Jaqueline Busmeyer precisou ficar mais de um mês internada, inclusive na UTI, e dá o seu relato de garra e fé na recuperação
No final de setembro de 2020, a Folha de Campo Largo contou a história de Jaqueline Busmeyer, uma campo-larguense de 28 anos, que à época estava grávida dos gêmeos bivitelinos Heitor e Otávio. A história dela chamou atenção pela sua rara condição e diagnóstico de Atrofia Muscular Espinhal Tipo 02, que a deixou na cadeira de rodas desde os 13 anos de idade e que causa “fraqueza muscular e hipotonia resultante da degeneração e perda dos neurônios motores inferiores da medula espinhal e do núcleo do tronco cerebral”, segundo o site Orpha.
Após quatro meses, Jaqueline dá nova entrevista à Folha para contar sobre o trabalho de parto difícil que teve e as complicações que a deixaram por mais de um mês internada, sem contato com a família, por conta dos procedimentos de segurança adotados em prevenção à Covid-19.
A gestação
“Minha gestação foi super tranquila. Engravidaria mais um milhão de vezes só pra curtir o barrigão (risos). Mas brincadeiras a parte, no começo nem parecia que eu estava grávida, pois não tive náuseas ou enjoos. O único fator preocupante foi no começo da minha gestação, estava com dois meses e meio quando ocorreu um sangramento. Fiquei desesperada, mas felizmente tudo correu bem. A médica pediu repouso absoluto por 15 dias e a partir de então a indicação era repousar, principalmente por ser gêmeos e demandar maiores cuidados”, relembra.
Como ficou grávida na época da pandemia, Jaqueline saía apenas para as consultas e exames. No final da gestação, como estava se sentindo melhor, com todos os cuidados, conseguiu fazer os ensaios fotográficos que tanto queria. Ao final da gestação, vieram os inchaços e o fôlego mais curto, mas nada que causasse preocupação na mamãe encantada com a gestação.
O parto de emergência
“Eu estava com 35 semanas e 05 dias. O parto não havia sido agendado, foi necessário realizar uma cesárea de emergência. A médica planejava levar a gestação o mais longe possível, e marcar a cesárea apenas a partir das 38 semanas. Na madrugada do dia 26 de setembro, na noite de sexta para sábado, minha bolsa estourou. Eu já havia passado o dia em estado de alerta, pois notei durante o dia que comecei a perder líquido, porém foram pequenos vazamentos. Naquela noite, meu namorado tinha vindo passar a noite comigo, estávamos dormindo quando de repente acordei. Senti que a bolsa tinha estourado. Acordei ele e logo ele já foi até o quarto dos meus pais para chamá-los e irmos para a UPA”, relembra.
Após chegar na UPA, Jaqueline foi encaminhada para o hospital e neste trajeto começou a sentir contrações e dores que começaram a aumentar cada vez mais, além de forte dor de cabeça. O parto começou a ser realizado na manhã do dia 26 de setembro e ela não conseguiu acompanhar o procedimento, pois inúmeras tentativas sem sucesso de aplicar a anestesia local, foi necessário aplicar anestesia geral.
“Fiquei sozinha na sala de parto, pediram para minha mãe se retirar. Os bebês nasceram deprimidos e seguiram para a UTI Neonatal. Após o parto começaram as complicações. Eu tive eclâmpsia, que gerou uma convulsão e depois uma parada cardíaca. Com a aplicação da anestesia geral, foi necessário realizar a intubação”, conta.
Nesse processo de intubação e extubação, Jaqueline conta que ocorreu a chamada fístula traqueosofágica, que é a comunicação anormal entre a traqueia e o esôfago. Esta condição provoca a entrada de alimentos e líquidos do esôfago para a traqueia e desta para os brônquios e pulmões, provocando o afogamento durante a ingestão de líquidos e de alimentos. Por conta dessa complicação, ela precisou ficar em coma induzido na UTI até o dia 12 outubro.
“Acredito que por bênção de Deus e intercessão de Nossa Senhora Aparecida acordei no dia 12. Permaneci na UTI até o dia 23 de outubro, que foi quando me transferiram para a enfermaria. Dia 26 recebi alta”, diz.
As complicações não tiveram relação com a AME, segundo Jaqueline, e o único impeditivo pelo qual não conseguiu receber anestesia local foi uma cirurgia na coluna que fez quando adolescente, para correção da escoliose. Conforme foi contato a ela, toda vez que a anestesia era aplicada a agulha acabava atingindo alguma das hastes de metal ou parafusos que têm na coluna.
“Eu não tive contato com meus pais, meus filhos ou meu marido no período em que estive na UTI. Logo na primeira semana, quando ainda estava em estado grave na UTI, foi permitido aos meus pais e meu marido uma única visita para que pudessem se despedir de mim. Como eu estava em coma, não me lembro de nada. Somente no dia 23 de outubro, quando fui para a enfermaria, que meu marido pode me visitar e passar a noite comigo. No outro dia, quando foram fazer a troca de acompanhante, os médicos permitiram que meus pais subissem com meus filhos para eu conhecê-los. A emoção tomou conta de mim quando os vi pela primeira vez, chorei desesperada. Eu esperei muito por aquele momento, pois dia após dia meu único pensamento eram meus filhos”, relembra.
A alta hospitalar
A alta hospitalar veio no dia 26 de outubro, mas Jaqueline precisou ainda usar a traqueostomia e jejunostomia. “Esse período em casa foi bastante árduo, até liberarem a ingestão de alimentos no dia 29 de dezembro, pois por causa da fístula traqueosofágica fiquei todo esse tempo me alimentando exclusivamente por sonda, sem nem mesmo poder beber um copo de água. Sobreviver a tudo o que me aconteceu foi realmente um milagre”, afirma.
O próximo e último exame será realizado no dia 27 de janeiro, se tudo ocorrer bem, Jaqueline estará de alta total, sem precisar de mais nenhum acompanhamento em decorrência das complicações do parto.
“Levo disso tudo a experiência de viver um milagre e gratidão a Deus por me conceder o dom da vida e permitir que eu acompanhasse o crescimento dos meus filhos, pois eu não aceitava partir sem antes vê-los. Pessoas de todo o Brasil em orações, meu muito obrigada”, finaliza.
Quem quiser acompanhar mais da rotina dela e dos gêmeos, pode acompanhar no Instagram @jaquebusmeyer e @gemeosbusmeyerbairros.