Sabado às 23 de Novembro de 2024 às 11:48:28
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Descendência gamer hobby do pai, profissão do filho

Incentivo e influência do pai foram essenciais no sucesso do gamer Eduardinho. Hoje o jovem atua no mundo profissional e já representou equipes do futebol brasileiro, como Avaí, Botafogo e Vasco da Gama
 
Descendência  gamer  hobby do pai, profissão do filho
Uma pesquisa sobre principais tendências e hábitos de consumo dos gamers brasileiros realizada este ano revelou que 83,8% dos pais jogam games com seus filhos. Em comparação com o estudo de 2020, houve um aumento de 13,1 pontos percentuais. Estes números vêm crescendo nos últimos anos, no entanto essa relação entre pais, filhos e jogos não é novidade para uma família campo-larguense há muito tempo.
 
O começo da história de Adriano de Freitas (43) e Eduardo Spek de Freitas (16) se assemelha com a de muitos brasileiros, um pai que por gostar de jogos eletrônicos comprou um videogame para servir de passatempo em momentos de lazer com o filho. “Eu sempre gostei de games, sempre joguei. Meu primeiro videogame foi um Atari, depois um Super Nintendo. Porém, quando eu casei já não tinha mais nenhum. Mas quando o Eduardo tinha 08 anos eu comprei um PlayStation 2 por diversão”, conta Adriano. Desde então, pai e filho passaram a jogar juntos com um tipo de jogo como favorito de ambos. “Nós sempre gostamos de futebol. Ele é atleticano e eu coxa-branca. Então começamos a levar a rivalidade de dentro de casa para o game”, completa o pai. 
 
No início essa rivalidade também era para decidir entre qual das duas principais franquias de futebol virtual eles jogariam, pois apesar de gostarem do mesmo tipo de jogo, cada um tinha sua opção de título. No entanto, com o passar do tempo, o filho decidiu seguir a preferência de seu pai pelo Pro Evolution Soccer (PES) e a partir disso passou a se aprimorar para ganhar do pai e, principalmente para competir em campeonatos de videogame realizados na cidade. “Eu sempre perdia para ele e quando fui participar do primeiro campeonato comecei a ver vídeos no Youtube e treinar porque eu pensei assim: ‘Só jogo PES e só perco para o meu pai, então para o campeonato alguma coisa de diferente eu tenho que fazer’ (risos)”, relata Eduardo.
 
Foi justamente neste momento que esse enredo passou a ter uma proporção diferente. O gosto e a dedicação de Eduardo para participar de campeonatos virtuais de futebol foram tão grandes que o pai começou a apostar no talento do filho. “Eu incentivava ele e acreditava no talento dele. Então nós começamos a ir de Campo Largo para São Paulo, sete horas de viagem para chegar lá, jogar três horas de videogame e voltar embora sem ter nenhum retorno financeiro”, diz Adriano.
Apesar das dificuldades e dos obstáculos, o sentimento do pai estava mais do que certo e o talento de Eduardo começou a aparecer de maneira cada vez mais ascendente a partir de 2018, quando o jovem passou a figurar entre os melhores colocados nos grandes campeonatos estaduais e nacionais, chegando a disputar torneios e premiações com mais de 200 competidores de todas as regiões do Brasil, inclusive com transmissão de canais esportivos. Esse destaque e as conquistas nas competições fizeram com que o jogador, conhecido como Eduardinho no mundo dos games, passasse a representar equipes do futebol brasileiro, como Avaí, Botafogo e Vasco da Gama.
 
Mesmo com esse sucesso precoce na carreira de e-atleta do filho, Adriano conta o que percebe de mais importante em todos esses acontecimentos e eventos em que acompanhou o jovem: “O que mais me deixa realizado é ver a pessoa que ele está se tornando. Apesar de tudo que está em torno desse mundo competitivo, o vejo focado, se tornando um homem de caráter. Além de ser um parceiro para a vida inteira. É algo que não tem preço”, diz o pai.
 
Eduardo, da mesma forma, não mede elogios e agradece o pai por todo o apoio nesse início de carreira. “Desde pequeno ele sempre esteve do meu lado. Sempre me apoiou em tudo e isso fez toda diferença para mim. Ele apostou em um menino de 13 anos e não tenho nem como agradecer. Ele é um paizão”, finaliza o jogador.
 
 
Relação diária e para a vida toda
A história de Adriano e Eduardo demonstra que o fortalecimento das relações entre pais e filhos está diretamente relacionado ao envolvimento de ambos. Para a psicóloga e terapeuta Angélica Santos Neris, o vínculo se consolida diariamente em cada etapa da vida. “A relação é construída nas miudezas do dia a dia: na troca de fralda, no banho, no preparo do alimento, no consolo do choro, no brincar, no colo dado, no ninar, enfim, uma relação se constrói e se fortalece na vivência, na troca, no afeto, na presença, na constância”, diz ela.
 
 
Ainda segundo ela, essa aproximação pode acontecer por meios eletrônicos, mas não necessariamente, visto que o que realmente importa é a conexão que a ação proporciona. “O lúdico é a melhor forma de interagir com a criança, os recursos eletrônicos são meios pelo qual essa troca pode acontecer. Entretanto, o que contribui para melhorar a relação não são os eletrônicos em si, mas a escolha de uma atividade que seja prazerosa para pai e filho,” explica a psicóloga.