Domingo às 24 de Novembro de 2024 às 12:00:09
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Psicopatia ou maldade: como a Psicologia vê cada um

Cerca de 1% da população mundial apresenta algum grau de psicopatia e 4% graus de sociopatia, diz psicóloga; crimes também podem ser cometidos sem fatores psicológicos envolvidos

Psicopatia ou maldade: como a Psicologia vê cada um

Na última semana, os brasileiros acompanharam o desfecho da história de Lázaro Barbosa, de 32 anos, apontado como autor de uma chacina contra uma família no Distrito Federal e vários outros crimes considerados bárbaros pela sociedade. Um dos primeiros pontos levantados, tanto pela sociedade, como pelos especialistas é que Lázaro apresentava traços de uma personalidade muito próxima da psicopatia. Conforme divulgado pelo site G1, o laudo feito em 2013 por especialistas enquanto ele estava em regime fechado pelos crimes de estupro, roubo e porte ilegal de arma, apontavam “’traços negativos’ no homem. A lista incluía ‘ausência de mecanismos de controle’, ‘dificuldade em canalizar e expressar emoções’, e ‘instabilidade emocional’”.

Mas o que classifica um psicopata? A Folha de Campo Largo conversou com a psicóloga  Dayane Corbari Bianchi Alves, que explicou mais sobre o assunto. “Psicopatia é uma condição definidora da personalidade antissocial, assim como a sociopatia. Estudos indicam que a psicopatia se origina principalmente por fatores genéticos. A Psicologia acredita que nem só a genética, mas também condições sociais, lesões cerebrais, lares desfeitos, perturbações de personalidade, abusos na infância, consumo de drogas, maus tratos físicos e psicológicos, rejeição e negligência familiar são fatores desencadeantes.”

A profissional segue descrevendo que psicopata se caracteriza por dificuldades em se relacionar, não possuem empatia, ou seja insensível aos sentimentos alheios, além de não aprender com experiências, não sente culpa ou remorso, não segue normas, regras e obrigações sociais, baixa tolerância a frustração e baixo limiar para descarga de agressão (violência), propensão em culpar os outros.

“Há tratamento, tanto médico quanto psicológico, porém esse tipo de paciente, em sua maioria não adere a terapêutica, justamente por não apresentar sofrimento e a incapacidade de identificar sentimento em relação ao dano causado ao patrimônio ou às pessoas. Cerca de 1% da população geral no mundo apresentam graus diferentes de psicopatia e convivem na sociedade. Vale ressaltar que a psicopatia é a forma mais severa do Transtorno de Personalidade Antissocial”, revela.

Outro transtorno bastante falado é a sociopatia. “Ambos sofrem de Transtorno de Personalidade Antissocial. Em relação à origem, a sociopatia estaria ligada a questões sociais e ambientais. Cerca de 4% da população geral apresenta graus diferentes de sociopatia, se relaciona com vulnerabilidades”, comenta.

Entre as diferenças, a psicóloga Dayane explica que os psicopatas não conseguem criar laços afetivos, são manipuladores, sedutores. Já os sociopatas criam laços e sentem culpa com pessoas próximas ou da família, porém o mesmo não é visto com frequência quando se trata de desconhecidos. “No psicopata o comportamento geralmente é planejado, calculado, enquanto no sociopata seus atos são agressivos e violentos deixando evidências por ter natureza impulsiva. O psicopata pode cometer crimes premeditados, em série, violentos, escondendo os fatos. O sociopata, por sua vez, comete crimes como lesão ao patrimônio público ou privado, furtos, roubos que podem ser com violência”, diz.

Psicopatia x Maldade
“Os crimes ocorrem independente de patologias”, define a psicóloga, explicando ainda que eles podem envolver fatores de ordem social, prisional, econômica, assistencial e educacional, que acabam influenciando mais a criminalidade do que possíveis doenças mentais.

“Grande parte dos atos de violência são cometidos por impulsos. Por questões subjetivas, muitos conseguem perceber a gravidade e a impossibilidade de reversão somente após o ato. Isso demonstra características comuns das pessoas que cometem crimes: baixa tolerância à frustração, que leva à impulsividade e rebaixada capacidade de compreensão”, destaca.
Dayane segue explicando que alguns teóricos como Freud acreditam que o mal existe nas pessoas. “Ele está no caráter, na personalidade e pode vir à tona ou não, diante de situações ou ambientes em que é criado, circunstâncias e contextos, não necessariamente ter um transtorno mental. Na Psicologia fala-se de traços de personalidade, não se trata de psicopatias, mas um conjunto desses traços que aparecem nas pessoas com baixos níveis de simpatia, honestidade e humildade. Um bom exemplo é o bullying. Aos poucos as crianças vão assimilando que o que fizeram é errado e com o processo educacional, que é longo, vão tendo noção de consequência. E isso só ocorre em um ambiente familiar e social adequado e saudável. Isso influencia no desenvolvimento de um adulto saudável”, diz.

Nem todo mundo é psicopata
A maneira como os transtornos psicológicos são tratados no cinema, televisão e literatura, pode interferir no conceito social destas pessoas. Por isso, Dayane ressalta que nem todas os transtornos psicológicos culminarão em psicopatia. “A hostilidade e intolerância com quem sofre de algum tipo de doença mental é o resultado do preconceito. Quando uma pessoa é dita como louca ou doida, quando não tem suporte familiar e de profissionais de saúde, ou mesmo a própria vergonha, dificultam o diagnóstico e a continuidade do tratamento”, explica.

Dayane explica que os transtornos mentais são alterações intelectuais, emocionais e/ou comportamentais e não têm uma causa específica, mas que são formados por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais e podem afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida. “Uma pessoa pode ser diagnosticada com um transtorno mental como o TOC e ainda ter sintomas de outros transtornos como a depressão, por exemplo. Em geral prevalecem sintomas de um e corrobora-se de outros. É importante o diagnóstico diferencial para indicação da melhor terapêutica a ser utilizada”, orienta.

Ainda, segundo a profissional, a vulnerabilidade, juntamente com os estresses da vida, por exemplo, problemas com a família ou trabalho, podem dar origem ao desenvolvimento de um transtorno mental. Luto, traumas ou situações de estresse intenso também podem desencadear um transtorno mental. “Em um ambiente familiar hostil, que apresente instabilidade como o abandono, abusos, privação emocional como a frieza, rejeição ou isolamento social/alienação, permissividade e indulgência, os indivíduos costumam sofrer maiores danos”, finaliza.