A amizade entre os policiais Luiz e Maykel foi fator determinante para salvar a vida de um homem que ateou fogo no próprio corpo em 2018
Nesta sexta-feira (30) é comemorado o Dia Internacional da Amizade, destinado para celebrar momentos de companheirismo e parceria entre as pessoas ao redor do mundo. Em Campo Largo, uma história em particular sobre parceria e afinidade no trabalho, transformou uma missão em um ato heroico, reconhecido pela corporação da Polícia Militar do Paraná.
Tudo começou com a parceria entre os soldados da Polícia Militar Maykel Carlo Pereira da Silva e Luiz Antonio Elias, que fizeram a mesma Escola de Soldados para entrar na corporação. Por questão de proximidade na maneira de pensar e afinidade, eles se tornaram amigos. Eles conseguiram salvar a vida de um homem que ateou fogo em seu próprio corpo e controlaram um incêndio em uma residência no dia 30 de dezembro de 2018. Na metade de julho deste ano, a Polícia Militar do Paraná, após 923 dias, deliberou por meio do excelentíssimo Sr. Comandante Geral da corporação a resposta do requerimento por Ato de Bravura.
Esse reconhecimento fez com que os soldados recebessem uma promoção à graduação superior, de Cabo, e mais do que isso, mostrar que o juramento da PMPR está sendo cumprido, como ambos afirmam, “defenderei com o sacrifício da própria vida”.
Como foi a ocorrência
“O Luiz e eu sempre trabalhamos juntos, mas no dia 30 de dezembro de 2018, que foi quando aconteceu a ocorrência em questão, não estávamos no mesmo serviço, cada um estava trabalhando com uma policial feminina. Ele com a policial Marin e eu com a soldado Ariane. Estávamos atendendo, fazendo os atendimentos normalmente, até que caiu um atendimento para a Ariane e eu fazermos ligado à Maria da Penha, no Jardim Esmeralda. A senhora solicitante relatava que o marido estava em casa, bastante agressivo e ela precisava de acompanhamento para tirar os pertences da casa dela, mas temia pela vida”, relata Maykel.
Quando chegou próximo do ponto de encontro combinado com a mulher, ela mostrou onde era a casa e ela contou que o marido estava dentro da casa. Neste momento a equipe chamou pelo homem para contar o porquê estavam ali. “Ele trancou tudo quando percebeu nossa aproximação e foi até a janela, dizendo que não queria contato, não queria o término da relação e estava bastante alcoolizado. Foi quando a senhora deu autorização para que nós pudéssemos entrar na casa e conversar melhor com ele. Nisso ele gritou comigo que não era para eu me aproximar, inclusive fazendo ameaças. Me espantei, porque não é algo tão comum”, continua.
Foi quando o policial deu mais um passo adiante que o homem jogou etanol em sua direção. O homem jogou parte do líquido no próprio corpo e em uma das mãos ele tinha dois isqueiros. Os policiais perceberam que o homem já havia jogado etanol também no sofá e em outras partes da casa. “Foi quando a policial Ariane acionou as outras equipes próximas, inclusive o Luiz e a Marin, que chegaram próximo da casa sem fazer alarde. Enquanto isso eu ia conversando com o homem, ganhando espaço para chegar mais próximo do homem. Isso já estava em 30 minutos de negociação”, relembra.
O policial contou que eles estavam em uma conversa amigável, embora o momento estivesse bastante tenso. O homem contou para o policial problemas pessoais graves que afligiam toda família e também sobre a dificuldade no relacionamento, enquanto isso o policial dava atenção e ao mesmo tempo já mantinha pensamentos estratégicos para conseguir fazer com que o homem desistisse de tirar a própria vida e o policial Luiz já estava preparado para ajudar também.
“Foi quando ele olhou para mim e disse ‘gostei de você policial, você me ouviu, mas para mim, deu. Eu vou me matar’. Então ele riscou o isqueiro e explodiu. Nós estávamos a centímetros de distância. Eu gritei para o Luiz se aproximar, o homem estava se debatendo em chamas, como em uma cena de filme, mas ele não queria ser resgatado, queria pegar fogo. Eu me abracei com o homem pegando fogo e conduzi ele até uma torneira que tinha no jardim da casa. Na adrenalina do momento eu nem percebi que meu braço e minha farda estavam pegando fogo também. Jogaram água tanto no homem, como em mim também”, relembra Maykel.
No policial as queimaduras foram de primeiro e segundo graus, mas não impediram de que ele entrasse na casa, junto com Luiz e Ariane para apagar o incêndio com baldes de água, pois o Corpo de Bombeiros ainda não havia chegado. Os vizinhos perceberam a mobilização e ajudaram trazendo mais baldes. A casa era de alvenaria, porém o forro de PVC e os móveis, que haviam sido ensopados com etanol acabaram queimando muito rápido, contribuindo para que as chamas tomassem conta do local. Após 1h10 minutos eles já haviam apagado o fogo, desligado a energia elétrica.
O homem sobreviveu, pois não inalou o calor no momento da explosão, o que poderia ter causado queimaduras nas vias aéreas. O Siate prestou atendimento às vítimas e aos policiais. O soldado Maykel ficou 32 dias afastado da corporação por conta das queimaduras e o soldado Luiz por sete dias.
Amizade foi essencial
O 1º Tenente e subcomandante da 3ª Cia do 17º Batalhão da Polícia Militar de Campo Largo, Marcos Antonio Gantzel Junior, conta que todo o processo foi avaliado pela PMPR e que os policiais foram muito prudentes na ação, por isso resultou no reconhecimento do trabalho. “No dia eu também estava em serviço e pude acompanhar todo o trâmite de documentação, especialmente de ocorrências que demandam de mais instrução, como foi essa.”
“Nós estávamos conversando depois da ocorrência que nós salvamos uma vida, impedimos que uma pessoa morresse ali. Eu não sei se fosse outro profissional, que eu conheço há menos tempo, eu teria coragem de fazer o que fiz naquele dia. Porque envolve a confiança, envolve a sua vida e de outra pessoa também. Nós nos conhecemos, só no olhar eu já sabia o que ele iria fazer, a forma como se movimentou, já sabia como eu deveria agir. Nossa amizade é assim”, descreve o soldado Luiz.
“Nós conhecemos as limitações um do outro, não somente nesta ocorrência, mas em outras abordagens também, que contamos com essa dinâmica de parceria no trabalho. Hoje não atuamos mais juntos, mas a afinidade e amizade não mudou em nada”, completa o soldado Maykel.
“Nosso primeiro objetivo era salvar aquela pessoa, garantir a vida dele. Nós como policiais temos que pensar e ter mais empatia com a pessoa que está ali na nossa frente, pedindo a nossa ajuda. Eles precisam da nossa ajuda também. Depois desta ocorrência eu mudei a minha postura, para não deixar tão mecanizada, mas ser mais ouvinte. Recebemos reconhecimento da nossa família, amigos, colegas de trabalho e da sociedade como um todo e isso é fundamental”, finaliza.