Os ucranianos são conhecidos por serem bastante ligados à religião. Conheça mais sobre a Comunidade Ucraniana de Campo Largo, que atualmente é formada por 80 famílias, e seus costumes
Conhecer profundamente as origens e transmiti-las de geração em geração é algo que ainda é bastante praticado para a Comunidade Ucraniana de Campo Largo, da qual fazem parte aproximadamente 80 famílias. Os ucranianos são conhecidos por serem bastante ligados à religião, seguindo principalmente o cristianismo ucraíno católico. Gostam de cantar e são ensinados a eles desde pequenos as músicas e posicionamentos vocais – primeira, segunda e terceira voz – pois não usam instrumentos. Gostam de visitar os membros da comunidade e têm uma gastronomia saborosa.
“Em Campo Largo, há mais de 70 anos, bispos e padres vinham visitar famílias ucranianas que vivem aqui. Quando essas famílias queriam participar de celebrações de missas no rito ucraniano, por exemplo, precisavam ir para Curitiba ou Araucária. Um casal de Araucária casou e veio morar em Campo Largo, então começaram a organizar algumas coisas aqui na região, pegaram o nome das famílias e o endereço e os padres iam nas casas para realizar as visitas. Minha família então começou a morar em Campo Largo e participar entre os anos de 1997 e 1998”, conta Lídia Halatiki de Faria, uma das organizadoras da comunidade que abraçou a causa.
Foi a pedido de Lídia que o Padre Gerson Rodrigues Brasil, pároco da Santa Cecília, cedeu a capela Nossa Senhora da Glória na Vila Campeze para as celebrações do rito ucraíno católico em Campo Largo. Após reuniões e muitas conversas, a primeira celebração foi realizada no dia 16 de julho de 2011, com participação de 11 famílias campo-larguenses de origem ucranianas. Atualmente, são realizados casamentos, batizados, catequese transliterada – escrita em Português com ensino das principais orações em Ucraniano – além de celebrações especiais como Bênção da Água, da Vela, da Cesta de Alimentos, da Páscoa, Frutos e Sementes, Natal, entre outros.
“Nós temos a Hailka em Campo Largo, que são canções encenadas e interativas, relacionadas com a chegada da primavera na Ucrânia e o período Pascal, que na cultura ucraniana é celebrado de maneira muito familiar e alegre. Lembra muito a Festa Junina brasileira. Temos também na cidade o Kolhadnekes, que são cantores que visitam as famílias no período do Natal, levando mensagens de paz e boas novas. É muito bonito”, comenta Lídia.
Hoje o responsável pelas celebrações é o padre Arcênio Krefer, que vem de Curitiba para realizar os ritos. Mas, com a pandemia, tudo tem sido transmitido online, o que permite os fiéis acompanharem de suas casas. Para aqueles que se interessarem em assistir, podem acompanhar a programação por meio do Facebook, através da página Igreja São Miguel Arcanjo Rico Ucraíno Católico – Campo Largo – PR.
A Comunidade ganhou um terreno para construir a própria igreja, mas esses são planos para médio a longo prazo.
Ela conta que a comunidade cresce mais a cada dia também por conta da divulgação feita. “Sempre que possível nós estamos divulgando para as comunidades campo-larguenses as nossas atividades. Eu sou professora e pedagoga, trabalhei em muitos projetos dentro da Educação, então sempre quando ia para uma escola perguntava se tinha descendente de ucranianos e pegava o contato para agendar uma visita. Embora nossa comunidade seja de pessoas descendentes de ucranianos, nós recebemos a todos que têm vontade de conhecer mais sobre essa cultura tão encantadora”, comenta.
Tradições pascais ucranianas
Uma das mais conhecidas tradições são as pêssankas, que têm origem no verbo pessaty, que significa escrever e não consiste apenas em pintar um ovo, mas escrever sobre ele uma mensagem promissora. Há vários grafismos com significados, bem como as cores, que geram um sentimento positivo em quem as vê. O trabalho artesanal traz consigo uma poesia, repleta de significados e essência. De acordo com estudos históricos, há indícios desta arte datados de mais de 3 mil anos a.C. O ovo simboliza o princípio de todas as coisas, a criação da vida, estando ele presente em todas as tradições religiosas, das mais antigas às mais contemporâneas.
A cesta de alimentos é composta pela pasca, que é o pão branco, salgado e decorado, que simboliza Cristo na Páscoa; babka, que é o pão doce simbolizando a alegria e a mãe de Jesus; carnes simbolizando o cordeiro imolado no Antigo Testamento; pêssankas e kranchankas que são os ovos artísticos e coloridos, símbolo da ressurreição e vida; Krin, que é a raiz forte e recorda o sofrimento de Jesus para a salvação; o requeijão representando a pureza e a beleza da alma em estado de graça santificante; a manteiga que lembra o cordeiro de Deus; a beterraba, chaga do pecado que Cristo lavou conforme as profecias; o sal, pois os seguidores de Cristo devem ser o sal do mundo e a toalha branca que cobre a cesta, que simbolizam os lençóis que Cristo foi envolto para ser sepultado. Essa cesta é abençoada na Sexta-Feira Santa.