Contato constante com as notícias relacionadas à morte fez com que muitas pessoas refletissem até mesmo a forma como elas enxergam suas vidas
A humanidade vive um momento bastante histórico e até mesmo dramático com a pandemia causada pela Covid-19. Há meses convivemos com várias notícias ligadas a números de pessoas infectadas e, especialmente casos de mortes, que fizeram com que muitos vissem a sua própria vida com outros olhos. Este Dia de Finados terá para muitas pessoas um significado diferente, pois perderam seus entes queridos em 2020.
Mirella Carletto Silva, psicóloga clínica, terapeuta cognitivo comportamental e terapeuta do luto infantojuvenil e adultos (CRP 08/22278), explica que o ser humano enxerga a morte de uma maneira muito particular. “Fatores culturais, históricos, religiosos, vínculo afetivo, tempo em que se vive, a forma de viver e de como ocorreu a morte são formas que influenciam na assimilação e elaboração do luto. Cada pessoa expressa seus sentimentos referentes a morte de forma singular.”
Ao decorrer do ano, as pessoas foram expostas a centenas de imagens que provocaram muitos gatilhos emocionais, como a passagem dos caixões em ruas italianas, o colapso no sistema funerário no Equador e as mais de mil mortes diárias no Brasil, Estados Unidos e outros países, quando somado ao isolamento social e uma interação social com menor intensidade, acabaram gerando, de certa forma, um impacto no aspecto emocional das pessoas, conforme explica Mirella.
“Acredito que todas as experiências envolvendo as mortes neste ano impactaram muito em nossos sentimentos.
Neste momento, pudemos perceber o quanto somos vulneráveis a situações que fogem ao nosso controle. O distanciamento social nos mostrou o quanto estávamos pensando somente em nós mesmos, aprendemos o quanto é dolorosa a saudade e o quanto necessitamos do calor humano. Desta forma, devemos aproveitar os pequenos momentos da vida, em conjunto com nossos entes queridos”, enfatiza.
Empatia pelo outro
Existem pessoas que são extremamente sensíveis ao assunto, tanto porque preferem não ouvir sobre ele, mas também aquelas que sofrem por pessoas que faleceram, sem as conhecerem, sejam elas pessoas famosas ou anônimas, que tiveram uma vida ou morte complicada, o que é considerado normal pela Psicologia, conforme explica a especialista. “Nestas situações, ocorre a comoção pelo luto coletivo, que poderá causar sentimento de choque e descrença, nos sentimos mobilizados emocionalmente mesmo quando não temos intimidade com as vítimas, porque temos empatia pela dor do outro, reagimos à imagem do sofrimento alheio.
Ela diz ainda que existe o perfil de pessoas que são interessadas por assuntos relacionados à morte, o que também não é considerado anormal desde que não seja em excesso. “Não será saudável a partir do momento, em que trouxer desconforto e que seja percebida a ênfase somente em assuntos relacionados”, pondera.