É preciso assertividade na gestão do tempo, com foco total na tarefa, evitando distrações, diz especialista
Não são poucos os relatos de trabalhadores que se sentem sobrecarregados durante o período de pandemia. Seja na área de Saúde - que atua na linha de frente e exige a exposição direta ao vírus, precisa lidar com o óbito de pacientes, entre outros -, o acúmulo de tarefas, especialmente das mulheres, que agora precisam dar conta de mais tarefas de trabalho, casa, filhos, atividades pedagógicas; a pressão social, com o aumento de preços, fechamento de empresas, lockdown, desemprego, preservação da sua própria saúde e distanciamento social. Tudo isso e vários outros fatores acabam gerando uma sobrecarga grande e impactando diretamente na saúde mental do trabalhador.
Todo esse excesso de trabalho, em um cenário que há mais de um ano tem se repetido, tem aumentado significativamente os casos de estresse, esgotamento mental e ansiedade, conforme explica Rafaela Costa, psicóloga e mentora de Gestão de Pessoas. “Esse é um resultado da nova rotina de todo mundo trabalhando e passando mais tempo em casa. Por outro lado, temos elevados casos de depressão advindas das incertezas e solidão que a pandemia trouxe para um outro grupo de pessoas. Para ambos os lados, é hora de cuidar da saúde mental.”
Desemprego e competitividade
Um dos fatores que pode contribuir para um abalo da saúde mental e sobrecarga maior nas funções é o sentimento de competitividade, visto o grande número de pessoas desempregadas no cenário atual, que já chega a 14 milhões de pessoas. “É inegável o fato de que o número de desempregados aumentou muito e isso faz com que a valorização do trabalho aumente muito. A competitividade é real, há muitas pessoas buscando uma oportunidade; então, mais do que nunca, é preciso entregar bons resultados no trabalho. Mas é importante lembrar que bons resultados se apresentam como aumento de produtividade. E, produtividade não tem a ver com carga horária maior, e sim com gestão do tempo”, ressalta a psicóloga.
Ela segue dizendo que muitas pessoas trabalham muito, aumentam a carga horária e os resultados não se ampliam. De acordo com a especialista, isso acontece porque há falta de assertividade na gestão do tempo.
“Boa gestão do tempo se faz com foco total na tarefa, lista de prioridades diárias e evitando distrações. Costumo dizer que sua capacidade de medir seu foco está na sustentação do que escolhe priorizar, isso porque ao focar na construção de um relatório, por exemplo, ter foco é depositar toda sua atenção na tarefa que está realizando e é justamente nesse momento que as distrações, como as redes sociais, sequestram sua atenção. Se você tem dificuldade de resistir a esse tipo de distração quando precisa dedicar sua total atenção a alguma tarefa, a minha sugestão é que você afaste essa distração de você”, orienta.
Uma sugestão dada por Rafaela é deixar o celular durante esse tempo fora do alcance das mãos ou no silencioso. Outra tática é estipular tempo de concentração e tempo de descanso com um alarme para marcar o tempo.
Empresas responsáveis pela saúde mental
Rafaela explica ainda que as empresas também têm sua parcela na responsabilidade pela saúde mental dos seus trabalhadores e que precisam criar um ambiente de diálogo aberto, para que a comunicação seja segura em caso de dificuldades. “É preciso ter franqueza na comunicação e na relação do colaborador para com seu líder sempre. Cabe às empresas, por meio de seus gestores, construírem essa ponte. Colaboradores estressados ou ansiosos geralmente têm metade do rendimento em suas tarefas. Então, é questão de sobrevivência para a organização fortalecer a saúde mental de seus colaboradores com campanhas e ações internas que ampliem o bem-estar psicológico, que desmistifique o tema saúde mental, que treine líderes para serem assertivos no relacionamento com seus liderados, que criem uma rede de apoio e comunidade para o acolhimento necessário que o momento de adaptação e mudança exigem”, orienta.
Ela segue explicando que é preciso também que os gestores reconheçam a importância da área de gestão de pessoas nesse processo, pois quando a organização é menor e não possui uma área voltada para o desenvolvimento de pessoas, é preciso buscar ajuda externa. “Afinal, seja uma organização de 10 ou de 100 colaboradores, a problemática de saúde mental do trabalhador é a mesma”, aponta.
Períodos de folga são para serem aproveitados
Rafaela explica que se desligar do trabalho nos momentos de descanso ou lazer é resultado de autogestão. Essa capacidade de conseguir gerenciar o tempo, o corpo e a mente é uma habilidade fundamental para qualquer pessoa ter sucesso e paz na vida. É a capacidade que te permite organizar sua vida e os diferentes papéis que tem a exercer ao longo do dia.
“Um exemplo é a qualidade do sono, que a Neurociência afirma estar diretamente ligada à nossa energia, memória e produtividade. Muitas pessoas vão dormir, deitam em suas camas e ficam repassando na mente o que elas têm que fazer no outro dia, ou dormem com o celular e ficam nas redes sociais até cair no sono. A questão é que isso faz com que nosso cérebro fique ativado, demoramos mais para dormir. Mesmo quando dormimos nosso cérebro não consegue de fato repousar e cumprir suas funções hormonais que precisam acontecer durante o sono. Acordamos cansados, doloridos e isso se repercute no nosso dia diminuindo nossa capacidade de memória, de resolução de conflitos e de sermos produtivos”, diz.
A solução para o impasse do exemplo citado pela psicóloga é fazer uma lista das tarefas do que precisa ser realizado no dia seguinte, o que fará o cérebro descansar durante o sono e ao ir deitar deixar seu celular na sala, para que ele não forneça estímulos para ficar acordado. “Autogestão é organizar sua agenda e seu foco para seguir um cronograma. E assim, reservar tempo para tudo que é importante na sua vida. Lembre-se de um dos maiores ensinamentos bíblicos que Jesus nos deixou em Eclesiastes 3: ‘Tudo tem o seu tempo determinado’”, acrescenta.