“Bebês de pandemia precisam ser compreendidos. Eles nasceram em uma era completamente atípica”, diz Thauana, mãe de Vicente que nasceu em um parto de emergência, na noite em que era oficializada a pandemia de Co
Ser mãe é um momento muito esperado na vida de muitas mulheres. Aquela sensação de pegar um ser tão pequeno e indefeso no colo, com o amor incondicional de mãe para protegê-lo e proporcionar para ele as melhores coisas da vida são algumas das sensações mais esperadas durante a gestação. Desde o início da pandemia, em março de 2020 até janeiro de 2021, 2,3 milhões de crianças nasceram no Brasil, de acordo com a CNN Brasil. Com esses nascimentos, nasceu também uma nova maneira de encarar a maternidade neste período especial.
A advogada Thauana Loffler Gionedis foi uma das mamães que precisou encarar este desafio. Apesar de ter tido uma gravidez saudável, Thauana precisou ser submetida a uma cesárea de emergência um dia antes do início da pandemia no Brasil. “Minha gestação foi super tranquila. Eu estava bem psicologicamente e fisicamente: atividades físicas, espiritualidade, estudo sobre gestação e tudo que poderia fazer para me preparar para a chegada do meu bebê, eu fazia. Estava ciente da existência do vírus, mas confesso que jamais imaginei que chegaria ao Brasil da forma como foi.”
Ela relembra que Vicente, hoje com 01 ano e 01 mês, precisou nascer com 35 semanas e cinco dias, em decorrência de um descolamento de placenta. “Algo em mim sempre disse que ele nasceria antes do tempo; chamo isso de ‘instinto de mãe’. Minha placenta estava prévia parcial a gestação toda, mas, no 8º mês de gestação, eu comecei a sentir que ele chegaria logo, tive alguns sinais. Conversei com minha obstetra e repeti todos os exames, mas, para minha surpresa, a placenta ‘não estava mais prévia’. Ainda assim, não consegui respirar aliviada, porque aquela sensação continuava ali. Acertei, pois alguns dias depois levamos o maior susto de nossas vidas e quase perdemos ele e eu também”, relembra.
Ela conta que ele nasceu na noite de 14 de março de 2020, no mesmo dia em que jornais começaram a noticiar que o Brasil precisaria tomar medidas contra a transmissão do novo vírus, a Covid-19. “Na noite que ele nasceu, estávamos jantando com nossa família, sem qualquer restrição. Poucas horas depois, estávamos na maternidade sendo informados pelos médicos que não poderíamos receber visitas por questão de segurança. Foi um choque, parecia que não estávamos vivendo tudo aquilo. Viemos para casa após os dias na maternidade, e achávamos que a pandemia não se prolongaria por mais do que seis meses. O Vicente já fez 01 ano e nem sequer conheceu toda a família, que foram bastante compreensivos sobre a restrição às visitas”, comenta.
Thauana comenta que se sente um pouco triste em precisar criar seu bebê nestas circunstâncias, não podendo conviver com outras crianças, ver sorrisos sem máscaras e sem um contato mais próximo com a família. “Tentamos colocá-lo na natação há um tempo, por ser uma forma segura de esporte e desenvolvimento. Não deu certo, ele se assustou muito quando viu tantas crianças. Logo tentaremos novamente. Bebês de pandemia precisam ser compreendidos, eles nasceram em uma era completamente atípica”, diz.
“Estou em um grupo no Whatsapp e também converso com mães que têm bebês da mesma idade que o meu. É um consolo, porque trocamos ideias de atividades, conversamos sobre o desenvolvimento deles em meio à pandemia e conseguimos entender um pouquinho melhor até mesmo nossos sentimentos em relação a toda essa situação”, comenta. “Sobre coisas que eu sonho em fazer após a pandemia, fico imaginando como será almoçar com toda a nossa família reunida, passear em parques, ir à igreja, frequentar restaurantes. Tantas coisas que ainda temos para fazer”, completa.
Desafios do puerpério
e isolamento social
“O puerpério em si já é extremamente desafiador, e vivemos tudo isso sem uma rede de apoio maior para ajudar. Tive baby blues, a depressão pós-parto que acomete algumas ‘mães recém-nascidas’, e acredito que tudo tenha sido intensificado pela Covid-19. Em um dia estava vivendo minha vida grávida, tranquila, e já no outro dia, meu filho havia nascido, prematuramente. Nós estávamos os três isolados em casa com uma nova vida, rotina, choros, bebê que precisava ganhar peso e não tinha forças para mamar. Enfim, tudo absurdamente desafiador”, relembra.
A mãe decidiu iniciar a terapia e usa medicação para ajudá-la a enfrentar tudo isso. “Apesar de ter me tornado uma mulher mais forte, me sinto bastante insegura em algumas situações. Quando Vicente completou 08 meses, decidimos, pelo bem da minha saúde mental, contratar uma pessoa para me auxiliar em casa, pois meu marido trabalha o dia todo. Hoje conto com a ajuda e o Vicente vai em uma espécie de escolinha meio período, onde fica com mais um bebê de 03 anos fazendo várias atividades pedagógicas, o que acredito ser de extrema importância para ele, pois não tem contato com outras pessoas e crianças”, conta.
Thauana reconhece a importância da rede de apoio, ainda que reduzida neste período, formada principalmente pela sua mãe e sua sogra. “Admiro muito quem consegue lidar sozinha com a rotina de casa, trabalho, filhos, são todas muito guerreiras. Porém, eu já aceitei que não consigo dar conta de tudo”, comenta.
“Neste Dia das Mães eu desejo força e enfatizo que você, mãe, não está sozinha, por mais que muitas vezes seja esta a impressão que você tenha. Nós, mães, somos muito fortes e conseguimos superar qualquer desafio porque nossos filhos nos dão força para tanto. Tire um tempo do dia para você, faça alguma coisa que você gosta muito. Eu acredito muito em Deus, e sempre peço a Ele que continue abençoando a nós e nossos pequenos em meio a esta loucura toda, porque creio que Ele sabe o fim desde o princípio, e tudo vai se encaixar”, finaliza.