Não há como não ficar admirado com as residências antigas, que abrigaram famílias inteiras por décadas. Em Campo Largo, catálogo vem registrando casas antigas em vários bairros da cidade desde 2
Não há como não ficar admirado com as residências antigas, que abrigaram famílias inteiras por décadas.
A Folha de Campo Largo conversou com a diretora municipal de Cultura e historiadora, Lindamir Ivanoski, com o diretor de Ação Cultural, Ruben Tozeti da Silva, e com Vanderlei Viante, que falaram um pouco sobre as casas antigas da cidade e relembraram histórias.
Vanderlei Viante é apaixonado por fotografia, História e pelas construções antigas. Em 2018, criou um catálogo com 64 casas antigas, nos mais diversos bairros campo-larguenses, incluindo um arquivo com localização e fotografias destas casas. “Existem muito mais casas antigas além deste levantamento que eu realizei, principalmente no interior do município. Essa é uma maneira de valorizar e registrar a História da cidade de alguma forma.”
Grande parte das casas que foram visitadas por ele, ainda estão habitadas e a maioria ainda pertencem às famílias que as construíram. “Eu visito as casas somente por fora, não chego a entrar nelas para tirar fotos, mas posso dizer que a forma como elas foram construídas também trazem algumas informações sobre as origens das famílias”, comenta.
Algumas têm um toque mais da cultura polonesa, são mais coloridas, com jardins repletos de flores. “Nos países mais nórdicos, onde temos paisagens mais cinzas, com neve por períodos prolongados, nós encontramos justamente peças artísticas mais coloridas, com cores vivas e vibrantes. É o caso da Polônia, por exemplo. Geralmente eles fazem as casas com cômodos coloridos, alegres, pintam as janelas e têm um belo jardim durante o verão. Isso se mantém em algumas residências. Da mesma forma, conseguimos ver influência italiana nas construções, com a presença do porão. Ele é importante para uma boa conservação de vinhos, salames e queijos, por exemplo”, comenta Lindamir.
A historiadora segue explicando sobre as influências alemãs, marcados pelos telhados bastante inclinados – para evitar o acúmulo de neve na Europa – e com detalhes talhados em madeira. Já a construção portuguesa se destaca pelos azuleijos, usados tanto na parte interna como externa da casa, as paredes de pedra e as influências de movimentos artísticos, com a presença de molduras nas janelas, por exemplo.
Ruben acrescenta que as casas antigas são divididas entre porão, térreo e sótão. “O pé direito alto é uma característica bastante forte das casas mais antigas. Um exemplo é a construção do Museu de Campo Largo, que é um local onde você consegue visitar e observar o quão alto é o teto. Outro ponto marcante das construções mais antigas é a disposição da casa, que geralmente tem mais cômodos, que são maiores para abrigar famílias com mais filhos.”
Ter um paiol também é uma característica da região Sul do Brasil. No interior, a peça é usada para guardar ferramentas, produtos agrícolas, alimentos de animais e demais itens que a família não usa com frequência.
Quando se fala em construção e materiais usados para levantar as casas, os mais comuns eram as pedras, tijolos de barro e madeira.
Lei de proteção ao patrimônio histórico
Desde dezembro de 2018, Campo Largo conta com a Lei nº 3009, que dispõe sobre a proteção ao patrimônio cultural da cidade, o que inclui as construções antigas. De acordo com a própria lei, em seu artigo 3º, a “preservação do Patrimônio Cultural de Campo Largo é dever do Município e responsabilidade de todos os seus cidadãos, nos termos desta Lei e da legislação estadual e federal que a fundamenta. O Município deve instituir mecanismos de incentivo à valorização e preservação do Patrimônio Cultural através de campanhas educativas, compensações financeiras, isenções tributárias, apoio técnico e outros”.
A diretora explica que agora começaram a surgir alguns pedidos de tombamento na cidade. “Eles não chegam diretamente para nós, da Cultura, pois o Conselho Municipal de Política Cultural é quem analisa e dá o parecer para o tombamento. Qualquer pessoa pode indicar, mas isso não dá garantia do tombamento. É preciso passar por um estudo técnico, feito com arquitetos, engenheiros, antropólogo, historiador e demais especialistas, então será decidido se será dada sequência ao tombamento ou não”, explica Lindamir.
O processo também pode ser feito via inventário. Além disso, ele vem de encontro com alguns incentivos para a preservação do imóvel, que deve ter toda a documentação em dia e um responsável. Neste processo, é analisada toda a estrutura da casa, desde a sua fundação, para verificar se é possível restaurar e o que deve ser feito na restauração. Esse processo é necessário para garantir a segurança, especialmente para abertura de visitação, por exemplo, visto que há relatos de casas antigas que acabaram desmoronando, inclusive em Campo Largo. “Hoje não temos uma equipe técnica no município para analisar essas casas históricas. O prefeito Maurício Rivabem sugeriu então que nós fossemos organizando, a fim de acelerar o processo, como uma pré-análise das casas que podem vir a ser tombadas no futuro”, finaliza Lindamir.