Embora o tema ainda seja tratado como um tabu ou sem profundidade por algumas pessoas, a discussão do mesmo traz a importante quebra do ciclo
O mês de junho é dedicado à conscientização sobre o trabalho infantil. De acordo com as informações do IBGE, divulgadas pela Prefeitura de Campo Largo, em 2020 aproximadamente 556 crianças e adolescentes foram vítimas de acidentes de trabalho, dados que consideram inclusive quedas e amputações. Entre 2012 e 2020, 46 crianças e adolescentes perderam suas vidas em acidentes envolvendo trabalho.
“O primeiro passo é desmistificar o trabalho infantil e diferenciá-lo do trabalho feito em casa, para ajudar a família. O trabalho feito em casa, com supervisão e com a participação de todos, é compatível com a idade da criança. Não oferece a ela riscos para sua integridade física ou causa danos para sua saúde a longo prazo. Entretanto, quando olhamos a situação de uma menina com 10, 12 anos, que precisa assumir o papel de dona de casa, cuidar dos irmãos, fazer a comida para todos, lidar com facas, panelas, panela de pressão, fogo, sem tempo para suas próprias atividades, isso é trabalho infantil”, explica a secretária Márcia Fabiani Botelho, responsável pela pasta de Desenvolvimento Social.
A secretária segue explicando que a situação agrava quando essas meninas precisam ir para casas de outras famílias trabalharem. “Elas acabam se submetendo a este trabalho para ganharem um salário irrisório. Isso também acontece com os meninos, que precisam ir trabalhar nas obras da construção civil aos 13 ou 14 anos, ou com ambos no interior do município, que vão para as roças desde muito cedo. Ainda existe a cultura de pensamento que ‘é melhor trabalhando do que na rua’, mas isso não é verdade. O melhor é ela estudando, realizando atividades compatíveis com a sua idade, brincando ou se aprimorando para conseguir quebrar o ciclo familiar no futuro”, diz.
Márcia comenta que o discurso ouvido ainda é “eu sempre trabalhei, mas nunca me aconteceu nada”, porém, muitas vezes esses adultos não compreendem o quanto aquela situação no passado impacta ainda hoje no presente. “Muitas pessoas sofrem traumas psicológicos, consequências do uso de agrotóxicos, problemas de coluna ou em outras partes do corpo porque foram submetidas a um trabalho que não estavam preparadas para executar. Além de perderem chances de brincar, de estudar, ter mais oportunidades no mercado de trabalho, entre outros. Isso é grave, porém hoje a sociedade está muito mais aberta e preparada para discutir temas que estavam encobertos, buscando soluções e disposta a evoluir”, reforça.
Sobre número de casos de trabalho infantil em Campo Largo, Márcia comenta que houve uma redução a partir de 2018, especialmente após campanhas de conscientização realizadas de maneira mais intensas na cidade. Ainda são recebidas, porém em menor número. O que mais aparece, especialmente durante a pandemia, são situações em que crianças precisam cuidar da casa sozinhas, principalmente porque as escolas estão fechadas – em decorrência da Covid-19 – e precisam cuidar dos seus irmãos e dos demais afazeres domésticos.
Ao receber as denúncias, elas são verificadas e toda a família é chamada para realizar acompanhamento no Cras, a fim de mudar a perspectiva de pensamento a cerca do trabalho infantil e ser conscientizada sobre as consequências de submeter seu filho ou seus filhos a estas funções.
Ações
Para atuar nesta luta de conscientização, a Secretaria de Desenvolvimento Social de Campo Largo realiza, durante todo o mês, ações em Campanha contra o Trabalho Infantil junto aos quatro CRASs e ao Centro da Juventude, onde são realizadas atividades com a comunidade de maneira online, lives com orientação, informação e abordagens por meio de blitz sobre a prática do crime do trabalho infantil e suas consequências.
O trabalho é realizado com todos os usuários dos Centros de Referência de Assistência Social e do Centro da Juventude como uma importante ferramenta de discussão, diálogo, conhecimento e informações sobre como ajudar e como denunciar.