no ônibus ligeirinho saindo do Terminal Campina do Siqueira com destino ao Terminal Urbano de Campo Largo. Os homens armados anunciaram o assalto na região do Orleans, roubando pertences das vítimas e entrando em um veículo preto que dava cobertura aos ladrões. Uma equipe da Polícia Militar se deslocou até o Terminal Urbano de Campo Largo, para ouvir as vítimas e registrar o Boletim de Ocorrência.

Uma vítima do segundo assalto, que conversou com a Folha, contou que estava sentada mais próximo ao motorista, então quando percebeu que estava sendo assaltado, a ação já havia atingido praticamente a metade do veículo. “Muito tumulto, muita gente chorando. Lembro que tinham crianças no ônibus. Lembro que quando ele passou por mim, gritou ‘dá o celular, dá o celular’, eu estava com o celular na mão, eu olhei para ele, identifiquei que era o assaltante, percebi que ele era um rapaz alto, estava armado e isso me impressionou muito. Ele só falou ‘não olha pra mim, olha pra baixo’. Ele pegou o celular das pessoas do meu lado e já veio o outro assaltante com uma sacola e esse eu não vi. Eles pediram para parar o ônibus”, relembra.

Foram momentos de muito estresse. “Você percebia o estresse, a tensão no ônibus, mesmo os assaltantes estavam bem nervosos. Nós estávamos bem indefesos. Passei o final de semana inteiro com muita dor de cabeça. O estresse foi tão grande que ao ver alguém com alguma característica parecida eu já ficava alerta, ao precisar pegar o ônibus na segunda-feira. Não me sinto segura. Ainda hoje, depois de alguns dias, eu fico nessa aflição ao pegar o ônibus. Acredito que se tivesse um policiamento mais efetivo seria a melhor opção”, diz.
“Acredito que embora tenhamos sido assaltados, tivemos a Mão de Deus nos protegendo neste momento, pois ficamos todos bem, não houve feridos”, finaliza.

O que dizem as autoridades
A Folha procurou as autoridades envolvidas na Segurança Pública, quem enviaram notas oficiais à Redação.
A Comec, responsável pela administração da linha Terminal Campina do Siqueira/Terminal Urbano de Campo Largo disse: “A Comec lamenta o ocorrido, compreende que é uma situação extremamente desgastante, mas é vítima do ocorrido, assim como os usuários. Nos dois casos registrados em Campo Largo, foram seguidos os protocolos determinados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná, com abertura de Boletins de Ocorrência, orientação e apoio aos usuários. Informamos ainda que já estivemos reunidos por duas vezes com a Secretaria de Segurança Pública buscando soluções para os ocorridos e que investigações estão em curso, porém, sob sigilo por orientação da própria Secretaria”.
A Folha também procurou a Polícia Civil do Paraná (PCPR), que apenas informou que “a PCPR está investigando o caso e realizando diligências a fim de esclarecer o fato”. A Folha não recebeu a nota da Polícia Militar do Paraná até o fechamento desta edição.

Empresa de Ônibus Campo Largo declarou que “através do seu diretor Rodrigo Corleto se solidariza com as vítimas dos assaltos ocorridos nos últimos dias e firma o compromisso de fornecer o surporte necessário para as autoridades de segurança pública na investigação dos casos. A empresa ressalta a importância de registar B.O. “Entendemos que a causa desses e de outros furtos que vêm ocorrendo em nossa cidade, são reflexo da crise econômica gerada pela pandemia, os índices de criminalidade estão subindo, assim como a inflação e o desemprego, esperamos que haja uma breve recuperação em todos os setores da economia”, finaliza Rodrigo.

A Prefeitura de Campo Largo ressaltou que “a linha saiu do Terminal Campina do Siqueira com destino a Campo Largo. Os assaltos, no entanto, ocorreram em Curitiba e, não, aqui no município. Contudo, a Prefeitura disponibilizou todo o aparato necessário para contribuir com as investigações. A GM foi acionada, cumpriu o seu papel, junto, inclusive, da Delegacia de Polícia de Campo Largo, mas é importante salientar que ambos os assaltos não ocorreram aqui, mas em Curitiba. A Prefeitura, por suas forças de segurança, está a postos e disponível para auxiliar nas investigações, inclusive é importante salientar que o trabalho da Polícia Civil, ainda que subsidiário, devido à circunscrição pertencer à Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, foi fundamental em ambos os eventos”.